17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

E o certo é que o povo, guiado por aquilo a que <strong>Plutarco</strong> chama uma<br />

«<strong>de</strong>magogia transigente e por vezes branda, qual melodia orida e <strong>de</strong>licada»,<br />

foi a<strong>de</strong>rindo à sua causa; Tucídi<strong>de</strong>s acabou exilado e Péricles senhor <strong>de</strong> Atenas,<br />

o que comprova a teoria romana do efeito obtido pela política do pan<strong>em</strong> et<br />

circenses 67 ( Juv. 10. 81): quando t<strong>em</strong> comida e diversão, a populaça é toda<br />

sorrisos e apoios 68 ; só quando esses bens <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong> falham é que<br />

ela revela a sua verda<strong>de</strong>ira natureza.<br />

Mas esta estratégia <strong>de</strong>magógica <strong>de</strong> favorecimento 69 do povo cessa tão logo<br />

Péricles ganha a conança das massas e um lugar seguro no governo 70 (cf. Per.<br />

15. 1). Nessa altura, o lobo <strong>de</strong>spe a pele <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro, como qualquer político que,<br />

<strong>em</strong> fase <strong>de</strong> campanha, a tudo diz que sim e que uma vez no po<strong>de</strong>r, esquecendo<br />

as promessas, age <strong>de</strong> modo a obter a sua satisfação pessoal, isto é, zela pelo<br />

seu próprio proveito, colocando-o à frente do b<strong>em</strong>-estar geral. Contudo, ao<br />

contrário do político comum, o «nosso» passa a agir como <strong>de</strong>ve um <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Estado</strong> rigoroso e consciente da sua missão, à boa maneira do que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m<br />

Platão e <strong>Plutarco</strong>. E a música que Péricles antes dava ao povo muda <strong>de</strong> estilo,<br />

pois este passa a tanger<br />

224<br />

<br />

71 (Per. 15. 1)<br />

“as cordas <strong>de</strong> um governo aristocrático e régio que usou com as melhores<br />

intenções <strong>de</strong> modo justo e inexível.”<br />

67 Em Moralia 802D-E, o biógrafo critica os lí<strong>de</strong>res que atra<strong>em</strong> o povo pela barriga, pela<br />

bolsa e através da organização <strong>de</strong> espetáculos. Tal comportamento – arma – é próprio para lidar<br />

com animais e não com pessoas, que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser persuadidas através da eloquência. Em Moralia<br />

821F, arma que essas concessões são carinhos <strong>de</strong> prostitutas, a qu<strong>em</strong> o povo conce<strong>de</strong>, <strong>em</strong> troca<br />

<strong>dos</strong> serviços presta<strong>dos</strong>, uma glória efémera e inconstante. Po<strong>de</strong>mos mesmo armar que existe<br />

um padrão comparativo entre o comportamento <strong>de</strong> um mau político (que apenas incentiva o<br />

que a natureza do povo t<strong>em</strong> <strong>de</strong> pior – Moralia 822C) e um comportamento sexual impróprio (cf.<br />

Moralia 785D-F, 788E, 790C). Sobre este assunto, leia-se Trapp (2004: 116).<br />

68 Apoia Péricles contra o Areópago (Per. 9. 3; vi<strong>de</strong> infra p. 236), exila Címon (Per. 9. 4; infra<br />

p. 202) e Tucídi<strong>de</strong>s (Per. 14. 3; infra pp. 203-216).<br />

69 Este apoio excessivo ao povo contribuiu para uma profunda separação das classes, como<br />

ca implícito <strong>em</strong> Per. 11. 3- 4.<br />

70 Cf. Plu. Moralia 800A, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o político <strong>de</strong>ve tentar modicar o caráter<br />

<strong>dos</strong> concidadãos quando já goza <strong>de</strong> inuência e conança junto daqueles e Phoc. 3. 1, segundo o<br />

qual o verda<strong>de</strong>iro político só ce<strong>de</strong> aos <strong>de</strong>sejos da populaça quando esse é o método mais fácil <strong>de</strong><br />

conseguir o que é melhor para os concidadãos. Disso mesmo é ex<strong>em</strong>plo a <strong>de</strong>scida do preço do<br />

trigo, proposta por Catão o Jov<strong>em</strong> ao Senado para evitar que o povo a<strong>de</strong>risse à causa <strong>de</strong> César<br />

(Ca. Mi. 26. 1).<br />

71 A terminologia que <strong>Plutarco</strong> usa neste passo é <strong>de</strong> inuência aristotélica (Pol. 1289a26-b26).<br />

Cf. Stadter (1989: 189). Em <strong>Plutarco</strong>, é frequente ver a ação do <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> comparada<br />

à <strong>de</strong> um músico, que procura reverter as dissonâncias com doçura, conferindo às cordas mais<br />

ou menos tensão, consoante as circunstâncias. Desta forma <strong>de</strong> governar <strong>em</strong> <strong>de</strong>mocracia nos dão<br />

test<strong>em</strong>unho, por ex<strong>em</strong>plo, Moralia 809E, 827A-B, Phoc. 2. 7-9, Num. 23. 6.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!