17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte I<br />

armações que faz. Quanto aos acontecimentos que evoca – <strong>de</strong> forma rigorosa<br />

e quase s<strong>em</strong>pre isenta –, opta apenas pelos que serv<strong>em</strong> o seu propósito (o<br />

que exclui a reprodução <strong>de</strong> discursos, pormenores cronológicos, a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong><br />

campanhas militares ou <strong>de</strong>cisões e triunfos políticos e os excursos geográcos,<br />

típicos da historiograa) e prefere aqueles que aceita como históricos e<br />

verídicos 32 . Como ele próprio arma no prólogo da Vida <strong>de</strong> Teseu, procurou<br />

s<strong>em</strong>pre cingir os seus estu<strong>dos</strong> a guras cujas vidas <strong>de</strong>correram <strong>em</strong> perío<strong>dos</strong><br />

ti<strong>dos</strong> como históricos e não mitológicos 33 . No entanto, por vezes, como no <strong>caso</strong><br />

do par Teseu/Rómulo, sacrica esses princípios <strong>em</strong> prol do seu objetivo maior.<br />

O cerne do probl<strong>em</strong>a é esse, precisamente. Embora biograa e história<br />

tivess<strong>em</strong> ambas um objetivo essencialmente didático, direcionavam-se para<br />

campos opostos. Logo no princípio do Livro 1 da sua História da Guerra do<br />

Peloponeso (uc. 1. 22. 4), Tucídi<strong>de</strong>s arma categoricamente que escreve<br />

aquele texto para que as gerações vindouras possam conhecer a sucessão<br />

<strong>dos</strong> acontecimentos (logo, há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os <strong>de</strong>screver e explicar 34 com<br />

pormenor) e as causas da maior guerra <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os t<strong>em</strong>pos e para que, na posse<br />

<strong>de</strong> da<strong>dos</strong> imparciais, possam retirar as suas conclusões e fazer os seus juízos.<br />

No fundo é esse o sonho <strong>de</strong> todo o professor ou educador: que os seus pupilos,<br />

após ter<strong>em</strong> recebido os conhecimentos básicos, tenham capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir e<br />

pensar pelos seus próprios meios.<br />

No <strong>caso</strong> da biograa – e especialmente no das Vidas Paralelas – o<br />

objetivo didático consistia <strong>em</strong> contribuir para a formação moral <strong>dos</strong> leitores<br />

e do próprio autor, através da recordação <strong>dos</strong> gran<strong>de</strong>s homens do passado e<br />

da análise das suas qualida<strong>de</strong>s 35 . Assim, po<strong>de</strong>mos dizer que <strong>de</strong> alguma forma<br />

a biograa é um compromisso entre a história e a ética. <strong>Plutarco</strong> queria que<br />

32 Na Vida <strong>de</strong> Címon (2. 2), por ex<strong>em</strong>plo, sugere que acima <strong>de</strong> tudo importa basear o relato<br />

<strong>em</strong> acontecimentos verídicos: <br />

<br />

. Parece-nos ser uma<br />

imag<strong>em</strong> mais bela aquela que reproduz o caráter e a conduta do que a que imita o corpo e o<br />

rosto; por isso ir<strong>em</strong>os retratar neste tomo das Vidas Paralelas as acções <strong>de</strong>ste <strong>hom<strong>em</strong></strong>, contando<br />

a verda<strong>de</strong>.<br />

33 es. 1. 2<br />

(…). Assim eu, ao escrever as<br />

Vidas Paralelas, percorri as épocas <strong>em</strong> que as teorias se po<strong>de</strong>m testar com argumentos e o relato<br />

se po<strong>de</strong> test<strong>em</strong>unhar com factos.<br />

34 Cornélio Nepos, <strong>em</strong> Pelópidas I, também aponta esta necessida<strong>de</strong> como principal diferença<br />

entre historiograa e biograa: o relato histórico procura explicar os acontecimentos (e, por<br />

isso mesmo, como já se referiu, por vezes evoca as qualida<strong>de</strong>s ou <strong>de</strong>feitos <strong>dos</strong> indivíduos como<br />

justicativa <strong>de</strong> ações e opções), o biográco não: Vereor, si res explicare incipiam, ne non uitam eius<br />

enarrare, sed historiam ui<strong>de</strong>ar scribere.<br />

35 A diferença <strong>de</strong> objetivos, e consequent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> méto<strong>dos</strong>, entre historiograa e<br />

biograa – que aqui surg<strong>em</strong> representadas por Tucídi<strong>de</strong>s e <strong>Plutarco</strong> respetivamente – teve como<br />

consequência óbvia um produto nal distinto, como nos diz Stadter (1989: liii), “ucydi<strong>de</strong>s<br />

analysis is truer and <strong>de</strong>eper, but Plutarch allows us to consi<strong>de</strong>r the man behind the strategy.”<br />

24

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!