17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

Curiosamente, apesar <strong>de</strong> ter adoptado medidas con<strong>de</strong>nadas pelos gran<strong>de</strong>s<br />

teóricos (já que, como qualquer político que se preze, fomentou a constante<br />

organização <strong>de</strong> festas, solenida<strong>de</strong>s, espetáculos e banquetes para to<strong>dos</strong> os<br />

gostos), também teceu um plano <strong>de</strong> incentivo à ocupação profícua do povo 63 ,<br />

que, <strong>em</strong>bora não seja abertamente elogiado por <strong>Plutarco</strong>, parece merecer a sua<br />

anuência (Per. 11. 6, 12. 5). Foi com esse intuito que promoveu a formação<br />

<strong>de</strong> mercenários e a colonização como forma <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sfazer <strong>dos</strong> inativos que<br />

po<strong>de</strong>riam querer prejudicar as suas reformas políticas, aproveitando para<br />

diminuir a miséria e conter possíveis revoltas <strong>dos</strong> alia<strong>dos</strong> 64 (Per. 11). Além<br />

disso, <strong>de</strong>u impulso às obras públicas 65 para<br />

<br />

<br />

(Per. 12. 4)<br />

“proporcionar todo o tipo <strong>de</strong> trabalho e necessida<strong>de</strong>s diversas, que, ao incitar<br />

as várias artes e ao pôr <strong>em</strong> movimento todas as mãos, darão <strong>em</strong>prego à cida<strong>de</strong><br />

quase inteira, que se auto-<strong>em</strong>beleza ao mesmo t<strong>em</strong>po que se alimenta com os<br />

próprios recursos.”<br />

Foi assim que, contrariando as acusações <strong>de</strong> que foi alvo 66 , segundo Per. 12. 5,<br />

o estadista provi<strong>de</strong>nciou o sustento para to<strong>dos</strong> os cidadãos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente<br />

da ida<strong>de</strong> ou condição (Per. 12. 6), pois queria melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>dos</strong><br />

Atenienses s<strong>em</strong> pactuar com pagamentos pelo ócio e inativida<strong>de</strong>. Mais, queria<br />

que to<strong>dos</strong> beneciass<strong>em</strong> por igual do tesouro público, tanto os que cavam<br />

como os que partiam <strong>em</strong> missão, facto revelador <strong>de</strong> que, à sua maneira, também<br />

Péricles era a<strong>de</strong>pto da tão proclamada igualda<strong>de</strong> <strong>ateniense</strong>.<br />

63 Esta preocupação <strong>de</strong> Péricles <strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r um sustento digno aos menos favoreci<strong>dos</strong> é<br />

comparável à <strong>de</strong> Sólon, que conce<strong>de</strong>u dignida<strong>de</strong> aos mesteres para ocupar a multidão ociosa<br />

e indolente. Cf. Sol. 22. 3. Do mesmo modo, o objetivo <strong>de</strong> não dar azo ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m com recurso à ocupação do povo é s<strong>em</strong>elhante ao <strong>de</strong> Teseu com a<br />

divisão da população <strong>em</strong> classes (cf. p. 96). Fica, portanto, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma certa inuência do<br />

fundador sobre o comportamento preventivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sacatos, por parte <strong>de</strong> alguns daqueles que<br />

são aponta<strong>dos</strong> como ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> bons políticos. Alcibía<strong>de</strong>s não parece mostrar preocupações<br />

similares, pelo que, ao que a esta característica diz respeito, <strong>de</strong>stoa não só do mo<strong>de</strong>lo familiar<br />

como do «nacional».<br />

64 Sobre esta política <strong>de</strong> Péricles, vi<strong>de</strong> Lewis (1992: 59-60).<br />

65 Foi Isócrates (15. 234) que atribuiu as construções do século V a.C. à responsabilida<strong>de</strong><br />

individual <strong>de</strong> Péricles, que interpreta como manifestação da vonta<strong>de</strong> imperialista <strong>de</strong> Atenas (7. 66).<br />

Em Arist. 25. 9, <strong>Plutarco</strong> dá-nos conta das críticas que Platão fez às obras <strong>de</strong> <strong>em</strong>belezamento <strong>de</strong><br />

Atenas, quando arma que o fundador da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong>fendia que Aristi<strong>de</strong>s havia sido superior a<br />

outros políticos, nomeadamente Péricles, que encheram a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pórticos, riqueza e frivolida<strong>de</strong>s,<br />

ao passo que o lho <strong>de</strong> Lisímaco governou tendo <strong>em</strong> vista a virtu<strong>de</strong>. Sobre as obras, t<strong>em</strong>a que<br />

<strong>Plutarco</strong> aborda <strong>em</strong> Per. 12-14, vi<strong>de</strong> infra p. 253 sqq. e Lewis (1992: 167, 175, 448).<br />

66 Cf. supra p. 218 sqq.<br />

223

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!