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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

que se po<strong>de</strong> apontar à conduta do estadista, responsável, segundo Platão 57 , não<br />

pelo incr<strong>em</strong>ento do caráter do povo mas pela sua corrupção (Per. 9. 3<br />

) e progressiva ruína, já que o tornou<br />

222<br />

<br />

“esbanjador e libertino, <strong>em</strong> lugar <strong>de</strong> ser pru<strong>de</strong>nte e trabalhador.”<br />

No entanto, a <strong>de</strong> Péricles acaba por se revelar louvável 58 , se<br />

tivermos presente o difícil equilíbrio entre <strong>de</strong>magogia e mo<strong>de</strong>ração. <strong>Plutarco</strong><br />

parece, <strong>de</strong> facto, enaltecer esta dicotomia <strong>de</strong> difícil controlo, na medida <strong>em</strong> que,<br />

sendo o povo instável, Péricles fazia b<strong>em</strong> <strong>em</strong> tentar manter-se no po<strong>de</strong>r, pois<br />

ninguém melhor do que ele – com a sua mo<strong>de</strong>ração – po<strong>de</strong>ria orientá-lo.<br />

A segunda vez que Péricles envereda pelo caminho da <strong>de</strong>magogia 59<br />

não é mais do que um prolongamento da primeira, pois, mal conseguiu<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>baraçar-se do Areópago 60 e <strong>de</strong> Címon, foi presenteado pelos aristocratas<br />

com outro rival à altura, Tucídi<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Alópece 61 . Desta feita, como a luta fosse<br />

mais renhida, Péricles vê-se forçado a contrariar ainda mais a sua natureza<br />

aristocrática (a que já nos referimos na página 210) e a afrouxar<br />

62 <br />

“as ré<strong>de</strong>as do povo mais do que <strong>em</strong> qualquer outra ocasião.”<br />

57 Grg. 515e-516e.<br />

58 São diversos os momentos <strong>em</strong> que o biógrafo faz o elogio da conduta política <strong>de</strong> Péricles<br />

<strong>em</strong> Moralia 759D, 784E, 789C, 800C, 802C, 826D, passim.<br />

59 O recurso a esta estratégia não foi, como é óbvio, uma arma apenas utilizada por Péricles.<br />

Segundo Plu. Nic. 3, Nícias ultrapassava to<strong>dos</strong> os antecessores nas inúmeras ofertas que fazia<br />

ao povo para rivalizar com Cléon pelos favores das massas. Aristófanes faz a caricatura <strong>de</strong>sta<br />

atitu<strong>de</strong> como própria do <strong>de</strong>magogo i<strong>de</strong>al <strong>em</strong> Eq. 870-911.<br />

60 Sobre a ação <strong>de</strong> Péricles e Ealtes contra o Areópago, vi<strong>de</strong> infra p. 236 sqq.<br />

61 Como já vimos supra p. 191, nota 1. Péricles, no entanto, teria a noção <strong>de</strong> que seria o<br />

vencedor <strong>de</strong>sta disputa, por causa da interpretação que Lâmpon fez do corno <strong>de</strong> um carneiro<br />

unicorne trazido da proprieda<strong>de</strong> do lho <strong>de</strong> Xantipo (Per. 6. 2).O po<strong>de</strong>r (já que o corno era<br />

visto como um símbolo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança) acabaria nas mãos daquele que tinha recebido<br />

o sinal. As anomalias da natureza eram consi<strong>de</strong>radas prodígios que po<strong>de</strong>riam revelar os <strong>de</strong>sejos<br />

e as intenções <strong>dos</strong> <strong>de</strong>uses. Quanto a Lâmpon, era um adivinho <strong>ateniense</strong> e amigo <strong>de</strong> Péricles,<br />

que participou, <strong>em</strong> 443 a.C., na expedição à Magna Grécia que tinha por intuito fundar a<br />

colónia <strong>de</strong> Túrios. Os comediógrafos não per<strong>de</strong>ram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atacá-lo por ser um<br />

mantis (aquele que é consi<strong>de</strong>rado capaz <strong>de</strong> interpretar os sinais <strong>dos</strong> <strong>de</strong>uses, mas que não ocupa<br />

cargo ocial na máquina do <strong>Estado</strong>) e um gran<strong>de</strong> comilão, já que tinha o direito <strong>de</strong> comer no<br />

Pritaneu a expensas públicas (cf. Ar. Nu. 332, Av. 521, 987-988; Cratin. fr. 66 K.-A). Po<strong>de</strong>mos,<br />

portanto, consi<strong>de</strong>rá-lo mais uma vítima indireta <strong>dos</strong> ataques a Péricles, ainda que <strong>Plutarco</strong> não<br />

o mencione com o intuito <strong>de</strong> fornecer tal informação.<br />

62 Per. 11. 4. Cf. infra p. 228, nota 92.

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