17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

às mais diversas mistoforias e subsídios, nomeadamente o 51 , e foi<br />

incentivada a formar cleruquias 52 .<br />

Esta é talvez a única circunstância <strong>em</strong> que se serve do cargo <strong>em</strong> seu benefício,<br />

ao contrário <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, que foi acusado <strong>de</strong> se aproveitar da sua posição por<br />

diversas ocasiões 53 . Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser interessante notar que <strong>Plutarco</strong>, citando<br />

Aristóteles 54 , arme que Péricles não o fez por iniciativa própria e sim a conselho<br />

<strong>de</strong> Damóni<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Ea 55 . O facto é que esta cedência do discípulo <strong>de</strong> Anaxágoras<br />

causava algum <strong>em</strong>baraço ao Queroneu (que critica a distribuição <strong>de</strong> fun<strong>dos</strong><br />

públicos como meio <strong>de</strong> conquistar as massas 56 ), pois é uma das poucas máculas<br />

51 Trata-se do fundo do <strong>Estado</strong> com que se nanciavam as festas públicas e com que se provia<br />

o pagamento <strong>de</strong> dois óbolos aos cidadãos pobres, para que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> assistir às representações<br />

dramáticas. No entanto, a atribuição <strong>de</strong>sta medida a Péricles é controversa, pois só t<strong>em</strong>os<br />

informações sobre este subsídio a partir do século IV. Sobre esta probl<strong>em</strong>ática, vi<strong>de</strong> Stadter<br />

(1989: 111). Assim, é provável que <strong>Plutarco</strong> se referisse a um aumento do valor do ,<br />

que certamente agradaria ao povo. Sobre este fundo e as outras mistoforias, leia-se Lewis (1992:<br />

29, 101-104) e Mossé (1979: 474).<br />

52 Nos territórios que foram libertando do domínio bárbaro ou naqueles que tentavam<br />

abandonar a Simaquia <strong>de</strong> Delos, os Atenienses estabeleceram cleruquias, que eram lotes <strong>de</strong> terras<br />

distribuí<strong>dos</strong> aos cidadãos <strong>de</strong> Atenas. Aí, os próprios clerucos cultivavam as suas proprieda<strong>de</strong>s<br />

(ou recebiam rendas <strong>dos</strong> antigos donos que se tornavam seus granjeiros) e exerciam funções<br />

militares. Os clerucos mantinham a cidadania <strong>ateniense</strong>, ao contrário do que acontecia nas<br />

colónias (), que constituíam uma totalmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da metrópole (cf. D. S.<br />

11. 88. 3). No entanto, as cleruquias possuíam órgãos locais <strong>de</strong> governo, cuja existência é atestada<br />

por documentos epigrácos. Este fenómeno, que teve início nos nais do século VI a.C., atingiu<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento máximo no século V a.C.; foi através <strong>de</strong>le que os Atenienses conseguiram<br />

conciliar a heg<strong>em</strong>onia sobre as cida<strong>de</strong>s aliadas com a <strong>de</strong>mocracia – ao mesmo t<strong>em</strong>po que<br />

distribuíam terras aos cidadãos mais carencia<strong>dos</strong>, conseguiam controlar e punir militarmente<br />

aqueles que queriam fugir do jugo <strong>ateniense</strong>. <strong>Plutarco</strong> refere vários nomes <strong>de</strong> cleruquias, como<br />

Naxos e Andros, <strong>em</strong> Per. 11. 4. Sobre este t<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong> Ribeiro Ferreira (1990a: 321); Lewis (1992:<br />

59-60, 96-97); Mossé (1992: 111-112).<br />

53 Alcibía<strong>de</strong>s foi acusado por um <strong>dos</strong> seus adversários, Féax (no discurso Contra Alcibía<strong>de</strong>s),<br />

<strong>de</strong> se servir <strong>dos</strong> bens do povo (como os vasos sagra<strong>dos</strong> <strong>de</strong> ouro e prata) no seu dia-a-dia (Alc. 13.<br />

3). Cf. [Andoc.] 4. 29. Sobre a corruptibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s, vi<strong>de</strong> infra p. 249 sqq.<br />

54 Ath. 27. 4: <br />

<br />

– ‘faltando a Péricles recursos nanceiros para a<br />

tal coregia, a conselho <strong>de</strong> Damóni<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Ea, (...) já que os seus bens particulares eram insucientes,<br />

<strong>de</strong>u ao povo aquilo que ao próprio povo pertencia e instituiu uma mistoforia para os juízes.’ É <strong>de</strong><br />

realçar que o texto <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> não nos apresenta nenhum juízo <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> Aristóteles a propósito<br />

do comportamento <strong>de</strong> Péricles, mas a expressão presente no texto do<br />

Estagirita, parece sugerir que o estadista estaria a agir com justiça, pois simplesmente <strong>de</strong>volvia ao<br />

povo o que lhe pertencia. Esta posição é, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, bastante diferente da <strong>de</strong> Platão, que, como<br />

já vimos, culpa estas medidas <strong>de</strong> ter<strong>em</strong> provocado a <strong>de</strong>cadência moral <strong>em</strong> Atenas.<br />

55 Aristóteles apresenta Damóni<strong>de</strong>s como inuente conselheiro <strong>de</strong> Péricles que, por esse<br />

motivo, foi votado ao ostracismo. Não <strong>de</strong>ve ser confundido, o que aliás Aristóteles faz, com<br />

o lho Dámon (Per. 4. 1-4; supra p. 175, nota 66), que também foi conselheiro <strong>de</strong> Péricles na<br />

década <strong>de</strong> 30. Vi<strong>de</strong> Rho<strong>de</strong>s (1981: 341).<br />

56 Moralia 818C. Apesar da crítica, <strong>em</strong> Moralia 818D, o biógrafo refere a prodigalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Péricles como um bom ex<strong>em</strong>plo da concessão <strong>de</strong> benesses ao povo e, <strong>em</strong> 822B, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que as<br />

doações po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ocorrer se associadas ao culto divino e s<strong>em</strong> a exigência <strong>de</strong> contrapartidas.<br />

221

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!