O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />
Aca<strong>de</strong>mia con<strong>de</strong>na não só a <strong>de</strong>mocracia como o estadista, por ter<strong>em</strong> afrouxado<br />
as ré<strong>de</strong>as <strong>de</strong>ste «cavalo quase indomável». Disso nos dá test<strong>em</strong>unho Per. 7.<br />
8, on<strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> cita um passo <strong>de</strong> Platão 43 , que salienta a má gestão que o<br />
povo faz da liberda<strong>de</strong> (sobretudo se esta for <strong>de</strong>smedida), e um fragmento <strong>de</strong><br />
comédia 44 , que compara a populaça a um cavalo <strong>em</strong>pinado 45 :<br />
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“um <strong>de</strong>les foi, ao que se diz, Ealtes 46 , que arrasou o po<strong>de</strong>r do conselho do<br />
Areópago, dando a beber, nas palavras <strong>de</strong> Platão, aos cidadãos liberda<strong>de</strong> a mais<br />
e da genuína. Diz<strong>em</strong> os comediógrafos que, graças a ela, o povo <strong>em</strong>pinado que<br />
n<strong>em</strong> um cavalo, «não tolerou mais obe<strong>de</strong>cer, mas mor<strong>de</strong> Eubeia e salta sobre<br />
as ilhas».”<br />
43 Esta referência a Platão t<strong>em</strong> por base R. 562c-d: <br />
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– ‘quando uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática, penso eu, se<strong>de</strong>nta <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>,<br />
t<strong>em</strong>, por força do a<strong>caso</strong>, no seu comando maus escanções e se <strong>em</strong>bebeda muito mais do que<br />
<strong>de</strong>via com essa [liberda<strong>de</strong>] da pura...’ Plu. Cim. 15. 2 também se refere à <strong>de</strong>mocracia <strong>em</strong> que<br />
Atenas passa a viver após a partida <strong>de</strong> Címon <strong>em</strong> uma expedição como (adjetivo<br />
normalmente relacionado com o vinho puro) e atribui à ação <strong>de</strong> Ealtes o facto<br />
<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong> então, o povo ter ultrapassado to<strong>dos</strong> os limites. Sobre a reforma do Areópago, vi<strong>de</strong><br />
infra p. 236, nota 131.<br />
44 A<strong>de</strong>sp. 700 K.-A. Este verso alu<strong>de</strong> ao tratamento pouco correto que os Atenienses tiveram<br />
<strong>em</strong> relação aos alia<strong>dos</strong>, nomeadamente a Eubeia, quando esta tentou <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> pertencer<br />
à Simaquia. Atenas usou <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> repressão contra to<strong>dos</strong> aqueles que, achando<br />
<strong>de</strong>snecessário manter uma aliança contra o inimigo persa que já não oferecia perigo, quiseram<br />
libertar-se do compromisso. Vi<strong>de</strong> Ribeiro Ferreira (1990a: 131-146). Aristófanes (Nu. 211-213)<br />
apresenta uma anedota s<strong>em</strong>elhante, também relacionada com Péricles: duas personagens estão a<br />
observar um mapa da Grécia e uma diz: «Aqui está a Eubeia que, como vês, se estira b<strong>em</strong> longe,<br />
a todo o comprimento». Ao que a outra personag<strong>em</strong> replica: «B<strong>em</strong> sei. D<strong>em</strong>os-lhe um bom<br />
estirão, nós e Péricles».<br />
45 De facto, sobretudo a partir do século V a.C., o povo foi por diversas vezes comparado a<br />
animais gran<strong>de</strong>s e fortes, cheios <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> própria, nomeadamente por Pl. R. 493a-b. <strong>Plutarco</strong><br />
utiliza o mesmo recurso <strong>em</strong> Moralia 802D, a propósito da incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nícias <strong>de</strong> dominar<br />
o povo. Segundo Moralia 822A, o que confere ao povo essa audácia e força é a sua corrupção<br />
pelos políticos.<br />
46 Aliado político <strong>de</strong> Péricles, responsável pela reforma do Areópago (462 a.C.). Deste<br />
estadista <strong>ateniense</strong>, conhecido, como Péricles, pela sua incorruptibilida<strong>de</strong>, sabe-se muito pouco.<br />
Filho <strong>de</strong> Sofoni<strong>de</strong>s, foi um <strong>dos</strong> poucos lí<strong>de</strong>res <strong>ateniense</strong>s que não era rico. Substituiu T<strong>em</strong>ístocles<br />
na li<strong>de</strong>rança <strong>dos</strong> populares e, consequent<strong>em</strong>ente, teve <strong>em</strong> Címon o seu principal opositor. Mas os<br />
aristocratas, pouco satisfeitos com a supressão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res do Areópago, mandaram assassiná-lo<br />
no ano seguinte (Per. 10. 8). As más-línguas chegaram a responsabilizar Péricles pelo crime (Per.<br />
10. 7; infra p. 240).<br />
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