17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

38 . Uma tal postura <strong>de</strong>ve orientar<br />

toda a ativida<strong>de</strong> do político, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento <strong>em</strong> que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> enveredar pela<br />

vida pública ativa até àquele <strong>em</strong> que esta chega ao seu termo 39 .<br />

Como já diss<strong>em</strong>os <strong>em</strong> páginas anteriores, o modo como os dois<br />

Alcmeónidas iniciaram as suas carreiras é, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, um el<strong>em</strong>ento que reete<br />

as suas diferentes maneiras <strong>de</strong> ser e sugere aquilo que almejam para Atenas.<br />

Como ver<strong>em</strong>os mais adiante, ambos preten<strong>de</strong>m a glória da sua cida<strong>de</strong>. No<br />

entanto, ao passo que Péricles se mantém s<strong>em</strong>pre el a esse propósito (porque<br />

a sua entrada na vida política ativa foi conscient<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>sejada e planeada),<br />

Alcibía<strong>de</strong>s (que ingressou nesta batalha sobretudo instigado por terceiros e<br />

levado por circunstâncias favoráveis) só se <strong>de</strong>dica à causa enquanto isso não<br />

coli<strong>de</strong> com os seus interesses pessoais e com o seu orgulho 40 .<br />

De acordo com a perspetiva <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> (Moralia 799B), um <strong>dos</strong> principais<br />

objetivos <strong>de</strong> um governante na <strong>de</strong>manda do b<strong>em</strong>-comum <strong>de</strong>ve ser melhorar<br />

o caráter do seu povo 41 . A essa convicção estão, <strong>de</strong>certo, subjacentes o facto<br />

<strong>de</strong> a ser, no dizer <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s, o próprio povo 42 (<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se conclui<br />

que querer o melhor para a equivale a querer o melhor para o povo e<br />

vice-versa), e a má fama <strong>de</strong> que este gozava. A uma tal reputação não será<br />

alheia a constituição da turba, uma massa numerosa e heterogénea, difícil <strong>de</strong><br />

orientar, mas que, para seu b<strong>em</strong> e segurança, t<strong>em</strong> <strong>de</strong> ser constant<strong>em</strong>ente guiada<br />

e, porque não dizê-lo, controlada. Em um contexto <strong>de</strong> regime <strong>de</strong>mocrático,<br />

essa orientação torna-se mais difícil, porque, <strong>em</strong> teoria, o povo está no po<strong>de</strong>r,<br />

participa nas <strong>de</strong>cisões, logo, alcança pouco a pouco mais liberda<strong>de</strong>.<br />

É por causa da «excessiva» liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que os Atenienses usufruíram<br />

sob o comando <strong>de</strong> Péricles (mas também com alguns <strong>dos</strong> seus antecessores<br />

e colegas, por ex<strong>em</strong>plo, Milcía<strong>de</strong>s, T<strong>em</strong>ístocles e Címon) que o fundador da<br />

38 Plu. Alc. 31. 8: a coisa mais bela e justa é o b<strong>em</strong> da pátria. Esta máxima é ilustrada pelo<br />

argumento que Anaxilau dá aos Espartanos para justicar o facto <strong>de</strong> ter aberto as portas <strong>de</strong><br />

Bizâncio a Atenas: foi a melhor forma que encontrou para proteger da guerra a cida<strong>de</strong> e os<br />

concidadãos.<br />

39 Sobre a oportunida<strong>de</strong> da ida do <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> para a reforma segundo <strong>Plutarco</strong>,<br />

consulte-se Moralia 783A-797F.<br />

40 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra p. 183 e infra passim.<br />

41 O vocabulário que o biógrafo utiliza para <strong>de</strong>signar as massas encontra-se analisado por<br />

Saïd (2005: 9-13). Qualquer governante que se preze t<strong>em</strong> <strong>de</strong> começar por conhecer a fundo o<br />

caráter do povo que li<strong>de</strong>ra. Esse é o ponto <strong>de</strong> partida para o complicadíssimo e moroso processo<br />

<strong>de</strong> transformação do seu caráter, a que o político se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>dicar com força e s<strong>em</strong> medo (Plu.<br />

Moralia 799B-800A). Um tal conhecimento, contudo, po<strong>de</strong> condicionar a interação entre<br />

ambos. Em Per. 7. 1, <strong>Plutarco</strong> arma que o Alcmeónida «t<strong>em</strong>ia enfrentar o povo», porque não só<br />

era jov<strong>em</strong> e inexperiente, como tinha a consciência <strong>de</strong> que as suas gura e maneira <strong>de</strong> ser traziam<br />

à m<strong>em</strong>ória a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Pisístrato (cf. supra p. 194). Alcibía<strong>de</strong>s revela-se a antítese do político<br />

i<strong>de</strong>al, na medida <strong>em</strong> que, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> conduzir o povo, se <strong>de</strong>ixa levar pelo aplauso público. Por<br />

isso, <strong>Plutarco</strong> apresenta-o não como mo<strong>de</strong>lo para imitatio, mas para reiectio. Sobre este assunto,<br />

consulte-se Salcedo Parrondo ( 2005: 179-186).<br />

42 uc. 7. 77. 7. Cf. p. 124.<br />

218

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!