17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

Ficamos, por isso, com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que tal acusação resultou, mais do que da<br />

verda<strong>de</strong>ira intenção do jov<strong>em</strong>, da conjugação <strong>dos</strong> seguintes fatores: tendências<br />

anticívicas, «gran<strong>de</strong> natureza» e inveja popular perante o seu cada vez maior<br />

ascen<strong>de</strong>nte sobre os <strong>de</strong>stinos da cida<strong>de</strong>. Mas, <strong>em</strong> nós, permanecerá para s<strong>em</strong>pre<br />

a dúvida: o que teria acontecido se Alcibía<strong>de</strong>s não tivesse sido assassinado e se<br />

tivesse ajudado Atenas a ganhar a guerra?<br />

Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser curioso notar que o biógrafo se refere a esta tendência<br />

tirânica <strong>em</strong> dois gran<strong>de</strong>s momentos: o capítulo 16, que é aquele <strong>em</strong> que faz a<br />

síntese do caráter do Alcmeónida por ocasião do seu ingresso na vida política<br />

ativa, e o 34, aquele <strong>em</strong> que se aborda a restauração da procissão <strong>de</strong> Elêusis 35 .<br />

No primeiro, são os Atenienses mais notáveis (Alc. 16. 2) e os mais i<strong>dos</strong>os<br />

(Alc. 16. 7) que, com alguma apreensão, se aperceb<strong>em</strong> <strong>de</strong>sse traço <strong>de</strong> caráter<br />

através das ações do jov<strong>em</strong>. Em Alc. 34. 7, são os cidadãos das classes mais<br />

<strong>de</strong>sfavorecidas – ou seja, os que mais sofr<strong>em</strong> com a crise e normalmente os<br />

mais apega<strong>dos</strong> à religião – qu<strong>em</strong>, <strong>de</strong> livre e espontânea vonta<strong>de</strong>, se lhe dirige<br />

para exortá-lo a <strong>de</strong>struir a or<strong>de</strong>m vigente e a tornar-se tirano. É que, além <strong>de</strong><br />

to<strong>dos</strong> os outros feitos que trouxeram novamente glória e esperança a Atenas, o<br />

restabelecimento da procissão incutiu nas gentes mais pobres a expectativa <strong>de</strong><br />

que, s<strong>em</strong> oposição – e, como <strong>Plutarco</strong> salienta, s<strong>em</strong> sicofantas e invejosos, s<strong>em</strong><br />

charlatães que cada vez faziam mais mal a Atenas –, Alcibía<strong>de</strong>s seria capaz <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r gran<strong>de</strong>s benefícios <strong>em</strong> favor da sua 36 . Deste modo, o povo,<br />

que odiava a tirania, revela o seu <strong>de</strong>sespero e cansaço ao m <strong>de</strong> tantos anos <strong>de</strong><br />

guerra, <strong>de</strong> privações e <strong>de</strong> um regime que não se mostrava capaz <strong>de</strong> suprir as<br />

necessida<strong>de</strong>s do seu senhor. Só assim se compreen<strong>de</strong> que pusesse a hipótese <strong>de</strong><br />

se sujeitar novamente a tal regime. Mas, mais uma vez, os po<strong>de</strong>rosos inimigos<br />

<strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s não nos dão oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber qual seria a reação do lho<br />

<strong>de</strong> Dinómaca. T<strong>em</strong>endo que aquele aceitasse a proposta, apressam a expedição<br />

(cuja primeira parag<strong>em</strong> ocorreu <strong>em</strong> Andros), ce<strong>de</strong>ndo, s<strong>em</strong> questionar, tudo<br />

aquilo que o estratego exigia 37 .<br />

Discutida que está a questão do posicionamento <strong>dos</strong> Alcmeónidas face à<br />

tirania e a <strong>de</strong>mocracia, <strong>de</strong>bruc<strong>em</strong>o-nos sobre a sua ação política.<br />

Qualquer <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> que se preze <strong>de</strong>ve pautar as suas ações e<br />

<strong>de</strong>cisões por objetivos nobres e favoráveis ao engran<strong>de</strong>cimento do povo e da<br />

cida<strong>de</strong> a cujos <strong>de</strong>stinos presi<strong>de</strong>, seguindo a máxima espartana <br />

sua posição: <strong>em</strong>bora se tenha aproximado da oligarquia para alcançar os seus objetivos, ajudou<br />

a repor a <strong>de</strong>mocracia <strong>em</strong> Argos, após a batalha <strong>de</strong> Mantineia (Alc. 15. 3). Po<strong>de</strong>mos por isso<br />

questionar-nos: fê-lo por apreço pela <strong>de</strong>mocracia ou para ganhar mais um aliado contra os<br />

Lace<strong>de</strong>mónios?<br />

35 Sobre este assunto, consulte-se Ver<strong>de</strong>g<strong>em</strong> (2001: 451-459).<br />

36 Cf. D. S. 13. 68.<br />

37 Vi<strong>de</strong> infra p. 300.<br />

217

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!