17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

levou os concidadãos a acusar<strong>em</strong> Péricles <strong>de</strong> exercer um governo monocrático<br />

foi pura maledicência provocada pela inveja que <strong>de</strong>le sentiam (Per. 39. 3-4).<br />

Mutatis mutandis, po<strong>de</strong> dizer-se o mesmo <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s. A acusação <strong>de</strong><br />

tendência tirânica <strong>de</strong> que foi alvo prendia-se mais ao seu comportamento<br />

individual 21 e ambição excessiva do que com a sua atuação política 22 . De facto,<br />

o uso <strong>de</strong> da<strong>dos</strong> da vida privada para construir o perl <strong>dos</strong> indivíduos e fazer<br />

um aproveitamento político <strong>de</strong>ssa informação é uma constante <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os<br />

t<strong>em</strong>pos. Alcibía<strong>de</strong>s parecia gostar <strong>de</strong> fornecer matéria para esse tipo <strong>de</strong> intriga.<br />

Ele não respeitava os s<strong>em</strong>elhantes, os animais e n<strong>em</strong> mesmo a lei 23 (Alc. 16.<br />

2-7). Segundo <strong>Plutarco</strong>, tratava os conheci<strong>dos</strong> com insolência e arrogância<br />

(Alc. 5. 6) e os amantes – à exceção <strong>de</strong> Sócrates – com <strong>de</strong>sprezo (Alc. 6. 1); e<br />

não se coibia <strong>de</strong> matar os próprios escravos 24 (Alc. 3. 1). Este comportamento<br />

resulta, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> medida, <strong>de</strong> traços do seu caráter como a (Alc. 6.<br />

4, 7. 5, 11. 2, 12. 2, 16. 4-5, 24. 3, 27. 6, 34. 3, 39. 7) e a (Alc. 2. 2-2.<br />

7), mas <strong>em</strong> muito também da complacência que o povo quase s<strong>em</strong>pre teve para<br />

com os seus <strong>de</strong>svarios e excessos 25 .<br />

D<strong>em</strong>ais, adorava luxos, prazeres e extravagâncias (Plu. Alc. 6. 2-3;<br />

Ath. 534d-e), era dado a todo o tipo <strong>de</strong> cong<strong>em</strong>inações para afastar os<br />

opositores (recor<strong>de</strong>mos, por ex<strong>em</strong>plo, o seu comportamento com a <strong>em</strong>baixada<br />

lace<strong>de</strong>mónia para estragar os planos a Nícias ou o ostracismo <strong>de</strong> Hipérbolo 26 ) e<br />

ser o primeiro <strong>de</strong> entre os po<strong>de</strong>rosos 27 . Não admira que, perante este perl, que<br />

costuma caracterizar aqueles que exerc<strong>em</strong> governos <strong>de</strong> índole <strong>de</strong>spótica (como<br />

os reis da Pérsia 28 ), se associasse a Alcibía<strong>de</strong>s a intenção <strong>de</strong> instituir um regime<br />

que mais limitada, mostrou-se ruinosa e também sinal da falta <strong>de</strong> discernimento <strong>dos</strong> Atenienses.<br />

21 Sobre o contributo da variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s (mencionada <strong>em</strong> Alc. 2. 1) e<br />

do <strong>de</strong>sregramento da sua vida privada para a sugestão <strong>de</strong> tendência tirânica, consulte-se Gribble<br />

(1999: 31-32, 70-82).<br />

22 Cf. uc. 6. 15, on<strong>de</strong> o historiador arma que era por causa da vida ultrajante que levava<br />

que Alcibía<strong>de</strong>s levantava suspeitas <strong>de</strong> querer ser tirano. Seager (1967: 6-18); Bearzot (1988:<br />

39-57).<br />

23 Cf. [And.] 4. 19, on<strong>de</strong> se arma que para Alcibía<strong>de</strong>s o correto era não ser ele a submeter-se<br />

às leis da cida<strong>de</strong>, mas estas à sua maneira <strong>de</strong> ser.<br />

24 Esta é uma daquelas informações que <strong>Plutarco</strong> não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> recordar, <strong>em</strong>bora a consi<strong>de</strong>re<br />

s<strong>em</strong> fundamento (Alc. 3. 2). Contudo, a simples alusão ao boato, que o biógrafo não acredita<br />

verosímil, s<strong>em</strong>eia <strong>em</strong> nós a dúvida, já que este Alcmeónida é caracterizado por uma ousadia<br />

<strong>de</strong>smedida, que o torna capaz <strong>de</strong> tudo.<br />

25 Este t<strong>em</strong>a está <strong>de</strong>senvolvido nas páginas 184 e 231. [And.] 4. 21 responsabiliza os<br />

Atenienses pelo facto <strong>de</strong> o po<strong>de</strong>r e o prestígio <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s ter<strong>em</strong> alcançado uma proporção<br />

excessiva.<br />

26 Sobre estes assuntos, vi<strong>de</strong> supra p. 205 sqq.<br />

27 Esta sua tendência foi, como já vimos, incentivada pelos aduladores (Alc. 6. 4), que o<br />

faziam acreditar na sua capacida<strong>de</strong> para obscurecer os feitos <strong>de</strong> Péricles.<br />

28 Sobre a maneira <strong>de</strong> ser <strong>dos</strong> Persas e o seu gosto pelo luxo, vi<strong>de</strong> An<strong>de</strong>rson (1972: 166-174);<br />

Keaveney (1996: 23-48); Balcer (1983: 257-267).<br />

215

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!