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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

mesmo chegado a impedir a reunião da ass<strong>em</strong>bleia, algo que é muito pouco<br />

<strong>de</strong>mocrático. Segundo uc. 2. 22. 1, o estratego não reúne a ass<strong>em</strong>bleia com<br />

medo <strong>de</strong> que o povo <strong>de</strong>cida mal; já <strong>Plutarco</strong> (Per. 33. 6) arma que o objetivo<br />

do estadista era evitar sofrer pressão por parte da turba 15 .<br />

No entanto, <strong>Plutarco</strong> não menciona que o povo se tivesse mostrado<br />

muito revoltado com esse procedimento, apesar <strong>de</strong> as suas relações com<br />

Péricles não ser<strong>em</strong> as melhores naquela altura. Tal omissão po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ver-se<br />

a dois fatores: a própria posição do biógrafo, que, apoiante da estratégia<br />

<strong>de</strong> Péricles 16 , «se esqueceu» <strong>de</strong> apresentar as queixas da multidão nesse<br />

sentido; o facto <strong>de</strong> o povo, mesmo revoltado, continuar, b<strong>em</strong> no fundo,<br />

a saber que podia e <strong>de</strong>via conar <strong>em</strong> Péricles. É que o lho <strong>de</strong> Xantipo,<br />

que tinha uma excelente capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prognóstico, já <strong>de</strong>ra prova da sua<br />

preocupação com os concidadãos e do cuidado e diligência com que tratava<br />

os assuntos da . São três os principais momentos da sua atuação que,<br />

na nossa perspetiva, comprovaram essa realida<strong>de</strong> aos olhos do povo. Um teve<br />

lugar durante o governo do estadista: trata-se da <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Tólmi<strong>de</strong>s, que<br />

Péricles instara a não combater e que se revelou danosa para Atenas 17 ; os<br />

outros, já <strong>de</strong>pois da sua morte, pren<strong>de</strong>m-se à expedição à Sicília e com a<br />

alteração da estratégia que traçara para vencer os Lace<strong>de</strong>mónios na Guerra<br />

do Peloponeso. A «<strong>de</strong>sobediência» a Péricles e a cedência aos <strong>de</strong>magogos 18 ,<br />

que apenas buscavam o seu próprio b<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento do coletivo, viriam a<br />

provocar nos Atenienses sauda<strong>de</strong>s do governo que antes haviam apelidado <strong>de</strong><br />

monárquico e tirânico e o reconhecimento <strong>de</strong> que o lho <strong>de</strong> Xantipo tinha<br />

sido b<strong>em</strong> sucedido no controlo <strong>dos</strong> vícios do povo 19 . As sauda<strong>de</strong>s sentidas<br />

foram tais que os comediógrafos – nomeadamente Êupolis – chegam a<br />

colocar a hipótese <strong>de</strong> ir ao Ha<strong>de</strong>s buscar Péricles para que Atenas pu<strong>de</strong>sse<br />

ter alguma esperança 20 . Po<strong>de</strong>mos, por isso, concluir com <strong>Plutarco</strong> que o que<br />

15 Segundo Prandi (2004: 141), há uma transferência <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r das massas para o indíviduo,<br />

que se pren<strong>de</strong> à natureza do relato <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, que preten<strong>de</strong> narrar os feitos <strong>de</strong> um «indivíduo/<br />

protagonista».<br />

16 Se, <strong>de</strong> facto, este for o motivo para a omissão <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que o fez a<br />

ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s, que não mencionou, também ele, momentos menos favoráveis à imag<strong>em</strong><br />

do estadista, como o ataque aos amigos <strong>de</strong> Péricles, o esmagar da revolta <strong>de</strong> Samos, a revolta do<br />

povo por ocasião da primeira invasão da Ática.<br />

17 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra p. 184, nota 101.<br />

18 Para mais informações sobre a atuação <strong>dos</strong> <strong>de</strong>magogos, consulte-se Lewis (1992: 106-<br />

110).<br />

19 Este comportamento protetor e paternalista <strong>de</strong> Péricles para com a , apesar <strong>de</strong><br />

alguns reveses, surtiu maior efeito do que no seio da sua própria família, já que Xantipo e<br />

Alcibía<strong>de</strong>s se revelaram rebel<strong>de</strong>s e menos sérios do que seria previsível para pessoas educadas<br />

pelo estadista. Sobre o fracasso <strong>de</strong> Péricles enquanto educador <strong>dos</strong> seus «<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes», vi<strong>de</strong><br />

p. 188.<br />

20 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra p. 166. De facto, o povo teve muita sorte <strong>em</strong> ter Péricles, um<br />

<strong>hom<strong>em</strong></strong> sério, justo e pru<strong>de</strong>nte, como lí<strong>de</strong>r. A cedência aos políticos que lhe suce<strong>de</strong>ram, ainda<br />

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