17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O triunfo da sobre o <br />

“Relatar exatamente cada um <strong>dos</strong> acontecimentos <strong>de</strong>sse t<strong>em</strong>po é o objetivo da<br />

história, mas todas as ocorrências dignas <strong>de</strong> registo nos atos e nas experiências<br />

<strong>dos</strong> Césares, não convém que eu, da minha parte, as omita.”<br />

A relação <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> com a história não é, pois, pacíca: se, por um<br />

lado, é à história (enquanto repertório <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>pla) que vai buscar el<strong>em</strong>entos<br />

verídicos para ilustrar as virtu<strong>de</strong>s (e, mais raramente, os <strong>de</strong>feitos) que quer<br />

realçar, quando caracteriza os protagonistas das diferentes Vidas; por outro, faz<br />

questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcar a sua ativida<strong>de</strong> da <strong>de</strong> um historiador 27 . Isso é algo que, ao<br />

leitor mais incauto, po<strong>de</strong> causar particular estranheza, pois existe a tendência<br />

– errónea – para tentar classicar os géneros literários antigos, <strong>de</strong> acordo com<br />

as nomenclaturas e conceitos atuais. Um bom ex<strong>em</strong>plo para essa situação é<br />

precisamente a distinção entre biograa e história. Hoje, o relato biográco<br />

é, <strong>de</strong> um modo geral, aceite como ramo daquela ciência humana. No entanto,<br />

entre os Gregos isso não acontecia 28 : a história era vista essencialmente como<br />

um relato político-militar da existência <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado povo; a biograa era<br />

entendida como narração <strong>dos</strong> feitos e costumes <strong>dos</strong> indivíduos 29 . Para nos<br />

apercebermos disso, basta recorrer aos test<strong>em</strong>unhos <strong>de</strong> alguns autores da<br />

Antiguida<strong>de</strong>, nomeadamente <strong>de</strong> Políbio (Hist. 10. 2. 1-5) e <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> (cf.<br />

passo que acabámos <strong>de</strong> citar), que, segundo os da<strong>dos</strong> que até nós chegaram,<br />

foram os primeiros a estabelecer formalmente essa distinção. Segundo Políbio,<br />

os historiadores apenas se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> preocupar com os vícios e as virtu<strong>de</strong>s quando<br />

estes tiver<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado o curso da ação política 30 (que é o seu objeto <strong>de</strong><br />

estudo). Tudo o que vise o elogio ou o <strong>de</strong>negrir da imag<strong>em</strong> das guras públicas<br />

não <strong>de</strong>ve fazer parte do relato histórico. Isto signica não que Políbio recuse a<br />

inclusão esporádica <strong>de</strong> da<strong>dos</strong> biográcos no texto, mas antes que não aceita que<br />

se faça da história um gran<strong>de</strong> encómio. No fundo, para Políbio, o historiador<br />

<strong>de</strong>ve ser imparcial e rigoroso 31 .<br />

Apesar da sua convicção, o Queroneu seguiu, na generalida<strong>de</strong> das Vidas,<br />

os princípios que norteavam a redação <strong>de</strong> um relato histórico. Por isso, t<strong>em</strong><br />

particular cuidado com a seleção e análise das fontes e procura comprovar as<br />

27 Embora neste passo <strong>Plutarco</strong> distinga claramente <strong>de</strong> , ao longo da sua obra<br />

muitas vezes usa o primeiro termo para <strong>de</strong>signar biograa. Para esclarecimento e ex<strong>em</strong>plicação<br />

<strong>de</strong>sta aparente contradição, vi<strong>de</strong> Valgiglio (1987: 50-51; 1992: 3963-4051).<br />

28 A distinção helenística entre biograa e história só foi substituída pela aceitação da biograa<br />

como forma legítima <strong>de</strong> relato histórico a partir do século XVI. Cf. Momigliano (1993: 2).<br />

29 Segundo Tácito (Agricola 1), é esta a <strong>de</strong>nição <strong>de</strong> biograa: clarorum uirorum facta moresque<br />

posteris tra<strong>de</strong>re.<br />

30 Políbio, como ca implícito da sua armação, já tinha a consciência <strong>de</strong> que a formação<br />

individual e a personalida<strong>de</strong> tinham um papel <strong>de</strong>terminante na conduta política.<br />

31 Esta posição <strong>de</strong>marca o relato histórico apregoado por Políbio do <strong>de</strong> Heródoto que, muitas<br />

vezes, ao contar episódios <strong>de</strong> caráter pessoal sobre as suas personagens, facilmente envereda pela<br />

cção.<br />

23

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!