17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

político, que, como o marido <strong>de</strong> Hera, t<strong>em</strong> qualida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>feitos, mas nunca<br />

terá um sucessor à altura. Fica, contudo, igualmente a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que, tal como<br />

Zeus, ao instaurar uma nova or<strong>de</strong>m, propiciou a <strong>de</strong>cadência da Ida<strong>de</strong> do Ouro,<br />

assim Péricles, ao estabelecer uma <strong>de</strong>mocracia radical, inaugura uma nova era<br />

na qual se verica um <strong>de</strong>teriorar progressivo da moral tradicional.<br />

Na reexão que faz, <strong>em</strong> Per. 8. 3, sobre a possível orig<strong>em</strong> <strong>de</strong>ste epíteto,<br />

<strong>Plutarco</strong> revela concordar com qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que ele <strong>de</strong>corre da combinação<br />

das diferentes qualida<strong>de</strong>s do estadista (como a autorida<strong>de</strong> no governo e no<br />

comando militar) e com as obras <strong>de</strong> <strong>em</strong>belezamento da cida<strong>de</strong>. No entanto,<br />

mostra-se mais a<strong>de</strong>pto da versão tradicional, que faz <strong>dos</strong> dotes retóricos<br />

daquele o principal fator para o aparecimento da alcunha e para o seu controlo<br />

sobre o povo. A <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>sta perspetiva é apoiada por uma referência genérica<br />

ao test<strong>em</strong>unho <strong>dos</strong> comediógrafos, que po<strong>de</strong>mos ex<strong>em</strong>plicar através <strong>de</strong> Ar.<br />

Ach. 530-532:<br />

<br />

<br />

<br />

“Irritado com o facto, Péricles o Olímpico lançou o raio, fez ouvir o trovão, pôs<br />

a Grécia <strong>em</strong> polvorosa e estabeleceu leis redigidas à maneira <strong>de</strong> cantilenas... 13”<br />

Este é praticamente o único momento <strong>em</strong> que <strong>Plutarco</strong> parece estar <strong>de</strong><br />

acordo com os artistas do género cómico, que, aqui e além, apesar das críticas,<br />

lá vão reconhecendo o valor do lho <strong>de</strong> Xantipo. Mas essa sintonia dura<br />

pouco. Em Per. 16. 1 <strong>Plutarco</strong> elogia a correta interpretação <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s<br />

a propósito do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Péricles (se não fosse o pulso forte <strong>de</strong> Péricles, a<br />

inconstância do povo tornaria caótica a vida <strong>em</strong> Atenas), por oposição à<br />

distorção que os comediógrafos <strong>de</strong>le faz<strong>em</strong>, chegando mesmo a chamar os<br />

seus correligionários <strong>de</strong> «nova geração <strong>de</strong> Pisistrátidas» e a obrigá-lo a jurar<br />

que não será um tirano.<br />

Volt<strong>em</strong>os, pois, à reexão sobre a natureza do po<strong>de</strong>r exercido pelos<br />

Alcmeónidas. Péricles mostrou-se mais diretivo, talvez porque tivesse um<br />

plano b<strong>em</strong> concebido daquilo que pretendia para a . Nesse sentido,<br />

procurou dar ao povo liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação – ou pelo menos o sentimento<br />

<strong>de</strong> que eram livres <strong>de</strong> agir –, mas manteve-se vigilante e pronto para evitar<br />

<strong>de</strong>saires 14 . O momento <strong>em</strong> que esta postura é mais visível coinci<strong>de</strong> com os<br />

primeiros t<strong>em</strong>pos da Guerra do Peloponeso. Então, ante o <strong>de</strong>scontentamento<br />

popular generalizado, Péricles impôs como nunca a sua autorida<strong>de</strong>, tendo<br />

13 A tradução apresentada é <strong>de</strong> Silva (1980).<br />

14 Supra p. 280.<br />

213

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!