17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

(1999: 325) consi<strong>de</strong>ra ser a estratégia <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> na conceção e redação <strong>de</strong>sta<br />

biograa:<br />

«in many ways, (…), this life is not about Alkibia<strong>de</strong>s himself, but about his doxa<br />

– that is, his reputation and other people’s opinion about him».<br />

Optámos, por isso, por subdividir o capítulo <strong>em</strong> dois gran<strong>de</strong>s momentos,<br />

que <strong>de</strong>signámos por «O Político» e «O Militar».<br />

2. 3. 1. O político<br />

O facto <strong>de</strong>, quer sobre Péricles quer sobre Alcibía<strong>de</strong>s, ter<strong>em</strong> recaído<br />

suspeitas <strong>de</strong> aspirações tirânicas pareceu-nos merecer o estatuto <strong>de</strong> t<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

abertura do subcapítulo, por se tratar <strong>de</strong> uma acusação paradoxal. É que ambos<br />

faziam parte <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> tradição <strong>de</strong>mocrática, na medida <strong>em</strong> que os seus<br />

antepassa<strong>dos</strong> – nomeadamente Clístenes – tiveram um papel fundamental na<br />

abolição da tirania <strong>dos</strong> Pisístratos e na consolidação do regime <strong>de</strong>mocrático 3 .<br />

Po<strong>de</strong>mos, por isso, atribuir à genética a facilida<strong>de</strong> que ambos revelavam no<br />

trato com a turba, sobretudo no que respeita a Péricles. Este tinha o dom<br />

<strong>de</strong> fazer com que o povo acolhesse as suas i<strong>de</strong>ias, <strong>de</strong> conduzi-lo; no <strong>caso</strong> <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s, essa habilida<strong>de</strong> foi limitada pela sua maneira <strong>de</strong> ser que provocava<br />

sentimentos controversos na população 4 .<br />

A hereditarieda<strong>de</strong>, contudo, não impediu que neles aorass<strong>em</strong> alguns<br />

rasgos <strong>de</strong> índole tirânica. Péricles, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong>frontou-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

momento <strong>em</strong> que <strong>de</strong>cidiu ingressar na ativida<strong>de</strong> política, com o fantasma da<br />

tirania. Como já vimos 5 , o seu aspeto físico e a sua voz traziam à m<strong>em</strong>ória<br />

Pisístrato, pelo que se esforçou por se associar ao povo com o intuito <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sfazer quaisquer suspeitas que o ligass<strong>em</strong> a esse tipo <strong>de</strong> regime 6 . Mas, apesar<br />

<strong>de</strong> todas as precauções, a sua forma <strong>de</strong> estar na política e a supr<strong>em</strong>acia que por<br />

causa <strong>de</strong>la alcançou fez com que a <strong>de</strong>mocracia <strong>ateniense</strong> nesse período fosse<br />

vista como um regime aristocrático, que po<strong>de</strong>ria mesmo vir a transformar-se<br />

<strong>em</strong> tirania, nomeadamente por Tucídi<strong>de</strong>s que arma que<br />

<br />

3 Sobre cre<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong>mocráticas <strong>dos</strong> Alcmeónidas, vi<strong>de</strong> Isoc. 16. 25-28 e omas (1989:<br />

cap. 5 e pp. 131-154).<br />

4 Infra p. 229.<br />

5 Supra p. 194.<br />

6 Se tivermos <strong>em</strong> conta que Aristi<strong>de</strong>s foi votado ao ostracismo, na sequência <strong>de</strong> uma intriga<br />

<strong>de</strong> T<strong>em</strong>ístocles, invejoso, que o acusou <strong>de</strong> governar a cida<strong>de</strong> como um monarca (Plu. Arist. 7. 1,<br />

<strong>em</strong>. 5. 7), os receios <strong>de</strong> Péricles aguram-se pertinentes. Sobre os efeitos nefastos da inveja na<br />

vida política, vi<strong>de</strong> infra p. 231, nota 102.<br />

211

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!