O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />
210<br />
2. 3. A ação política<br />
«O cargo dá a conhecer o <strong>hom<strong>em</strong></strong>.»<br />
Segundo Aristóteles (Pol. 1253a, Top. 128b15, EE 1242a22-26), o <strong>hom<strong>em</strong></strong><br />
é por natureza um , ou seja, um animal gregário, que vive <strong>em</strong><br />
uma comunida<strong>de</strong> – neste <strong>caso</strong> a – <strong>em</strong> cujo funcionamento intervém <strong>de</strong><br />
um modo ativo, com o intuito <strong>de</strong> contribuir para a glória da cida<strong>de</strong> e para a<br />
melhoria do b<strong>em</strong>-estar <strong>dos</strong> concidadãos. Não é, por isso, <strong>de</strong> estranhar que, aos<br />
olhos <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> (e. g. Moralia 791C, 823C), como eco da sensibilida<strong>de</strong> grega,<br />
o ser humano <strong>de</strong>va, por natureza, <strong>de</strong>dicar-se à ação política 1 .<br />
Com base nesta <strong>de</strong>nição, não é difícil compreen<strong>de</strong>r que o <strong>hom<strong>em</strong></strong> político<br />
da Grécia Antiga, nomeadamente o <strong>ateniense</strong>, tivesse um campo <strong>de</strong> intervenção<br />
mais vasto do que o atual. No mo<strong>de</strong>rno mundo <strong>de</strong>mocrático oci<strong>de</strong>ntal, a<br />
ativida<strong>de</strong> política assenta, regra geral, na representativida<strong>de</strong> parlamentar (que<br />
substitui a intervenção direta), na separação <strong>dos</strong> po<strong>de</strong>res e é sobretudo exercida<br />
através <strong>de</strong> cargos executivos ou legislativos (não acumuláveis <strong>em</strong> um mesmo<br />
momento), s<strong>em</strong> que seja possível associá-la à militar. Na Atenas antiga, a<br />
participação na vida política ativa era, por assim dizer, mais abrangente, na<br />
medida <strong>em</strong> que um mesmo indivíduo podia chear o exército ou a armada e<br />
participar na ass<strong>em</strong>bleia, on<strong>de</strong> se tomavam <strong>de</strong>cisões que orientavam o governo<br />
da cida<strong>de</strong> e on<strong>de</strong> se aprovavam <strong>de</strong>cretos e leis; <strong>em</strong> toda esta ativida<strong>de</strong>, os dotes<br />
oratórios s<strong>em</strong>pre foram <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância.<br />
Nesse sentido, pareceu-nos, <strong>de</strong> início, que a melhor estratégia para cotejar<br />
os dois Alcmeónidas <strong>de</strong> que nos ocupamos seria estruturar esta análise com<br />
base nas diferentes facetas do <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> <strong>de</strong> então (político, legislador<br />
e militar). Tal opção acabou por revelar-se improdutiva, na medida <strong>em</strong> que,<br />
<strong>em</strong> relação a Alcibía<strong>de</strong>s, <strong>Plutarco</strong> quase só menciona informação sobre a<br />
sua conduta enquanto militar. Esta realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ver-se, por um lado, à<br />
escassez <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos sobre a ativida<strong>de</strong> política e legislativa nas fontes 2 a que<br />
o biógrafo recorreu para redigir a Vida <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s; por outro, àquilo que Du<br />
1 Rodríguez Somolinos (2003: 225) resume a perspetiva do biógrafo relativamente à<br />
ativida<strong>de</strong> política: «(…) por encima <strong>de</strong> todo es un modo <strong>de</strong> vida al que no se pue<strong>de</strong> renunciar, no<br />
un medio para lograr otro objetivo ni una actividad pasajera, el modo <strong>de</strong> vida proprio <strong>de</strong>l hombre<br />
completo que, bajo la guía constante <strong>de</strong> la razón y la losofía, persigue el bien más sublime hasta<br />
el n <strong>de</strong> sus días».<br />
2 Esta falta <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos po<strong>de</strong>rá ser um mero reexo do que foi a atuação ou resultado<br />
da sobrevalorização da área on<strong>de</strong>, efetivamente, Alcibía<strong>de</strong>s se <strong>de</strong>stacou. De facto, como ca<br />
claro, por ex<strong>em</strong>plo, da leitura <strong>de</strong> Per. 11. 1, há políticos melhores ou piores <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas<br />
áreas (Címon era mais dotado para a guerra, Tucídi<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Alópece, um seu parente, era melhor<br />
orador e político). Apenas Péricles e Alexandre, apesar <strong>dos</strong> seus pequenos <strong>de</strong>feitos, parec<strong>em</strong> ser<br />
apresenta<strong>dos</strong> como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> políticos mo<strong>de</strong>lo, que têm capacida<strong>de</strong>s para li<strong>de</strong>rar nos diversos<br />
domínios da vida pública. Sobre Tucídi<strong>de</strong>s, o rival <strong>de</strong> Péricles, vi<strong>de</strong> p. 203, nota 50.