17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

208<br />

“tinham inteira conança nele, admiravam a sua habilida<strong>de</strong> e inteligência e<br />

consi<strong>de</strong>ravam-no um <strong>hom<strong>em</strong></strong> excecional. 68 ”<br />

Nícias, apanhado <strong>de</strong> surpresa, não conseguiu reverter a situação e foi<br />

<strong>de</strong>stituído (ainda que não lhe tenha sido aplicado nenhum castigo); Alcibía<strong>de</strong>s,<br />

por sua vez, foi, nalmente, eleito estratego e recomeçou a guerra 69 . Em Alc.<br />

15. 2, <strong>Plutarco</strong> arma abertamente que ninguém aprovou a conduta do<br />

Alcmeónida. No entanto, como Atenas tirou <strong>de</strong>la benefícios, também não<br />

houve qu<strong>em</strong> se lhe opusesse. Alcibía<strong>de</strong>s sai, assim, mais uma vez, impune e<br />

recompensado por um feito que apenas <strong>de</strong>veria merecer a recriminação geral:<br />

é que um político que se preze não po<strong>de</strong> pautar a sua ação por motivos tão<br />

baixos como a vingança pelo orgulho () ferido. Contudo, trata-se<br />

<strong>de</strong> um comportamento habitual naqueles que têm uma «gran<strong>de</strong> natureza» 70<br />

s<strong>em</strong>pre que sofr<strong>em</strong> uma contrarieda<strong>de</strong> ou <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração – nessa altura,<br />

sent<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r uma vingança proporcional ao seu<br />

<strong>de</strong>scontentamento, s<strong>em</strong> ter <strong>em</strong> conta que além <strong>dos</strong> visa<strong>dos</strong>, toda a comunida<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> vir a sofrer as consequências do seu capricho.<br />

Po<strong>de</strong>mos, assim, armar (<strong>de</strong> acordo com o relato <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>,) que Péricles<br />

t<strong>em</strong> para com os rivais um comportamento mais próximo do do fundador <strong>de</strong><br />

Atenas do que Alcibía<strong>de</strong>s.<br />

Na sequência da reexão que t<strong>em</strong>os vindo a fazer ao longo das últimas<br />

páginas, parece-nos pertinente concluir que a pertença a uma mesma família<br />

apenas t<strong>em</strong> como implicação o acesso a valores que <strong>de</strong> outro modo lhes seriam<br />

inacessíveis: educação, riqueza, círculo <strong>de</strong> amigos inuente e a tradição da casa<br />

<strong>dos</strong> Alcmeónidas (sobretudo no que respeita a feitos políticos e militares).<br />

É certo que po<strong>de</strong>mos acrescentar a este rol <strong>de</strong> benefícios, a transmissão <strong>de</strong><br />

características inatas (como a habilida<strong>de</strong> militar e política), mas não mais do<br />

que isso. Toda a restante ação <strong>de</strong> cada um <strong>dos</strong> nossos protagonistas resulta da<br />

soma das suas próprias qualida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>feitos (que os individualizaram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

infância) com a conjuntura do momento <strong>em</strong> que viveram.<br />

No <strong>caso</strong> especíco <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, é ainda possível colocar a hipótese (que<br />

<strong>Plutarco</strong> parece não equacionar) <strong>de</strong> a sua conduta ter sido inuenciada pelo<br />

facto <strong>de</strong> não ter sido criado pela família mais próxima, já que o pai faleceu<br />

quando tinha cerca <strong>de</strong> cinco anos. Após tal acontecimento, teve Péricles como<br />

tutor, o que, como já vimos, não terá sido uma mais-valia, pois o gran<strong>de</strong> estadista<br />

68 A gran<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração que os Lace<strong>de</strong>mónios pareciam nutrir por Alcibía<strong>de</strong>s vai revelar-se<br />

importante para a sua opção por viver exilado <strong>em</strong> Esparta. Vi<strong>de</strong> infra pp. 232 e 286.<br />

69 Cf. Nic. 10. 4-9, Alc. 14. 3 – 15. 1.<br />

70 Este conceito foi apresentado supra p. 186. Não foi apenas contra Esparta que Alcibía<strong>de</strong>s<br />

se virou. Quando exilado, também Atenas irá sofrer as consequências da sua revolta. Vi<strong>de</strong> infra<br />

p. 254.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!