O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />
mérito mas que vinha ganhando inuência <strong>em</strong> razão da sua audácia (e que<br />
estava <strong>em</strong>penhado <strong>em</strong> que ou Nícias ou Alcibía<strong>de</strong>s fosse exilado), o último<br />
alvo do ostracismo. De facto este era um instrumento que até então s<strong>em</strong>pre<br />
fora aplicado sobre pessoas que, pelo seu mérito, incomodavam os pares e não<br />
sobre pessoas indignas 61 . Não era uma reação a comportamentos imorais 62 ,<br />
antes à gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> alguém que se <strong>de</strong>stacava <strong>de</strong> entre os seus pares; mais do<br />
que um castigo, era uma estratégia para prevenir a ameaça que muitas vezes os<br />
indivíduos <strong>de</strong> natureza superior representam na rivalida<strong>de</strong> política 63 . Por isso,<br />
quando o povo tomou consciência da <strong>de</strong>generação <strong>de</strong>ste mecanismo, resolveu<br />
não mais aplicá-lo.<br />
É certo que também po<strong>de</strong>mos analisar este episódio <strong>de</strong> uma perspetiva<br />
mais positiva: <strong>em</strong> troca <strong>de</strong> alguém que não fazia gran<strong>de</strong> falta, permanec<strong>em</strong><br />
ativos à frente do governo da cida<strong>de</strong> dois homens com valor. O que é sobretudo<br />
con<strong>de</strong>nável é que o exílio <strong>de</strong> Hipérbolo tenha sido orquestrado por qu<strong>em</strong> não<br />
queria per<strong>de</strong>r o po<strong>de</strong>r.<br />
Ora, uma vez ultrapassado o probl<strong>em</strong>a da ameaça <strong>de</strong> ostracismo,<br />
Alcibía<strong>de</strong>s continuou a ter <strong>de</strong> lidar com Nícias como seu adversário na cena<br />
política. Tratava-se para o Alcmeónida <strong>de</strong> uma situação penosa, já que o facto<br />
<strong>de</strong> o general ser apreciado e admirado pelo povo – e sobretudo pelo inimigo<br />
estrangeiro – era algo que mordiscava a sua vaida<strong>de</strong> pessoal e o impedia <strong>de</strong><br />
satisfazer a sua . O apreço que os Lace<strong>de</strong>mónios nutriam por<br />
Nícias foi intensicado pelo protagonismo do general na celebração das tréguas<br />
conhecidas por Paz <strong>de</strong> Nícias e pelo facto <strong>de</strong> lhes ter <strong>de</strong>volvido os prisioneiros<br />
<strong>de</strong> Pilos 64 .<br />
Como b<strong>em</strong> no-lo test<strong>em</strong>unha a nossa própria experiência enquanto seres<br />
humanos, a inveja não é o melhor incentivo para a prática <strong>de</strong> boas ações. Não<br />
política da comédia, que explorou quer a sua vida pública, quer a privada (cf. Ar. Nu. 551-558).<br />
Foi atacado por ser um político «nova-vaga», <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> social duvi<strong>dos</strong>a e pouco culto (mal sabia<br />
soletrar – Eup. fr. 193 K.-A), ou seja, que preenchia to<strong>dos</strong> os requisitos para essa ativida<strong>de</strong>,<br />
no contexto que se seguiu à morte <strong>de</strong> Péricles. Por conta da sua ascendência, foi apelidado <strong>de</strong><br />
«mercador <strong>de</strong> lanternas» (já que foi essa a prossão do seu pai, Antífanes – cf. Ar. Eq. 739, Nu.<br />
1065; Pax 690), foi apresentado como um estrangeiro (talvez por não provir das classes que até<br />
então forneciam homens <strong>de</strong> <strong>Estado</strong>) e viu a sua paternida<strong>de</strong> posta <strong>em</strong> causa. <strong>Plutarco</strong> fala <strong>de</strong>ste<br />
indivíduo com algum <strong>de</strong>senvolvimento <strong>em</strong> Alc. 13. 4-9 e Nic. 11. Cf. Connor (1971: 163-169).<br />
61 A este propósito, <strong>Plutarco</strong> (Alc. 13. 9) cita três trímetros <strong>de</strong> Platão Cómico (fr. 187 K.-A.),<br />
que con<strong>de</strong>nam a aplicação do ostracismo a Hipérbolo. Arist. Pol. 1284a15-20 arma que os<br />
esta<strong>dos</strong> <strong>de</strong>mocráticos, que buscam a igualda<strong>de</strong> acima <strong>de</strong> todas as coisas, instituíram o ostracismo<br />
para afastar, por perío<strong>dos</strong> xos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, to<strong>dos</strong> os que se revelavam especialmente po<strong>de</strong>rosos<br />
por causa da sua riqueza (Plu. Arist. 1. 2) ou popularida<strong>de</strong>, ou por qualquer outra forma <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
político (Plu. <strong>em</strong>. 22. 4-5).<br />
62 Ainda que [And.] 4. 33 apresente, como causa para o ostracismo <strong>de</strong> Címon, o facto <strong>de</strong> este<br />
manter relações incestuosas com a irmã Elpinice.<br />
63 Cf. Plu. Arist. 7. 2.<br />
64 <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>senvolve este t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> Nic. 9.<br />
206