O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />
Deste modo, <strong>Plutarco</strong> reforça a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um progresso civilizacional e<br />
cívico, já que Teseu se limita a vencer os inimigos, s<strong>em</strong> os matar, assumindo<br />
assim um comportamento civilizado 56 .<br />
É certo que o próprio Alcibía<strong>de</strong>s não chegou a matar ninguém, mas o<br />
seu comportamento para com os adversários foi muito menos ético do que o<br />
<strong>de</strong> Teseu e o <strong>de</strong> Péricles 57 . Quando se lançou na carreira política, Alcibía<strong>de</strong>s<br />
conseguiu, com facilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> acordo com as previsões daqueles que o incitaram<br />
a ingressar na vida ativa, obscurecer os <strong>de</strong>mais oradores, ainda que dois lhe<br />
tenham oferecido maior resistência: Féax 58 , um jov<strong>em</strong> também ele <strong>em</strong> início<br />
<strong>de</strong> carreira (mas relativamente ao qual <strong>Plutarco</strong> faz questão <strong>de</strong> salientar uma<br />
ascendência quando este regressou e qualida<strong>de</strong>s, inferiores às <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s –<br />
sobretudo no que respeita à oratória), e Nícias, um general <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> avançada<br />
(Alc. 13. 1).<br />
Nícias e Alcibía<strong>de</strong>s acabaram por se tornar nos principais representantes<br />
<strong>de</strong> cada um <strong>dos</strong> parti<strong>dos</strong>. Juntos, <strong>de</strong>ram provas <strong>de</strong> que os políticos <strong>de</strong> um modo<br />
geral – e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> t<strong>em</strong>pos im<strong>em</strong>oriais – <strong>em</strong>bora sejam adversários na cena, s<strong>em</strong>pre<br />
que sent<strong>em</strong> o seu lugar ameaçado, se aliam para tentar evitar perdê-lo.<br />
Segundo o relato <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> (Nic. 11, Arist. 7. 3-4, Alc. 13. 4-9),<br />
estabeleceram uma espécie <strong>de</strong> pacto <strong>de</strong> regime quando <strong>de</strong>scobriram que<br />
um <strong>de</strong>les estava na iminência <strong>de</strong> ser con<strong>de</strong>nado ao ostracismo 59 : Alcibía<strong>de</strong>s,<br />
por causa da vida que levava e da sua <strong>de</strong>sfaçatez; Nícias, porque além <strong>de</strong> a<br />
sua riqueza causar inveja, tinha um comportamento pouco social e pouco<br />
<strong>de</strong>mocrático. Uni<strong>dos</strong>, conseguiram fazer <strong>de</strong> Hipérbolo 60 , um <strong>hom<strong>em</strong></strong> s<strong>em</strong><br />
56 Vi<strong>de</strong> supra p. 57. Recor<strong>de</strong>-se, ainda, que a luta <strong>de</strong> Teseu com os bandi<strong>dos</strong> que infestavam<br />
o caminho por terra para Atenas se reveste <strong>de</strong> contornos s<strong>em</strong>elhantes: o jov<strong>em</strong> só atacava para<br />
se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e recorria aos mesmos meios que eram utiliza<strong>dos</strong> contra os viajantes; não aproveitava<br />
para dar largas a uma violência gratuita (cf. supra pp. 56 e 64).<br />
57 Embora <strong>Plutarco</strong> se recuse a atribuir a Péricles qualquer responsabilida<strong>de</strong> pela morte<br />
do seu amigo Ealtes e saia <strong>em</strong> sua <strong>de</strong>fesa, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> referir que Idomeneu havia acusado o<br />
estadista <strong>de</strong>, por inveja e ciúmes da reputação, ter matado o companheiro <strong>de</strong> política (Per. 10.<br />
7). Esta é, s<strong>em</strong> dúvida, uma das ocasiões <strong>em</strong> que o biógrafo apresenta o Alcmeónida como um<br />
ser humano imperfeito, que po<strong>de</strong>ria cometer alguns erros, mas jamais tão hedion<strong>dos</strong>: <br />
<br />
“<strong>hom<strong>em</strong></strong> que <strong>de</strong>certo não era perfeito, mas que tinha um<br />
espírito nobre e alma se<strong>de</strong>nta <strong>de</strong> glória, on<strong>de</strong> uma paixão tão cruel e selvag<strong>em</strong> não teria lugar.”<br />
Parece-nos que tal calúnia seria mais plausível se o visado fosse Alcibía<strong>de</strong>s, não porque haja<br />
relatos <strong>de</strong> que tenha cometido crimes <strong>de</strong>sta natureza, antes porque o seu espírito era mais<br />
permeável a reações apaixonadas.<br />
58 Consta que Féax terá redigido um «Contra Alcibía<strong>de</strong>s», on<strong>de</strong> acusa o Alcmeónida <strong>de</strong><br />
abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, por usar no dia-a-dia vasos <strong>de</strong> ouro e <strong>de</strong> prata proprieda<strong>de</strong> da . Cf. Alc. 13.<br />
3. Sobre este jov<strong>em</strong> <strong>de</strong> boas famílias, vi<strong>de</strong> uc. 5. 4-5; Ar. Eq. 1377.<br />
59 Alc. 13. 7 é o único <strong>dos</strong> textos <strong>em</strong> causa a incluir Féax no rol <strong>dos</strong> «candidatos» a ostracismo.<br />
Em Nic. 11. 10, contudo, <strong>Plutarco</strong> arma conhecer essa versão – que atribui a Teofrasto (<strong>em</strong> <br />
, segundo o escoliasta do Tímon <strong>de</strong> Luciano) – mas admite preferir a versão que narrou,<br />
que é a da maioria. Vi<strong>de</strong> Carcopino (1935: 206-239); Van<strong>de</strong>rpool (1970: 28-29).<br />
60 Sobre a gura <strong>de</strong> Hipérbolo, vi<strong>de</strong> Nic. 11. 3-4. Também Hipérbolo não escapou à sátira<br />
205