17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

se convertesse por completo <strong>em</strong> uma monarquia. Desta feita, criou-se um<br />

equilíbrio <strong>de</strong> forças políticas que conduziu à cisão da população <strong>em</strong> duas fações:<br />

a do povo e a oligarca. Foi então que o lho <strong>de</strong> Xantipo recorreu novamente ao<br />

favorecimento do povo para consolidar a sua posição 51 , mas só entre 444/443<br />

a.C. (consoante as versões) conseguiu que Tucídi<strong>de</strong>s fosse votado ao ostracismo<br />

e que a oposição fosse dissolvida (Per. 14. 3), tornando-se, ainda que <strong>de</strong>ntro <strong>dos</strong><br />

limites legais, no <strong>hom<strong>em</strong></strong> mais po<strong>de</strong>roso <strong>de</strong> Atenas 52 .<br />

Vejamos, agora, qual foi o comportamento <strong>de</strong> Teseu e Alcibía<strong>de</strong>s para com<br />

os seus adversários.<br />

Teseu tinha, por assim dizer, dois gran<strong>de</strong>s rivais: o pai, que ocupava o trono,<br />

e os seus cinquenta primos, que esperavam com ansieda<strong>de</strong> a morte <strong>de</strong> Egeu<br />

para se tornar<strong>em</strong> senhores <strong>de</strong> Atenas. A versão que <strong>Plutarco</strong> narra é aquela<br />

que po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar politicamente correta: Teseu comete um parricídio<br />

involuntário 53 , ao ser o móbil do falecimento do pai, mas, porque não suja<br />

diretamente as mãos, não <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia o castigo divino e ca ilibado <strong>de</strong> uma<br />

culpa que o impediria <strong>de</strong> exercer o po<strong>de</strong>r. Embora Alcibía<strong>de</strong>s não tenha feito<br />

nada <strong>de</strong> parecido, é difícil não associar a esta ação do fundador o facto <strong>de</strong> um<br />

<strong>dos</strong> motivos que antecipou o ingresso <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s na vida ativa ter sido o<br />

seu <strong>de</strong>sejo consciente <strong>de</strong> rivalizar com um «antepassado», Péricles, do mesmo<br />

modo que, <strong>em</strong> outros contextos, zeram Ciro, <strong>em</strong> relação ao avô, e Rómulo,<br />

ao tio-avô.<br />

É, porém, sobretudo relativamente aos Palântidas que se nota que a opção<br />

<strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> por uma <strong>de</strong>terminada versão da história respon<strong>de</strong> a objetivos<br />

especícos <strong>de</strong> construção da biograa <strong>em</strong> causa 54 . O Queroneu queria fazer<br />

passar a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma evolução política tranquila <strong>em</strong> Atenas (cf. es. 24. 2),<br />

pelo que não lhe convinha relacionar a morte <strong>dos</strong> Palântidas com o sinecismo<br />

(cf. Apollod. Epit. 1. 11). Por conseguinte, situa a vitória <strong>de</strong> Teseu sobre os<br />

Palântidas (que sonhavam impedir o acesso <strong>dos</strong> <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Egeu ao<br />

po<strong>de</strong>r) logo a seguir ao reconhecimento e não menciona que, por causa da<br />

morte <strong>dos</strong> primos, o jov<strong>em</strong> teve <strong>de</strong> se submeter a rituais <strong>de</strong> puricação e ao<br />

julgamento <strong>de</strong>lfínio 55 que o absolveu.<br />

51 Vi<strong>de</strong> infra p. 221.<br />

52 De um modo geral, aponta-se como data do ostracismo <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s, lho <strong>de</strong> Melésio, o<br />

ano <strong>de</strong> 443 a.C., pois <strong>em</strong> Per. 16. 3, <strong>Plutarco</strong> arma que a supr<strong>em</strong>acia <strong>de</strong> Péricles se prolongou<br />

por quinze anos após este acontecimento. No entanto, esta data não é aceite s<strong>em</strong> controvérsia:<br />

se admitirmos que o último ano <strong>de</strong> Péricles no po<strong>de</strong>r é o da sua <strong>de</strong>posição (outono <strong>de</strong> 430 a.C.),<br />

então o ostracismo <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s foi votado no início <strong>de</strong> 444 a.C.; se consi<strong>de</strong>rarmos que Péricles<br />

só abandona o po<strong>de</strong>r com a morte (novamente reeleito estratego na primavera <strong>de</strong> 429 a.C.) a<br />

data é, <strong>de</strong> facto, 443. Cf. Lewis (1992: 474, n. 7).<br />

53 Tal como Édipo. Vi<strong>de</strong> supra p. 69<br />

54 Moralia 112D e 607A conrmam o conhecimento <strong>de</strong> outras variantes da história, o que<br />

confere maior signicado à versão que o biógrafo segue na Vida.<br />

55 Cf. supra p. 66, notas 72 e 73 respetivamente.<br />

204

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!