O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />
rival, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>, ao que parece, ter rmado um acordo com a irmã daquele 46 ,<br />
segundo o qual Címon iria comandar o exército no exterior para conquistar<br />
o território do Gran<strong>de</strong> Rei 47 , enquanto Péricles caria a exercer o po<strong>de</strong>r na<br />
cida<strong>de</strong> (Per. 10. 5).<br />
<strong>Plutarco</strong> conta ainda que já anteriormente Péricles havia poupado Címon,<br />
<strong>em</strong> uma altura <strong>em</strong> que «enfrentava uma acusação capital» 48 . É que, eleito<br />
acusador do adversário, Péricles ter-se-ia limitado a cumprir a sua função, s<strong>em</strong><br />
tirar partido da conjuntura 49 . É certo que as más línguas insinuam que tal<br />
benevolência terá resultado <strong>dos</strong> pedi<strong>dos</strong> feitos por Elpinice ao general, mas o<br />
biógrafo sugere que o estadista recusou o que quer que ela lhe tenha oferecido<br />
<strong>em</strong> troca.<br />
Depois da morte <strong>de</strong> Címon (ca. 450 a.C.; Per. 10. 8), por ocasião da<br />
campanha <strong>em</strong> Chipre, Péricles tornava-se, pela segunda vez (a primeira<br />
correspondia ao exílio <strong>de</strong> Címon), o mais po<strong>de</strong>roso <strong>dos</strong> cidadãos, mas foi <strong>de</strong><br />
imediato confrontado com o aparecimento <strong>de</strong> um novo rival, Tucídi<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Alópece 50 . Este era apoiado pelos aristocratas que queriam evitar que o regime<br />
46 Desconhece-se a fonte <strong>de</strong>sta anedota, que po<strong>de</strong> ser uma versão modicada <strong>de</strong> uma outra<br />
da autoria <strong>de</strong> Antístenes. Este autor, entre outras alusões mordazes que faz à vida sexual <strong>de</strong><br />
Péricles, arma que Elpinice teve <strong>de</strong> pagar o preço do regresso do irmão (Ath. 589e). Sobre este<br />
t<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong> infra p. 241, nota 152.<br />
47 De acordo com Plu. Cim. 18. 1, este teria assumido voluntariamente a tarefa na tentativa<br />
<strong>de</strong> evitar a guerra entre os Gregos. Em Moralia 812E, po<strong>de</strong> ler-se que Péricles optou por repartir<br />
o po<strong>de</strong>r com Címon por ter uma natureza mais apta para a política enquanto o rival era mais<br />
dotado para as questões bélicas. A alusão a esta partilha <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r é mais um <strong>dos</strong> muitos ex<strong>em</strong>plos<br />
que o biógrafo apresenta para conrmar a tese <strong>de</strong> que o bom político sabe <strong>de</strong>legar funções. Sobre<br />
este assunto, vi<strong>de</strong> supra p. 201, nota 40. No entanto, <strong>em</strong> Phoc. 7. 5-6, <strong>Plutarco</strong> elogia os estadistas<br />
que, como Péricles, são senhores <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s políticas e militares.<br />
48 Em Cim. 14. 3-5, o Queroneu, com base <strong>em</strong> Estesímbroto (FGrHist 107 F 5), conta que<br />
este inci<strong>de</strong>nte teve lugar <strong>de</strong>pois da redução <strong>de</strong> Tasos (ca. 463 a.C.). Nesta altura, acusaram-no<br />
<strong>de</strong> ter aceitado subornos para não atacar a Macedónia.<br />
49 Neste passo, <strong>Plutarco</strong> preten<strong>de</strong> pôr mais uma vez <strong>em</strong> evidência a <strong>de</strong> Péricles. É<br />
provavelmente por essa razão que o relato do episódio assume contornos totalmente diferentes<br />
consoante a personag<strong>em</strong> que é objeto <strong>de</strong> biograa: aqui, o Queroneu sugere que Péricles <strong>de</strong>u<br />
pouca importância à oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prejudicar o adversário; porém, <strong>em</strong> Cim. 14. 5, arma<br />
que aquele soube tirar partido das circunstâncias <strong>em</strong> benefício da sua carreira. Na Vida <strong>de</strong><br />
Címon, <strong>Plutarco</strong> parece partilhar da opinião <strong>de</strong> Aristóteles (Ath. 27. 1), que faz coincidir o<br />
acontecimento com a primeira vitória política <strong>de</strong> Péricles antes <strong>de</strong> se tornar lí<strong>de</strong>r <strong>dos</strong> populares.<br />
Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> infra p. 205, nota 57.<br />
50 Tucídi<strong>de</strong>s, lho <strong>de</strong> Melésio, foi um orador exímio, escolhido pelos aristocratas para<br />
ocupar o lugar que a morte <strong>de</strong> Címon – <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> era parente por anida<strong>de</strong> – <strong>de</strong>ixara vago na<br />
oposição a Péricles. Apesar <strong>de</strong> ter sido uma gura importante na política da década <strong>de</strong> 440 a.C.,<br />
pouco se sabe a seu respeito, sobretudo porque foi muitas vezes confundido com homónimos,<br />
nomeadamente o historiador. Uma das suas principais tentativas para <strong>de</strong>rrubar a inuência do<br />
estadista, que crescia visivelmente a cada dia, consistiu no ataque ao programa <strong>de</strong> reconstrução<br />
da cida<strong>de</strong>. No entanto, o único po<strong>de</strong>r que conseguiu abalar foi o seu próprio, já que acabou<br />
votado ao ostracismo, <strong>de</strong>ixando o caminho livre para o seu adversário e para o orescimento da<br />
<strong>de</strong>mocracia. Segundo Diógenes Laércio, terá sido Tucídi<strong>de</strong>s a acusar Anaxágoras <strong>de</strong> impieda<strong>de</strong><br />
(vi<strong>de</strong> infra p. 248, nota 180), por rivalida<strong>de</strong> contra Péricles.<br />
203