17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

sobretudo até atingir a supr<strong>em</strong>acia. Vejamos, por isso, como proce<strong>de</strong>u para<br />

conquistar e armar o seu espaço na cena política.<br />

O seu maior rival começou por ser Címon, que, como já diss<strong>em</strong>os,<br />

recorria a medidas <strong>de</strong>magógicas (como a distribuição <strong>de</strong> bens priva<strong>dos</strong>)<br />

para conquistar o povo, o que fez com que Péricles executasse uma série <strong>de</strong><br />

medidas favoráveis ao <strong>de</strong>mos – como a instauração da mistoforia 42 . Por isso,<br />

quando aquele regressou das campanhas militares além fronteiras, o jov<strong>em</strong><br />

lho <strong>de</strong> Xantipo viu-se forçado a tentar afastá-lo da cena política. Ainda que<br />

esta armação possa sugerir uma certa <strong>de</strong>slealda<strong>de</strong> da parte <strong>de</strong> Péricles, o<br />

certo é que – sobretudo por comparação com o comportamento <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s<br />

<strong>em</strong> situação similar 43 – agiu com gran<strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>, «às claras», recorrendo<br />

a um instrumento consagrado pela lei, o ostracismo, e à gran<strong>de</strong> inuência<br />

que tinha sobre o povo. Conseguiu, assim, que o rival fosse <strong>de</strong>sterrado sob<br />

a acusação <strong>de</strong> laconismo 44 , <strong>em</strong> 461 a.C. No entanto, não se tratou <strong>de</strong> uma<br />

vitória <strong>de</strong>nitiva: é que mesmo antes <strong>de</strong> o exílio daquele ter chegado ao<br />

m, o bom-senso <strong>de</strong> Péricles fê-lo satisfazer a vonta<strong>de</strong> da população, que<br />

exigia o regresso <strong>de</strong> Címon, na sequência da <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Tanagra 45 . Consta<br />

que terá sido o próprio Péricles a redigir o <strong>de</strong>creto que permitia o regresso do<br />

42 Vi<strong>de</strong> infra pp. 218-219.<br />

43 Vi<strong>de</strong> infra pp. 205-206.<br />

44 Címon foi acusado <strong>de</strong> laconismo por causa da admiração que nutria por Esparta, bastante<br />

compreensível se tivermos <strong>em</strong> conta que era um anti<strong>de</strong>mocrata sau<strong>dos</strong>ista da oligarquia aí<br />

vigente. O irmão <strong>de</strong> Elpinice não negava essa condição, antes pelo contrário: segundo Plu. Cim.<br />

14. 4, assume-se como próxeno da Lace<strong>de</strong>mónia. O biógrafo conta que os lhos <strong>de</strong>le, além da<br />

orig<strong>em</strong> lace<strong>de</strong>mónia tinham nomes lace<strong>de</strong>mónios, facto que o próprio Péricles utiliza como<br />

arma <strong>de</strong> ataque contra o opositor e respetiva prole (Per. 29. 1-2 – cf. infra p. 277, nota 306). Por<br />

isso, Címon procurava auxiliar os Espartanos <strong>em</strong> questões militares, valendo-se da aliança que<br />

ambos os povos haviam celebrado aquando das Guerras Médicas. Mas Atenas, que se sentia<br />

cada vez mais conante no seu po<strong>de</strong>r, já não estava muito interessada <strong>em</strong> manter o pacto – basta<br />

l<strong>em</strong>brar que Ealtes tentou impedir (<strong>em</strong>bora s<strong>em</strong> êxito) que Címon partisse para a Messénia<br />

<strong>em</strong> auxílio <strong>dos</strong> Lace<strong>de</strong>mónios <strong>em</strong> 462 a.C. A insistência <strong>de</strong> Címon acabou por ser a sua própria<br />

<strong>de</strong>sgraça: consta que as tropas sob o seu comando não tiveram o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho que os Espartanos<br />

esperavam. Como estes começavam a t<strong>em</strong>er o po<strong>de</strong>rio <strong>de</strong> Atenas, pensaram que essa «falta<br />

<strong>de</strong> êxito» era propositada e dispensaram as forças <strong>ateniense</strong>s. A autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Címon cou<br />

<strong>de</strong>sacreditada e, quando ele tentou opor-se à reforma do Areópago, não foi difícil acusá-lo <strong>de</strong><br />

laconismo e votá-lo ao ostracismo. Vi<strong>de</strong> Lewis (1992: 69-72).<br />

45 Na primavera <strong>de</strong> 457 a.C. (cf., e. g., uc. 1. 107. 2 - 108. 1), os Espartanos tinham partido<br />

<strong>em</strong> socorro da Dórida que fora atacada pela Fócida. Cumprido o intento, no regresso a casa,<br />

foram ataca<strong>dos</strong> <strong>em</strong> Tanagra pelos Atenienses, que suspeitavam das intenções <strong>dos</strong> Lace<strong>de</strong>mónios:<br />

t<strong>em</strong>iam um ataque <strong>dos</strong> <strong>de</strong>fensores da oligarquia, incitado pelos anti<strong>de</strong>mocratas <strong>de</strong> Atenas.<br />

Címon apressou-se a combater ao lado <strong>dos</strong> concidadãos, mas foi prontamente afastado da<br />

refrega pelos alia<strong>dos</strong> <strong>de</strong> Péricles. Este por sua vez, teve uma excelente prestação, que não foi<br />

suciente para que os Atenienses alcançass<strong>em</strong> a vitória. Stadter (1989: 123) consi<strong>de</strong>ra que a<br />

participação <strong>de</strong> Péricles nesta batalha talvez seja invenção <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>. Nessa altura, o povo, que<br />

já contava com a continuação da guerra na primavera seguinte, mostrou-se arrependido por ter<br />

permitido o afastamento <strong>de</strong> Címon. E o certo é que, quando este regressou, foi o responsável<br />

pela paz, por causa da simpatia que os Lace<strong>de</strong>mónios tinham por ele.<br />

202

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!