17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

maioria popular à minoria <strong>dos</strong> ricos. Tal <strong>de</strong>cisão revela gran<strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong><br />

e controlo <strong>de</strong> si mesmo. A preferência pela fação popular mostrou ser a mais<br />

correta, porque, ao fazê-lo, Péricles conseguiu, ao mesmo t<strong>em</strong>po, garantir a sua<br />

segurança (evitando conotações com a tirania) e um apoio <strong>de</strong> peso contra o<br />

rival (pois Címon tinha a simpatia da aristocracia).<br />

Importa, neste momento, reetir sobre a forma <strong>de</strong> agir <strong>de</strong> Péricles. À<br />

primeira vista, parece-nos que a alteração <strong>de</strong> comportamento <strong>em</strong> função <strong>de</strong><br />

um objetivo a alcançar é uma capacida<strong>de</strong> que caracteriza os dois estadistas<br />

alcmeónidas <strong>em</strong> causa. No entanto, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os ter <strong>em</strong> conta que, enquanto<br />

Alcibía<strong>de</strong>s faz <strong>de</strong>ssas alterações <strong>de</strong> comportamento um modo <strong>de</strong> vida, que<br />

parece ser-lhe inato, Péricles modica a sua maneira <strong>de</strong> agir contrariado, mas<br />

pensando no b<strong>em</strong> comum. D<strong>em</strong>ais, a mudança é passageira, funciona como<br />

meio para atingir um m 32 , já que só se aproximou do povo para vencer Címon,<br />

que recorria a medidas <strong>de</strong>magógicas, como a distribuição <strong>de</strong> bens priva<strong>dos</strong>, ao<br />

que Péricles se viu obrigado a respon<strong>de</strong>r com a distribuição <strong>de</strong> bens públicos,<br />

porque, apesar <strong>de</strong> rico, era mais pobre do que o rival (Per. 9. 1-2).<br />

Este tipo <strong>de</strong> comportamento não é muito <strong>de</strong>senvolvido por <strong>Plutarco</strong> na<br />

Vida <strong>de</strong> Péricles, o que é compreensível, já que o facto <strong>de</strong> o lho <strong>de</strong> Xantipo<br />

adotar medidas populares para subir ao po<strong>de</strong>r constitui uma diculda<strong>de</strong> para<br />

a caracterização do herói, que ele preten<strong>de</strong> apresentar como um <strong>dos</strong> melhores<br />

ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> estadistas <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os t<strong>em</strong>pos 33 . Na Vida <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, pelo<br />

contrário, o biógrafo parece tratar o t<strong>em</strong>a com mais à-vonta<strong>de</strong>, como ver<strong>em</strong>os<br />

adiante no capítulo relativo à ativida<strong>de</strong> política propriamente dita <strong>dos</strong> dois<br />

estadistas.<br />

A forma como Péricles encarava a vida política levou-o ainda a modicar<br />

– a título permanente – alguns hábitos <strong>de</strong> vida social, por enten<strong>de</strong>r que<br />

a exposição não se coaduna com a austerida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve caracterizar um<br />

verda<strong>de</strong>iro político e que po<strong>de</strong> mesmo comprometer o respeito que o povo<br />

lhe t<strong>em</strong> (Per. 7. 5). Segundo <strong>Plutarco</strong> (Per. 7. 6), isolando-se assim, pretendia<br />

conservar a admiração que se t<strong>em</strong> pela virtu<strong>de</strong> daqueles cujos feitos são <strong>de</strong><br />

renome, mas com os quais não privamos no dia-a-dia. Esta era uma prática<br />

corrente, sobretudo nas monarquias orientais. Segundo Hdt. 1. 99, Déjoces,<br />

um antecessor <strong>de</strong> Ciro, t<strong>em</strong> uma atitu<strong>de</strong> s<strong>em</strong>elhante ao cultivar, também ele, o<br />

isolamento como forma <strong>de</strong> impor autorida<strong>de</strong>.<br />

Penso que este é um critério válido: to<strong>dos</strong> sab<strong>em</strong>os que a familiarida<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> levar a situações <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>o à-vonta<strong>de</strong>, o que aumenta a probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se cometer um <strong>de</strong>slize que macule a opinião que os outros faz<strong>em</strong> <strong>de</strong> alguém.<br />

E isso sobretudo no <strong>caso</strong> <strong>de</strong> guras públicas – como os políticos. Ainda nos<br />

32 Sobre a posição <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> a respeito da relação entre meios e ns, vi<strong>de</strong> supra p. 169,<br />

nota 46.<br />

33 Cf. Stadter (1987: 251-269).<br />

199

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!