O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />
salvo por Sócrates, como se tivesse sido ele a salvar o lósofo – cf. nota 18, p.<br />
196), o test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> uma capacida<strong>de</strong> inata para se aproveitar <strong>dos</strong> outros, da<br />
sua falta <strong>de</strong> limites (ou se quisermos, <strong>de</strong> ) e da necessida<strong>de</strong> que<br />
tinha <strong>de</strong> viver ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> luxo 29 e riqueza. Além disso, é mais um el<strong>em</strong>ento<br />
que corrobora a tendência tirânica do seu caráter, já que os Jogos Olímpicos<br />
eram, por excelência, uma das ocasiões <strong>em</strong> que os tiranos <strong>de</strong>monstravam o seu<br />
po<strong>de</strong>r diante <strong>dos</strong> outros Gregos e já que quer os preparativos da prova quer os<br />
festejos foram excessivos a ponto <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> ser compara<strong>dos</strong> ao fausto persa 30 .<br />
Vistos que estão os fatores que inuenciaram o início da ativida<strong>de</strong> política<br />
<strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, vejamos como se processou o <strong>de</strong> Péricles que, como já diss<strong>em</strong>os,<br />
começou por se <strong>de</strong>dicar à vida militar.<br />
Da estratégia que Péricles pôs <strong>em</strong> prática, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r que o<br />
ingresso na ativida<strong>de</strong> política implica a espera pelo momento oportuno, a<br />
procura <strong>de</strong> apoio na área oposta à do rival e uma alteração <strong>de</strong> comportamento<br />
para alcançar o objetivo <strong>em</strong> causa. Senão vejamos: apenas <strong>de</strong>cidiu intervir<br />
quando os «dinossauros» da política daquele t<strong>em</strong>po já não estavam no ativo 31 .<br />
Assim, consi<strong>de</strong>rou que estavam reunidas as condições favoráveis quando<br />
Aristi<strong>de</strong>s morreu, T<strong>em</strong>ístocles foi exilado e Címon se ausentou <strong>de</strong> Atenas <strong>em</strong><br />
campanhas militares.<br />
Mas não lhe bastava aproveitar essas circunstâncias. Era necessário<br />
encontrar o aliado certo, n<strong>em</strong> que para isso fosse obrigado a contrariar a<br />
sua própria natureza, que, segundo <strong>Plutarco</strong> (Per. 7. 4), era muito pouco<br />
populista ( ), e a associar-se ao povo, preferindo a<br />
29 O luxo (), enquanto prática essencialmente aristocrática, é tida como inuência<br />
bárbara e f<strong>em</strong>inina. Cf. Xenófanes fr. 3W.<br />
30 Cf. [And.] 4. 29-30. Sobre a relação entre a tendência tirânica e prestação olímpica <strong>de</strong><br />
Alcibía<strong>de</strong>s, vi<strong>de</strong> Gribble (1999: 60-67, 136). Fica, mais uma vez, evi<strong>de</strong>nte que Alcibía<strong>de</strong>s, ao<br />
contrário <strong>de</strong> Péricles, não tinha qualquer probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> ver o seu comportamento ser conotado<br />
com o <strong>de</strong> um tirano.<br />
31 Durante as cerca <strong>de</strong> duas décadas que se seguiram às batalhas <strong>de</strong> Maratona (490 a.C.),<br />
Salamina (480 a.C.) e Plateias (479 a.C.) – <strong>de</strong>cisivas para esbater o perigo persa –, Aristi<strong>de</strong>s (ca.<br />
540-468 a.C.) e T<strong>em</strong>ístocles (ca. 528-462 a.C.) ocuparam posições <strong>de</strong> relevo na vida política<br />
<strong>de</strong> Atenas, pois tinham dado gran<strong>de</strong> contributo para a <strong>de</strong>rrota do inimigo: o primeiro alcançara<br />
a glória <strong>em</strong> Maratona; o segundo, além <strong>de</strong> ter sido o responsável pela organização da frota que<br />
viria a ser a mais po<strong>de</strong>rosa da Grécia, tinha sido o comandante da batalha <strong>de</strong> Salamina, na qual<br />
Címon participou sob as suas or<strong>de</strong>ns. Aristi<strong>de</strong>s, conhecido pelo seu sentido <strong>de</strong> justiça e rigor,<br />
foi incumbido da constituição <strong>de</strong> uma aliança entre Atenas e os seus alia<strong>dos</strong> que tinha por<br />
objetivo fazer frente ao inimigo bárbaro: com a Simaquia <strong>de</strong> Delos, os Gregos pretendiam estar<br />
prepara<strong>dos</strong> para eventuais retaliações e libertar os muitos Helenos que ainda se encontravam<br />
sob o jugo do Rei. Durante esta fase, Aristi<strong>de</strong>s foi também o comandante da frota <strong>de</strong> Atenas.<br />
Só <strong>em</strong> 476 a.C. é que Címon, até então seu subordinado, o substituiu nesta função, passando a<br />
ausentar-se com mais frequência <strong>de</strong> Atenas. Quanto a T<strong>em</strong>ístocles, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter sido arconte<br />
<strong>em</strong> 493 a.C. (período no qual organizou a frota), não voltou a ser eleito para nenhum cargo<br />
importante e terminou os seus dias no exílio, acusado <strong>de</strong> se ter aliado aos Persas (472 a.C.). Vi<strong>de</strong><br />
Lewis (1992: 40-67).<br />
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