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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

Péricles <strong>de</strong>monstra <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início a sua famosa 7 , pois, ao<br />

contrário <strong>de</strong> Teseu e Alcibía<strong>de</strong>s, num primeiro momento, t<strong>em</strong>e enfrentar o<br />

povo. Não se tratava <strong>de</strong> um medo infundado, sinónimo <strong>de</strong> mera cobardia 8 , mas<br />

antes <strong>de</strong> uma maneira <strong>de</strong> evitar a forte contestação popular. É que, apesar <strong>de</strong><br />

a família <strong>dos</strong> Alcmeónidas estar associada à implantação da <strong>de</strong>mocracia <strong>em</strong><br />

Atenas 9 , Péricles apresentava s<strong>em</strong>elhanças com Pisístrato, o tirano que o seu<br />

antepassado Clístenes ajudara a <strong>de</strong>rrubar. A m<strong>em</strong>ória da tirania era, portanto,<br />

algo ainda muito presente, sobretudo no espírito das pessoas <strong>de</strong> mais ida<strong>de</strong><br />

e Péricles não podia (n<strong>em</strong> queria) correr o risco <strong>de</strong> provocar suspeitas <strong>de</strong><br />

pretensão <strong>de</strong> restaurar novamente esse regime, sob pena <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver contra<br />

si gran<strong>de</strong> oposição. É que além das s<strong>em</strong>elhanças com Pisístrato, quer <strong>em</strong><br />

termos sionómicos (), quer<br />

na voz e na agilida<strong>de</strong> do discurso (<br />

) 10 , Péricles reunia outras<br />

condições que podiam fazer com que o seu nome fosse votado para ostracismo:<br />

riqueza, o facto <strong>de</strong> ser m<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> família ilustre e <strong>de</strong> ter amigos po<strong>de</strong>rosos 11 .<br />

Por tudo isso, e para evitar probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>snecessários, numa primeira fase,<br />

opta por se <strong>de</strong>dicar à vida militar (on<strong>de</strong> se revela corajoso 12 e <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dor –<br />

), s<strong>em</strong> se imiscuir <strong>em</strong><br />

assuntos <strong>de</strong> natureza política e consciente <strong>de</strong> que era necessário esperar pelo<br />

momento oportuno.<br />

Enquanto Péricles parece ter um plano e age cuida<strong>dos</strong>amente, <strong>de</strong>ixando<br />

a sugestão <strong>de</strong> que o ingresso na vida política não é simples, Alcibía<strong>de</strong>s fá-lo<br />

<strong>de</strong>spreocupadamente, s<strong>em</strong> <strong>de</strong>monstrar (como aliás lhe era próprio) qualquer<br />

prurido com a opinião <strong>dos</strong> outros a seu respeito e s<strong>em</strong> sequer pôr a hipótese<br />

<strong>de</strong> não ser b<strong>em</strong> sucedido 13 . Uma tal atitu<strong>de</strong> provoca-nos maior admiração 14 ,<br />

7 Aristóteles (EN 1140b4) <strong>de</strong>ne assim a prudência (:<br />

– ‘resta, pois, que esta é uma<br />

capacida<strong>de</strong> autêntica e racional, que leva a agir segundo aquilo que é bom ou mau para o <strong>hom<strong>em</strong></strong>.’<br />

8 Péricles foi por diversas vezes acusado <strong>de</strong> cobardia. Basta-nos recordar os ataques <strong>de</strong> que<br />

foi vítima por causa da estratégia adotada na Guerra do Peloponeso – cf. Per. 33. 7. Fábio<br />

Máximo foi alvo <strong>de</strong> acusação s<strong>em</strong>elhante (Fab. 5. 3). Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> infra pp. 225, 269.<br />

9 Disso nos dá test<strong>em</strong>unho, por ex<strong>em</strong>plo, Isoc. 16. 25-28, a propósito <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s. Segundo<br />

o orador, era antiga e nobre a amiza<strong>de</strong> que unia o povo à família <strong>dos</strong> Alcmeónidas.<br />

10 Per. 7. 1. Estes traços são aproveita<strong>dos</strong> com alguma frequência pelos cómicos que o acusam<br />

<strong>de</strong> querer restaurar a tirania <strong>em</strong> Atenas (Per. 16. 1).<br />

11 Em Arist. 1. 7, <strong>Plutarco</strong> arma que qualquer <strong>hom<strong>em</strong></strong> cuja reputação superior se <strong>de</strong>vesse ao<br />

nascimento ou à eloquência era um potencial alvo <strong>de</strong>ste mecanismo e apresenta como ex<strong>em</strong>plo<br />

Dámon, o mestre <strong>de</strong> Péricles, banido por causa da sua inteligência.<br />

12 Sobre esta virtu<strong>de</strong> – – vi<strong>de</strong> EN 1115a6-1116a10.<br />

13 Péricles correspon<strong>de</strong>, assim, ao ex<strong>em</strong>plo do bom político, cujo ingresso na ativida<strong>de</strong> é<br />

meticulosamente planeado (Moralia 798C, 799A); já Alcibía<strong>de</strong>s tipica aqueles que optam<br />

por esta carreira movi<strong>dos</strong> por um impulso, pelas circunstâncias, ou simplesmente por vanglória<br />

(Moralia 798C-E).<br />

14 <strong>Plutarco</strong> (Moralia 804D) menciona que o povo acolhe melhor os políticos que iniciam a<br />

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