O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O triunfo da sobre o <br />
No entanto, ainda que Heródoto tenha cado conhecido como «pai<br />
da história», foi, por razões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m vária, a Tucídi<strong>de</strong>s que, durante largos<br />
séculos, coube o estatuto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo a seguir. Não nos po<strong>de</strong>mos esquecer, <strong>em</strong><br />
primeiro lugar, <strong>de</strong> que este foi responsável pelo <strong>de</strong>scrédito do pre<strong>de</strong>cessor, pois,<br />
s<strong>em</strong> mencionar nomes, criticou por diversas vezes o seu método <strong>de</strong> trabalho,<br />
fazendo, entre outras coisas, passar a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que as informações <strong>de</strong> Heródoto<br />
eram pouco <strong>de</strong>dignas, já que, entre muitos «<strong>de</strong>feitos», a presença do mito ao<br />
longo das suas Histórias era uma constante 24 .<br />
Outros fatores a contribuir para tal evolução foram não só o objetivo <strong>de</strong><br />
Tucídi<strong>de</strong>s ao escrever história, mas também o âmbito que abrangia: centrava-se<br />
nos acontecimentos políticos e militares do seu t<strong>em</strong>po, s<strong>em</strong> dar particular atenção<br />
a aspetos económicos, artísticos, religiosos ou etnográcos. Fazia-o por aqueles<br />
ser<strong>em</strong> os t<strong>em</strong>as que mais interessavam aos seus concidadãos, mas também por<br />
consi<strong>de</strong>rar que, se compreen<strong>de</strong>sse a vida política coeva e as suas consequências<br />
militares, chegaria ao conhecimento da essência humana. A sua atração por<br />
t<strong>em</strong>as cont<strong>em</strong>porâneos justica-se ainda pela convicção <strong>de</strong> que a melhor forma<br />
<strong>de</strong> conhecer os factos é assistir ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>dos</strong> mesmos, o que o leva a<br />
optar pelo método da observação direta e da consulta a test<strong>em</strong>unhos <strong>de</strong>dignos 25 ,<br />
méto<strong>dos</strong> esses que não eram aplicáveis ao estudo <strong>de</strong> épocas distantes, já que para<br />
esses perío<strong>dos</strong> a poesia era praticamente o único el<strong>em</strong>ento disponível. E, como<br />
agravante, não estavam, como nos dias <strong>de</strong> hoje, disponíveis n<strong>em</strong> fotograas n<strong>em</strong><br />
transcrições <strong>de</strong> discursos, quer <strong>em</strong> papel, quer <strong>em</strong> suporte magnético, ainda que<br />
existiss<strong>em</strong> arquivos ociais e entre as famílias aristocráticas.<br />
Os historiadores helenísticos, romanos e bizantinos nunca esqueceram o<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s, que era particularmente cómodo para o relato <strong>de</strong> conitos<br />
<strong>de</strong> duração limitada, sobretudo no que respeita ao estilo, como se po<strong>de</strong> vericar<br />
no uso <strong>de</strong> discursos e na coor<strong>de</strong>nação entre análise política e militar. E, se a<br />
partir do séc. IV a.C., surge a tendência para a redação <strong>de</strong> uma história geral da<br />
Grécia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios (cf. Éforo), tal resulta da inuência <strong>dos</strong> capítulos<br />
iniciais <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> este historiador faz uma breve resenha do que se<br />
passara <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as origens até ao eclodir da Guerra do Peloponeso (Arqueologia).<br />
<strong>Plutarco</strong> não foi exceção. Da leitura atenta da sua obra, sobressai a presença<br />
constante da História da Guerra do Peloponeso, <strong>em</strong>bora as referências a<br />
ela n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre sejam explícitas. Como é sabido, os antigos não tinham a<br />
preocupação que t<strong>em</strong>os nos nossos dias com o rigor das citações, pois, muitas<br />
24 Não que Tucídi<strong>de</strong>s não recorresse a relatos verbais com tanta frequência quanto Heródoto;<br />
diferia <strong>de</strong>le, no entanto, por um maior rigor <strong>dos</strong> critérios para o estudo da tradição oral, pois só<br />
transmitia o que era verosímil. É por essa razão que apresenta menos cções do que Heródoto.<br />
25 Mas, a partir do séc. IV a.C., o relato histórico passa a apoiar-se com mais frequência na<br />
consulta <strong>de</strong> registos <strong>de</strong> instituições públicas e religiosas, jogos e competições literárias.<br />
21