17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

hesitações <strong>dos</strong> Atenienses <strong>em</strong> relação à sua pessoa, convertendo-se, assim, no<br />

caminho que o conduziu diretamente ao po<strong>de</strong>r.<br />

É logo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> esta primeira fase que po<strong>de</strong>mos apontar diferenças entre os<br />

percursos <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s, que se revelam consequências naturais do<br />

caráter <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les.<br />

Segundo <strong>Plutarco</strong>, aquele que preten<strong>de</strong> ingressar na vida pública –<br />

quer prera a carreira política quer a militar – <strong>de</strong>ve possuir <strong>de</strong>terminadas<br />

características inatas ), que po<strong>de</strong>mos agrupar distintamente, <strong>em</strong>bora<br />

<strong>de</strong>vam s<strong>em</strong>pre coexistir para que os indivíduos tenham bons <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhos:<br />

por um lado, a (‘<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> reconhecimento político do seu mérito’),<br />

a (‘<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> glória’) e a (‘<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> vitórias’), entre outras<br />

– que serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> incentivo à sua ação; por outro, a (‘mo<strong>de</strong>ração’) e a<br />

(‘humanida<strong>de</strong>’).<br />

As do primeiro grupo, se isoladas das do segundo, po<strong>de</strong>m ter consequências<br />

nefastas, já que estão diretamente relacionadas com a ambição <strong>de</strong> honras e<br />

po<strong>de</strong>r; logo, quando não são b<strong>em</strong> «<strong>dos</strong>eadas», levam a excessos 6 . Se o <strong>hom<strong>em</strong></strong><br />

público apenas possuir as do segundo grupo, po<strong>de</strong> não se sentir sucient<strong>em</strong>ente<br />

motivado para a acção e não intervir.<br />

6 Daí que o conceito <strong>de</strong> se tenha tornado ambíguo, ao adquirir, com o passar do<br />

t<strong>em</strong>po (e sobretudo a partir do século V a.C.), uma conotação fort<strong>em</strong>ente negativa. De início,<br />

como a própria etimologia da palavra sugere, mais não era do que o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> obter honras,<br />

o reconhecimento <strong>dos</strong> cidadãos (a ). Nesse <strong>caso</strong>, é entendida como uma característica<br />

positiva que serve aos mais jovens <strong>de</strong> motivação para ações virtuosas; como força psicológica<br />

que po<strong>de</strong> acarretar valor moral positivo ou neutro para aqueles que se inspiram nos feitos <strong>dos</strong><br />

antecessores (como T<strong>em</strong>ístocles ou Teseu). Com o intuito <strong>de</strong> ser , cada indivíduo<br />

procurava ser generoso, sobretudo <strong>em</strong> prol da sua , e subsidiava a <strong>de</strong> modo a obter o<br />

reconhecimento pretendido. Após a morte <strong>de</strong> Péricles, a ascensão ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um novo tipo <strong>de</strong><br />

políticos, que mais do que servir quer ser servido – isto é, retirar benefícios <strong>dos</strong> cargos ocupa<strong>dos</strong><br />

– e que enten<strong>de</strong> por honra não o reconhecimento do mérito das suas ações mas a ostentação<br />

<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada posição social, faz com que a noção <strong>de</strong> seja <strong>de</strong>svirtuada. Neste<br />

<strong>caso</strong>, a ambição que lhe estava associada <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter um caráter nobre e passa a ser um conceito<br />

vazio e perigoso, consistente com a corrida atrás do aplauso fácil, tornando-se <strong>de</strong>strutiva para<br />

o indivíduo e a socieda<strong>de</strong>. Este é um tópico muito abordado por Eurípi<strong>de</strong>s, nomeadamente <strong>em</strong><br />

IA, on<strong>de</strong> a surge associada quer a Agamémnon quer a Ulisses. O Atrida é acusado<br />

por Menelau <strong>de</strong> ter procurado agradar os lí<strong>de</strong>res gregos na expectativa <strong>de</strong> ser escolhido como<br />

comandante supr<strong>em</strong>o e assim satisfazer a sua ambição, ainda que para isso tivesse <strong>de</strong> sacricar<br />

a lha (IA 337-342; 385). Na mesma tragédia (IA 527), Ulisses é criticado por estar também<br />

ele tomado <strong>de</strong> , uma doença terrível. Eurípi<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ixa, assim, evi<strong>de</strong>nte que, o objetivo<br />

<strong>de</strong> aplicado a uma natureza s<strong>em</strong> qualida<strong>de</strong> torna-se simples egoísmo e cruelda<strong>de</strong>.<br />

<strong>Plutarco</strong>, que vários séculos mais tar<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>ra que a t<strong>em</strong> uma natureza ambígua,<br />

aborda o t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> diversos momentos, <strong>dos</strong> quais <strong>de</strong>stacamos Ages. 5. 5 (sobre os perigos da<br />

ambição política excessiva). Em Moralia 819F, arma inclusive que, apesar <strong>de</strong> aparent<strong>em</strong>ente<br />

ser um <strong>de</strong>feito menos feio que a ganância, po<strong>de</strong> ter consequências piores para a vida política,<br />

na medida <strong>em</strong> que suscita uma audácia maior. Trata-se <strong>de</strong> uma virtu<strong>de</strong> que apenas se encontra<br />

<strong>em</strong> pessoas <strong>de</strong> caráter forte e atrevido e que se transforma <strong>em</strong> perigo/<strong>de</strong>feito por causa das<br />

exaltações e aplausos que a multidão consagra a esses indivíduos. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Dover<br />

(1974: 229-236); Frazier (1988: 109-127).<br />

193

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!