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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

O próprio <strong>Plutarco</strong>, na esteira da tradição do pensamento grego 2 e do<br />

que Platão <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> na República, é contra uma entrada precoce na ativida<strong>de</strong><br />

política e dá ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> maus resulta<strong>dos</strong> <strong>de</strong>ssa prática, um <strong>dos</strong> quais é, como<br />

ver<strong>em</strong>os, Alcibía<strong>de</strong>s (Moralia 784C). Para conrmar essa teoria, acrescenta<br />

que o governo <strong>de</strong> Péricles alcançou o maior po<strong>de</strong>r na velhice, quando, com<br />

mais <strong>de</strong> sessenta anos, o lho <strong>de</strong> Xantipo convenceu os Atenienses a entrar<br />

<strong>em</strong> guerra contra os Lace<strong>de</strong>mónios e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> inama<strong>dos</strong> os ânimos, os<br />

impediu <strong>de</strong> lutar, ocultando-lhes tanto as armas como as chaves da cida<strong>de</strong><br />

(784E) 3 .<br />

Adapt<strong>em</strong>os, agora, esta reexão ao ingresso na vida política <strong>dos</strong> nossos<br />

estadistas e vejamos <strong>de</strong> que modo cada um reagiu a essas diculda<strong>de</strong>s.<br />

Um <strong>dos</strong> primeiros passos necessários ao ingresso nesta carreira é,<br />

certamente, conseguir a conança <strong>dos</strong> concidadãos. O próprio fundador <strong>de</strong><br />

Atenas sentiu essa necessida<strong>de</strong>, já que, por ter sido nascido e criado longe do<br />

pai e, por conseguinte, da , era visto por to<strong>dos</strong> como um estrangeiro.<br />

Como se tal não bastasse, a população estava revoltada, porque apenas os<br />

seus lhos sofriam as consequências do crime <strong>de</strong> Egeu. Para vencer este<br />

óbice, ou seja, para conquistar os concidadãos, Teseu <strong>em</strong>preen<strong>de</strong> dois gran<strong>de</strong>s<br />

esforços: luta contra o Touro <strong>de</strong> Maratona e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> espontaneamente (mesmo<br />

contrariando a vonta<strong>de</strong> do progenitor 4 ) fazer parte do tributo ao Minotauro 5 .<br />

Foram essas provas <strong>de</strong> altruísmo e <strong>de</strong> amor pelo povo (<strong>de</strong> que Péricles também<br />

dará ex<strong>em</strong>plos, ao contrário <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s) que puseram um m <strong>de</strong>nitivo às<br />

2 Os Gregos não acreditavam na sensatez n<strong>em</strong> na capacida<strong>de</strong> política <strong>dos</strong> jovens (Plu.<br />

Moralia 790A). Um <strong>dos</strong> maiores óbices apontado aos imberbes é a sua falta <strong>de</strong> experiência<br />

(Arist. EN 1095a2, 1142a15; Plu. Moralia 790D-E). Segundo o biógrafo (Moralia 788C), os<br />

mais novos lançam-se nos assuntos públicos leva<strong>dos</strong> pela vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> rivalizar contra alguém ou<br />

<strong>de</strong> obter glória, e arrastam consigo a multidão como um mar agitado pela t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong>. Os mais<br />

velhos, por sua vez, tratam com doçura e mo<strong>de</strong>ração aqueles com os quais se relacionam (Arist.<br />

EN 1095a2, 1142a15; Moralia 790D-E).<br />

3 Cf. uc. 2. 21-22; Plu. Per. 33.<br />

4 O facto <strong>de</strong> contrariar o <strong>de</strong>sejo do progenitor é uma constante <strong>em</strong> Teseu, que já antes<br />

fora contra a vonta<strong>de</strong> da mãe e do avô ao optar por se dirigir a Atenas por via terrestre e não<br />

marítima, ou seja, pelo percurso menos seguro. Deparamo-nos, assim, com um Teseu ousado,<br />

mas que o é não por rebeldia ou t<strong>em</strong>erida<strong>de</strong>, antes por ansiar ser motivo <strong>de</strong> orgulho para o<br />

pai e <strong>em</strong>ular Héracles. Vi<strong>de</strong> supra p. 55. Po<strong>de</strong>mos estabelecer um contraponto entre Teseu e<br />

Péricles: enquanto o primeiro <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ce à família por motivos nobres, o Alcmeónida rompe<br />

com a tradição familiar para ace<strong>de</strong>r ao po<strong>de</strong>r político. É por uma questão <strong>de</strong> sobrevivência (isto<br />

é, para garantir o seu acesso a um cargo <strong>de</strong> chea) que se assume como «cabeça do partido<br />

popular» e opta pelo isolamento nas relações com a família (assinalando, assim, o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>pendência). Quanto a Alcibía<strong>de</strong>s, que jamais teve medo <strong>de</strong> enfrentar tudo e to<strong>dos</strong>, nunca<br />

agiu com o intuito <strong>de</strong> agradar aos concidadãos ou parentes, mas tão-só <strong>de</strong> satisfazer vaida<strong>de</strong>s<br />

pessoais.<br />

5 Sobre estes feitos <strong>de</strong> Teseu, vi<strong>de</strong> p. 68 sqq. Importa, contudo, recordar que, na sequência<br />

da vitória sobre o Minotauro, Teseu ganhou não só a conança do povo, mas também minou<br />

– ainda que involuntariamente – o maior obstáculo para o seu acesso ao po<strong>de</strong>r, já que, por<br />

negligência, provocou a morte do próprio pai (cf. supra pp. 69-70).<br />

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