17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

2. 2. O ingresso na vida pública<br />

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

Só a partir <strong>de</strong> nais do século V a.C. (altura <strong>em</strong> que <strong>de</strong>vido à ascensão<br />

socioeconómica das classes mais <strong>de</strong>sfavorecidas, a base <strong>de</strong> escolha <strong>dos</strong><br />

indivíduos que po<strong>de</strong>riam ocupar tais posições cimeiras foi alargando <strong>de</strong> forma<br />

mais evi<strong>de</strong>nte) é que v<strong>em</strong>os gente como Cléon a exercer cargos que até então<br />

lhe estavam veda<strong>dos</strong>. Antes <strong>de</strong>sse período, <strong>em</strong>bora a participação na vida<br />

política ativa <strong>em</strong> Atenas fosse extensível (pelo menos <strong>em</strong> teoria) a to<strong>dos</strong> os<br />

cidadãos, os cargos <strong>de</strong> topo (como, por ex<strong>em</strong>plo, o <strong>de</strong> estratego) estavam, por<br />

norma, acessíveis apenas àqueles que tinham berço <strong>de</strong> ouro, isto é, oriun<strong>dos</strong> <strong>de</strong><br />

famílias <strong>de</strong> renome, tradicionais e... ricas. Trata-se, s<strong>em</strong> dúvida, <strong>de</strong> condições<br />

que os dois Alcmeónidas reuniam.<br />

Vimos, porém, <strong>em</strong> páginas anteriores, que riqueza e família eram<br />

praticamente as únicas coisas que Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s tinham <strong>em</strong> comum.<br />

Ainda que seja possível chamar a atenção para um ou outro traço <strong>de</strong> caráter<br />

que partilhavam (e que po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar provenientes <strong>de</strong> herança<br />

genética), o certo é que ambos tinham maneiras <strong>de</strong> ser e objetivos <strong>de</strong> vida<br />

diametralmente opostos. Não surpreen<strong>de</strong>, por isso, que quer o ingresso na<br />

vida pública quer a atuação política <strong>de</strong> cada um se tenham processado <strong>de</strong><br />

forma tão distinta.<br />

Como é normal, s<strong>em</strong>pre que um jov<strong>em</strong> preten<strong>de</strong> abraçar uma carreira<br />

– por melhor preparado que esteja e por mais apoios <strong>de</strong> que disponha –<br />

<strong>de</strong>para-se com diculda<strong>de</strong>s, inerentes à sua pouca experiência e ao facto <strong>de</strong><br />

já haver no mercado prossionais da área, que, não poucas vezes, se sent<strong>em</strong><br />

ameaça<strong>dos</strong> pela vitalida<strong>de</strong> que os jovens traz<strong>em</strong> ao dia-a-dia <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong><br />

que, para os mais experientes, já se tornou vulgar e, com frequência, cheia <strong>de</strong><br />

vícios que não se preten<strong>de</strong> alterar. Existe, portanto, <strong>de</strong> um modo geral, uma<br />

certa <strong>de</strong>sconança relativamente à nova geração que quer começar a exercer<br />

a sua prossão.<br />

Esta comparação que acabámos <strong>de</strong> fazer não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> estar relacionada<br />

com o que diss<strong>em</strong>os no capítulo sobre as convenções literárias associadas à vida<br />

<strong>de</strong> um fundador: os próprios pais ou ascen<strong>de</strong>ntes, com medo <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o po<strong>de</strong>r,<br />

são muitas vezes aqueles que mais se opõ<strong>em</strong> à ação <strong>dos</strong> lhos, que tentam<br />

coartar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento do nascimento 1 .<br />

1 Vi<strong>de</strong> supra pp. 34 e 52. Do mesmo modo que a supr<strong>em</strong>acia <strong>de</strong> Teseu foi anunciada (ainda<br />

que indiretamente) pelo oráculo proibitivo do seu nascimento a que Egeu teve acesso, também<br />

<strong>em</strong> relação a Péricles houve indícios sobrenaturais do gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que viria a possuir. É o <strong>caso</strong><br />

do sonho <strong>de</strong> Agariste (cf. supra p. 169 sqq) e do presságio do corno <strong>de</strong> carneiro, que, ainda que<br />

interpretado por duas individualida<strong>de</strong>s diferentes <strong>de</strong> acordo com «teorias» distintas, <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong><br />

à mesma conclusão: Péricles iria ser responsável pelo governo <strong>de</strong> Atenas (cf. infra p. 222, nota<br />

61).<br />

191

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!