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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

capaz <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s bens e gran<strong>de</strong>s males, <strong>de</strong>vido à sua natureza 109 .<br />

Ao que tudo indica, a proximida<strong>de</strong> existente entre eles teria um caráter<br />

pe<strong>de</strong>rástico, mas <strong>Plutarco</strong> concentra-se nos aspetos educativos e não nos<br />

eróticos que po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ssa relação 110 . Ainda assim, o biógrafo<br />

salienta o facto <strong>de</strong> o interesse <strong>de</strong> Sócrates por Alcibía<strong>de</strong>s ser diferente do<br />

<strong>dos</strong> outros , que apenas se sentiam atraí<strong>dos</strong> pela beleza e fortuna do<br />

jov<strong>em</strong> Alcmeónida. Sócrates conseguia ver para além da formosura e enxergar<br />

a tendência natural <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s para a virtu<strong>de</strong> ().<br />

Era esse o dom <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s que lhe interessava, por isso tentou fazer <strong>de</strong> tudo<br />

para que o jov<strong>em</strong> não se <strong>de</strong>sviasse do caminho do B<strong>em</strong>, mostrando-lhe as<br />

fraquezas da alma e censurando-lhe o orgulho <strong>de</strong>smesurado. Segundo <strong>Plutarco</strong><br />

(Alc. 4. 1), cuidou <strong>de</strong>le como qu<strong>em</strong> cuida <strong>de</strong> uma or que não <strong>de</strong>ve perecer<br />

antes <strong>de</strong> dar fruto, pois tinha consciência <strong>de</strong> que o caráter <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, a<br />

sua riqueza, posição social, b<strong>em</strong> como as adulações e con<strong>de</strong>scendências das<br />

pessoas que o ro<strong>de</strong>avam constituíam uma massa explosiva que iria afastá-lo<br />

da virtu<strong>de</strong>. Aliás, <strong>Plutarco</strong> mostra alguma surpresa pelo facto <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s,<br />

evocado). Pela boca <strong>de</strong> Sócrates, o fundador da Aca<strong>de</strong>mia alega que uma natureza débil nunca<br />

será capaz n<strong>em</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s bens n<strong>em</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s males. Só uma natureza <strong>de</strong> eleição t<strong>em</strong> essa<br />

capacida<strong>de</strong>, mas, por norma, acaba pervertida por força <strong>de</strong> uma educação <strong>de</strong>ciente. Tais<br />

naturezas – a que Platão chama «naturezas losócas» –, possu<strong>em</strong> dons como a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

apren<strong>de</strong>r, m<strong>em</strong>ória, corag<strong>em</strong> e serão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância os primeiros <strong>de</strong> entre to<strong>dos</strong> (sobretudo<br />

se à excelência do espírito correspon<strong>de</strong>r a do corpo). A sua corrupção t<strong>em</strong> início na juventu<strong>de</strong>:<br />

é que quando ating<strong>em</strong> essa ida<strong>de</strong>, a família e os concidadãos, prevendo que no futuro venham<br />

a ter gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, começam a adulá-las. É por isso que o povo, que louva ou censura tais<br />

naturezas inapropriadamente, é consi<strong>de</strong>rado o principal instrumento <strong>de</strong> perversão <strong>dos</strong> jovens,<br />

pois afasta-os da losoa. Se a um <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> tal natureza se acrescentar o facto <strong>de</strong> ser rico,<br />

b<strong>em</strong>-nascido e natural <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, o mais certo é que se torne capaz <strong>de</strong> tudo. E,<br />

ainda que alguém tente chamá-lo à razão, ou se recusará a ouvir ou será afastado do bom<br />

caminho pelos «amigos».<br />

109 <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>senvolve o t<strong>em</strong>a das gran<strong>de</strong>s naturezas <strong>em</strong> outros textos (e. g. Moralia 552B),<br />

nos quais surg<strong>em</strong> associadas a metáforas agrícolas. O mesmo se passa com a natureza especíca <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s que, <strong>em</strong> Nic. 9. 1, é comparado ao solo do Egito que, pela sua excelência, tanto produz<br />

plantas com po<strong>de</strong>res curativos como letais (cf. Od. 4. 230). O biógrafo apresenta igualmente<br />

ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> outras gran<strong>de</strong>s naturezas que não se convert<strong>em</strong> <strong>em</strong> indivíduos <strong>de</strong> caráter duvi<strong>dos</strong>o.<br />

É o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> T<strong>em</strong>ístocles, que, apesar <strong>de</strong> uma infância difícil e pouco promissora, conseguiu<br />

correspon<strong>de</strong>r às melhores expectativas que se t<strong>em</strong> <strong>de</strong> alguém com a sua natureza (Plu. <strong>em</strong>. 2.<br />

7). Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Du (1999: 313-332); Gribble (1999:13-23).<br />

110 A relação pe<strong>de</strong>rástica teria sobretudo um caráter iniciático e educativo. Incitado e<br />

ensinado pelo «amado», mais velho e experiente, o jov<strong>em</strong> sentia maior entusiasmo para realizar<br />

gran<strong>de</strong>s feitos nos diferentes domínios <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>veria distinguir: <strong>de</strong>sportivo, militar e político.<br />

Neste tipo <strong>de</strong> relação, ocorria não raras vezes um envolvimento <strong>de</strong> cariz homossexual, a cuja<br />

polémica, pelo menos <strong>em</strong> Moralia (11C-12A), <strong>Plutarco</strong> procura fugir, porque não sabe ao certo<br />

que posição tomar. Não surpreen<strong>de</strong>, por isso, que, <strong>em</strong> Alc. 4. 7, o biógrafo arme que Sócrates.<br />

não procurava prazeres indignos <strong>de</strong> um <strong>hom<strong>em</strong></strong> (), n<strong>em</strong> beijos () ou<br />

carícias (). Contudo, fala frequent<strong>em</strong>ente no amor () entre Sócrates e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

(Alc. 4. 1, 4. 3, 6. 1). Sobre a relação entre Alcibía<strong>de</strong>s e Sócrates, vi<strong>de</strong> Littman (1970: 263-76),<br />

segundo o qual não há razões para crer que eles não mantivess<strong>em</strong> relacionamento sexual. Sobre<br />

a pe<strong>de</strong>rastia, vi<strong>de</strong>, e. g., Dover (1978); Percy (1996); Hubbard (2003).<br />

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