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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

ainda, um Alcibía<strong>de</strong>s qual lobo sob pele <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro, já que por <strong>de</strong>trás do seu<br />

charme e beleza se escon<strong>de</strong> um <strong>hom<strong>em</strong></strong> perigoso e violento. Essa sua faceta é<br />

rel<strong>em</strong>brada várias vezes ao longo da biograa: <strong>em</strong> Alc. 7. 1 105 , camos a saber<br />

que agrediu um professor que não tinha uma cópia <strong>de</strong> Homero; <strong>em</strong> 8. 1, que,<br />

na sequência <strong>de</strong> uma aposta (e não por um motivo <strong>de</strong> peso), agrediu Cálias,<br />

que, ironicamente, viria a ser seu sogro 106 ; <strong>em</strong> 8. 5, que usou <strong>de</strong> violência<br />

(ainda que permitida pela lei), para recuperar a mulher que pretendia o<br />

divórcio; <strong>em</strong> 16. 5-6, que <strong>de</strong>u um murro a um corego rival no teatro 107 ; <strong>em</strong><br />

16. 6, que foi o principal responsável pelo massacre <strong>dos</strong> prisioneiros <strong>de</strong>pois<br />

da capitulação da ilha <strong>de</strong> Melos.<br />

Como já diss<strong>em</strong>os anteriormente, Sócrates tinha consciência não só <strong>dos</strong><br />

excessos <strong>de</strong> que Alcibía<strong>de</strong>s era capaz, mas também da sua propensão para a<br />

excelência e tentou a todo o custo orientá-lo para o bom caminho. A relação<br />

que uniu ambos é reveladora da personalida<strong>de</strong> do Alcmeónida e foi muito<br />

explorada – sobretudo pelos discípulos <strong>de</strong> Sócrates. Não surpreen<strong>de</strong>, assim, que<br />

a inuência mais importante na imag<strong>em</strong> que <strong>Plutarco</strong> t<strong>em</strong> <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s tenha<br />

orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> Platão 108 , que também o consi<strong>de</strong>ra um indivíduo probl<strong>em</strong>ático,<br />

Estas reações suger<strong>em</strong>-nos um comentário <strong>de</strong> natureza teórica. <strong>Plutarco</strong> (Moralia 810C-E)<br />

reete sobre o recurso a insultos pelo <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong>. Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que o político<br />

não <strong>de</strong>ve insultar ninguém, <strong>de</strong>ixa uma sugestão <strong>de</strong> resposta que consi<strong>de</strong>ramos ter neste<br />

episódio da Vida <strong>de</strong> Péricles um ex<strong>em</strong>plo perfeito: porque é difícil não reagir a uma injúria,<br />

a réplica <strong>de</strong>ve ser concisa e não mostrar cólera n<strong>em</strong> fúria arrebatada, mas suavida<strong>de</strong> que<br />

com humor e graça seja incisiva. Tal comportamento <strong>de</strong>ixa a impressão <strong>de</strong> que as injúrias<br />

se voltam contra qu<strong>em</strong> as proferiu, por causa da inteligência do que foi injuriado. Esta<br />

atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Péricles, que não se rebaixa a ponto <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r, contrasta com a do político<br />

nova-vaga que Aristófanes nos apresenta <strong>em</strong> Os Cavaleiros. Inconscientes ou <strong>de</strong>scara<strong>dos</strong>,<br />

os sucessores <strong>de</strong> Péricles receb<strong>em</strong> os insultos como elogios e por isso não ensaiam qualquer<br />

resposta ao que <strong>de</strong>veria ser consi<strong>de</strong>rado uma ofensa grave. No que respeita a Teseu, não é<br />

possível reconhecer-lhe um autocontrolo na proporção do <strong>de</strong> Péricles. Contudo, <strong>em</strong>bora<br />

use <strong>de</strong> violência para vencer os criminosos com que se <strong>de</strong>parou no percurso para Atenas,<br />

tal comportamento t<strong>em</strong> três atenuantes: a violência a que recorreu foi proporcional à <strong>dos</strong><br />

bandi<strong>dos</strong>, fê-lo <strong>em</strong> legítima <strong>de</strong>fesa (<strong>de</strong> outro modo teria perecido) e para libertar o povo<br />

da opressão <strong>em</strong> que vivia. O mesmo não se po<strong>de</strong> dizer do seu comportamento no campo<br />

sexual, já que cou famoso por raptos e violações.<br />

105 Cf. Moralia 186D.<br />

106 De notar que, mais uma vez, o recurso <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s à violência gratuita suscitou a<br />

con<strong>de</strong>nação popular e que, <strong>de</strong> novo, não houve punição para o seu comportamento indigno,<br />

b<strong>em</strong> pelo contrário... No dia seguinte, Alcibía<strong>de</strong>s apresentou-se a Cálias para que <strong>de</strong> algum<br />

modo o castigasse, mas não só foi perdoado como também acabou, t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong>pois, por se casar<br />

com a lha da sua vítima. Sobre o casamento <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, vi<strong>de</strong> infra p. 244.<br />

107 O episódio <strong>em</strong> causa também é referido por D. S. 21. 147 e [And.] 4. 20-21. Segundo este<br />

último, Alcibía<strong>de</strong>s terá saído vencedor, porque o júri, por medo ou agra<strong>de</strong>cimento, não cumpriu<br />

b<strong>em</strong> a sua função <strong>de</strong> imparcialida<strong>de</strong>.<br />

108 Platão trata a gura <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s <strong>em</strong> Smp., Prt., Grg. e Alc., on<strong>de</strong> nos é apresentado<br />

como alguém que oscila entre a losoa e as tentações do po<strong>de</strong>r. Parece tratá-la igualmente<br />

(<strong>em</strong>bora <strong>de</strong> forma velada) <strong>em</strong> R. 491b, quando reete sobre as «gran<strong>de</strong>s naturezas», já que<br />

tudo o que arma a esse respeito faz <strong>de</strong> imediato pensar <strong>em</strong> Alcibía<strong>de</strong>s (cujo nome nunca é<br />

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