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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

formas <strong>de</strong> exibição ou <strong>de</strong> imposição da sua vonta<strong>de</strong>) é normalmente<br />

perdoado, o <strong>de</strong> Péricles não.<br />

A maior parte das qualida<strong>de</strong>s que Péricles <strong>de</strong>senvolveu ou aperfeiçoou no<br />

seu convívio com Anaxágoras – como a austerida<strong>de</strong>, a tranquilida<strong>de</strong> no andar, a<br />

modéstia no vestir ou a modulação da voz –, tão admiradas por to<strong>dos</strong>, não são<br />

partilhadas por Alcibía<strong>de</strong>s. De acordo com a perspetiva que <strong>Plutarco</strong> sustenta (e<br />

que r<strong>em</strong>onta à opinião do próprio Sócrates), Alcibía<strong>de</strong>s também tinha propensão<br />

para a excelência, mas não soube cultivá-la. Aliás, terá sido o facto <strong>de</strong> reconhecer<br />

essa propensão <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s que levou Sócrates a aproximar-se do jov<strong>em</strong> e a<br />

agir <strong>de</strong> modo díspar <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os outros amigos/amantes do lho <strong>de</strong> Dinómaca 98 .<br />

Na verda<strong>de</strong>, enquanto Péricles soube optar pela mo<strong>de</strong>ração nos seus<br />

comportamentos e na interação com os outros, Alcibía<strong>de</strong>s foi s<strong>em</strong>pre – <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

pequeno – dado a excessos. Apoiando-se na suas enormes beleza e riqueza e<br />

no facto <strong>de</strong> estar s<strong>em</strong>pre ro<strong>de</strong>ado do apoio <strong>de</strong> amigos/aduladores, nunca sentiu<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> colocar limites às suas ações. Isso mesmo no-lo <strong>de</strong>monstram<br />

anedotas como as relatadas <strong>em</strong> Alc. 3. 1, 4. 5, 5. 1 , 7. 1-2 e 9. 1.<br />

O primeiro episódio evocado <strong>em</strong> Alc. 3. 1 merece particular atenção,<br />

porque ilustra não só o comportamento <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, mas também o <strong>de</strong><br />

Péricles. Como, certa noite, Alcibía<strong>de</strong>s – ainda criança – não regressasse a<br />

casa (o que, segundo Antifonte 99 , acontecia porque <strong>de</strong>cidira pernoitar com<br />

um amante chamado D<strong>em</strong>ócrates 100 ), os seus tutores 101 discutiram sobre o<br />

que <strong>de</strong>viam fazer. Árifron <strong>de</strong>fendia que se <strong>de</strong>nunciasse o sucedido através<br />

98 Vi<strong>de</strong> infra pp. 186-187.<br />

99 Sobre a vida e obra <strong>de</strong> Antifonte (ca. 480-411 a.C.), vi<strong>de</strong> Dover (1950: 44-60) e Gagarin<br />

(1997). O facto <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> introduzir test<strong>em</strong>unhos <strong>dos</strong> quais discorda é uma prática herdada<br />

da tradição historiográca e recorrente ao longo das Vidas, pois permite-lhe assumir uma atitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência relativamente às diversas fontes a que recorre: não aceita cegamente<br />

toda a informação que recolhe, permite-se discordar do que é dito e avaliar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rigor<br />

e <strong>de</strong> isenção <strong>dos</strong> diferentes autores <strong>em</strong> que se baseia. Quando, por ex<strong>em</strong>plo, não há consenso<br />

sobre <strong>de</strong>terminado assunto, o autor das Vidas apresenta vários pontos <strong>de</strong> vista e, por vezes, indica<br />

também o que lhe parece mais credível (sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Pelling (1990: 23-4); Nikolaidis<br />

(1997: 333-4). Em Alc. 32. 2, por ex<strong>em</strong>plo, reconhece que existe material sobre Alcibía<strong>de</strong>s que<br />

não passa <strong>de</strong> invenção. Ainda assim, usa alguns <strong>de</strong>sses el<strong>em</strong>entos, quanto mais não seja para<br />

rejeitá-los. No <strong>caso</strong> concreto do test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> Antifonte, Du (1999: 232) arma que «[the<br />

accusations of Antiphon (3. 1-2)] do in<strong>de</strong>ed introduce the section on Alcibia<strong>de</strong>s’ lovers which<br />

follows; but why has Plutarch inclu<strong>de</strong>d what he explicitly believed to be abuse ()<br />

and therefore not worthy of cre<strong>de</strong>nce? e answer is clear; the rea<strong>de</strong>r is given a number of<br />

conicting views of Alcibia<strong>de</strong>s drawn from a vast number of dierent sources. Plutarch avoids<br />

making explicit narratorial judg<strong>em</strong>ents; the anecdotes and judg<strong>em</strong>ents are presented on their<br />

own without comment, and form a contradictory and <strong>de</strong>eply probl<strong>em</strong>atic picture of Alkibia<strong>de</strong>s.<br />

It is the very ‘unevenness’ of the picture which in Plutarch’s view is the key to Alkibia<strong>de</strong>s».<br />

100 É provável que se tratasse do pai <strong>de</strong> Lísis, que é personag<strong>em</strong> do diálogo homónimo <strong>de</strong><br />

Platão. Cf. Davies (1971: 359-360).<br />

101 Péricles e Árifron tornaram-se tutores <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s <strong>em</strong> 446, após a morte <strong>de</strong> Clínias na<br />

batalha <strong>de</strong> Coroneia, instigada por Tólmi<strong>de</strong>s, contra conselho <strong>de</strong> Péricles. Cf. Plu. Per. 18. 3, Alc.<br />

1. 1; Pl. Alc. 1. 112c; Isoc. 16. 28. Alcibía<strong>de</strong>s <strong>de</strong>veria ter cerca <strong>de</strong> cinco anos à época.<br />

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