17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

“Zenão exortava aqueles que chamavam à majesta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Péricles ânsia <strong>de</strong><br />

prestígio e orgulho a ter<strong>em</strong> também eles essa mesma ânsia, pois a procura<br />

produz impercetivelmente a <strong>em</strong>ulação e o hábito do b<strong>em</strong>.”<br />

De facto, a arrogância, o orgulho e o <strong>de</strong>sprezo pelos outros po<strong>de</strong>m<br />

ser ti<strong>dos</strong> como características próprias <strong>dos</strong> Alcmeónidas, ainda que a sua<br />

orig<strong>em</strong> seja diferente: Péricles fomentava o distanciamento <strong>em</strong> relação<br />

aos seus concidadãos, porque consi<strong>de</strong>rava ser esta a melhor forma <strong>de</strong><br />

reunir condições para <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar, s<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as, o seu papel <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r.<br />

Alcibía<strong>de</strong>s, por sua vez, fazia-o por se consi<strong>de</strong>rar superior a to<strong>dos</strong> os outros<br />

e porque, <strong>de</strong> um modo geral, só se preocupava com a sua realização pessoal e<br />

a satisfação <strong>dos</strong> próprios <strong>de</strong>sejos 97 . Mas, curiosamente, esse comportamento<br />

<strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s (que, quando acedia ao convívio social, s<strong>em</strong>pre encontrava<br />

97 Tais sentimentos são revela<strong>dos</strong> por anedotas como as relatadas <strong>em</strong> Alc. 4. 5 e 16. 5,<br />

que <strong>de</strong>ixam clara a sua falta <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração pelos sentimentos e vonta<strong>de</strong> <strong>dos</strong> outros. No<br />

primeiro <strong>caso</strong>, abusa da boa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ânito, que nutria uma paixão por ele: como se<br />

não bastasse <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhar do convite que recebera para um banquete, ainda t<strong>em</strong> a ousadia <strong>de</strong><br />

aparecer tardiamente, já <strong>em</strong>briagado (algo que parece ser um hábito, segundo test<strong>em</strong>unho<br />

<strong>de</strong> Pl. Symp. 212d-213a), não para participar do convívio mas para saquear os bens do pobre<br />

enamorado. Contudo, o que causa maior admiração é a complacência da reação <strong>de</strong> Ânito que,<br />

ante a indignação <strong>dos</strong> seus convivas por causa da insolência e arrogância com que fora tratado<br />

(), vê no ato <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s uma gran<strong>de</strong> generosida<strong>de</strong> (<br />

), já que este se limitou a levar parte <strong>dos</strong> bens quando podia tê-los saqueado<br />

to<strong>dos</strong>. Importa notar que a versão <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>nigre ainda mais o comportamento <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s por oposição à versão narrada por Ath. 534e-f, segundo o qual o produto do saque<br />

teria sido oferecido a um amigo necessitado. É provável que tal alteração tenha por objetivo<br />

evitar que esta anedota zesse par com Alc. 5. 1-5, <strong>de</strong> acordo com a qual Alcibía<strong>de</strong>s auxilia<br />

um amante meteco, o que, nas palavras <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, terá sido um comportamento excecional.<br />

Ou seja, omitindo o <strong>de</strong>stino que Alcibía<strong>de</strong>s <strong>de</strong>u ao saque <strong>de</strong> Ânito, o leitor ca diante não<br />

<strong>de</strong> um Alcibía<strong>de</strong>s generoso para com os amantes, mas <strong>de</strong> um Alcibía<strong>de</strong>s inconstante, que<br />

ora os auxilia (n<strong>em</strong> que, como no <strong>caso</strong> do meteco, esse auxílio tenha como móbil não um<br />

ato <strong>de</strong> generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sinteressada, mas a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vingar um <strong>de</strong>sentendimento com os<br />

cobradores <strong>de</strong> impostos), ora tripudia sobre eles. O episódio narrado <strong>em</strong> Alc. 16. 5 é ainda mais<br />

excessivo. Desejando que o célebre pintor Agatarco se encarregasse <strong>de</strong> lhe pintar as pare<strong>de</strong>s<br />

da casa e perante a recusa <strong>de</strong>ste, Alcibía<strong>de</strong>s não se coibiu <strong>de</strong> aprisioná-lo até que o serviço<br />

estivesse concluído. Uma vez satisfeito o seu <strong>de</strong>sejo, pagou-lhe o justo valor e <strong>de</strong>ixou-o partir<br />

<strong>em</strong> liberda<strong>de</strong>. Fica mais uma vez evi<strong>de</strong>nte que o jov<strong>em</strong> Alcmeónida não olhava a meios para<br />

satisfazer os seus intentos. E n<strong>em</strong> as pessoas <strong>de</strong> renome estavam a salvo <strong>dos</strong> seus excessos...<br />

Esta anedota é referida igualmente por D. S. 21. 147 e por [And.] 4. 17. Este último acentua o<br />

<strong>de</strong>smando <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, pois arma que a liberda<strong>de</strong> do pintor não se ca a <strong>de</strong>ver à iniciativa<br />

do Alcmeónida, mas à corag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Agatarco que consegue escapar do «cativeiro».<br />

183

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!