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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

que parece, Péricles estaria <strong>de</strong> tal modo <strong>de</strong>bilitado que até aceitava recorrer a<br />

amuletos, comportamento tipicamente f<strong>em</strong>inino e que <strong>de</strong>monstra superstição,<br />

porque já não tinha nada a per<strong>de</strong>r. Segundo este peripatético, a situação apenas<br />

mostra que a dor, o sofrimento e a vivência <strong>de</strong> momentos difíceis faz<strong>em</strong> com<br />

que uma pessoa altere o seu comportamento. Mas, se <strong>de</strong> facto isto aconteceu, foi<br />

um <strong>dos</strong> raríssimos momentos <strong>em</strong> que a mo<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Péricles não conseguiu<br />

resistir aos infortúnios do <strong>de</strong>stino por efeito do acumular <strong>de</strong> situações penosas<br />

na fase nal da sua vida (recor<strong>de</strong>mos a perda <strong>dos</strong> lhos legítimos, <strong>de</strong> outros<br />

familiares e amigos <strong>em</strong> consequência da peste e, agora, o seu próprio contágio).<br />

Nota-se, pois, uma certa humanização <strong>de</strong> Péricles – que, <strong>de</strong> algum modo, vacila<br />

no seu habitual equilíbrio. O que importa é que ele se esforça por se manter<br />

inalterável mesmo nas situações <strong>de</strong> maior adversida<strong>de</strong>.<br />

Mas a sobrieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Péricles n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre era b<strong>em</strong> interpretada. É o que<br />

nos diz <strong>Plutarco</strong> com base <strong>em</strong> Íon 95 , que opõe à <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e afabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Címon o <strong>de</strong>sprezo pelos outros, o orgulho e a arrogância <strong>de</strong> Péricles (Per. 5.<br />

3):<br />

182<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

“O poeta Íon fala do contacto insolente e um tanto altaneiro <strong>de</strong> Péricles e<br />

arma que ele misturava ao orgulho muito <strong>de</strong>sprezo e <strong>de</strong>sdém pelos outros;<br />

louva, <strong>em</strong> particular, Címon, pelo tato, <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e elegância que punha nas<br />

relações humanas 96 .”<br />

Para <strong>de</strong>sfazer essa visão negativa – com a qual <strong>Plutarco</strong> claramente não<br />

concorda – recorre ao test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> Zenão, que explica que há qu<strong>em</strong> confunda<br />

a majesta<strong>de</strong> () <strong>de</strong> Péricles com arrogância e orgulho e apresenta o<br />

«atacado» como mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> conduta a seguir (Per. 5. 3):<br />

ostentasse ao pescoço um amuleto, consi<strong>de</strong>rado tolice <strong>de</strong> mulheres? Sobre a <strong>de</strong>batida questão da<br />

alteração <strong>de</strong> caráter e a posição <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> sobre a matéria, leia-se Gill (1983: 469-481); Swain<br />

(1989: 62-68); Pérez Jiménez (1994: 331-340). Este episódio volta a ser abordado infra p. 304.<br />

95 FGrHist 392 F 15. Íon, cuja vida <strong>de</strong>correu entre cerca <strong>de</strong> 490 e 424 a.C., foi um <strong>dos</strong><br />

poucos tragediógrafos que os Alexandrinos incluíram no cânone, ao lado <strong>de</strong> Ésquilo, Sófocles<br />

e Eurípi<strong>de</strong>s. Mas a sua produção escrita esten<strong>de</strong>u-se por outros domínios, nomeadamente o<br />

elegíaco, o losóco (Triagmo, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a realida<strong>de</strong> é trinitária) e o histórico (História<br />

da Fundação <strong>de</strong> Quios). Uma das suas obras mais famosas é Epi<strong>de</strong>mias, que tratava das viagens do<br />

seu autor e também das visitas <strong>de</strong> homens ilustres à sua terra natal. O seu estilo revela gosto pelo<br />

retrato e pela anedota. Nascido <strong>em</strong> Quios, atacava Péricles (provavelmente como consequência<br />

do tratamento que os Atenienses <strong>de</strong>ram à sua cida<strong>de</strong> natal durante a Guerra <strong>de</strong> Samos – cf. Per.<br />

28. 7). Vi<strong>de</strong> Lesky (1995: 439-441); Guthrie (1969: I, 158).<br />

96 Sobre estas características <strong>de</strong> Címon, vi<strong>de</strong> supra p. 127, nota 71.

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