17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

Parece que po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os atribuir a Zenão algum contributo para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> oratória 83 <strong>de</strong> Péricles. Quando a ele se refere,<br />

<strong>Plutarco</strong> diz que o seu método era discutir com toda a gente, <strong>em</strong>pregar os<br />

argumentos mais subtis e levar os adversários a não saber<strong>em</strong> que respon<strong>de</strong>r-lhe 84 .<br />

Deste passo, facilmente nos recordamos <strong>em</strong> um <strong>dos</strong> capítulos seguintes (Per. 8.<br />

5 – cf. Moralia 802C):<br />

<br />

<br />

<br />

“Quando, certa vez, Arquidamo, rei <strong>de</strong> Esparta, lhe perguntou se era ele ou Péricles<br />

qu<strong>em</strong> combatia melhor, [Tucídi<strong>de</strong>s] disse: «Quando eu o <strong>de</strong>rrubo <strong>em</strong> combate,<br />

ele nega ter caído e leva a melhor, pois altera a opinião <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> assiste.»”<br />

Esta anedota, <strong>de</strong> facto, não po<strong>de</strong>ria caracterizar melhor a eloquência do<br />

lho <strong>de</strong> Xantipo, cuja extraordinária capacida<strong>de</strong> permitia adaptar os próprios<br />

acontecimentos aos seus interesses. Era assim a excelência oratória que os sostas<br />

tanto <strong>de</strong>fendiam e que Platão tão acerrimamente criticava: ser capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

ou criticar o mesmo ponto <strong>de</strong> vista, <strong>de</strong> acordo com as conveniências do momento 85 .<br />

Mas será a Anaxágoras que Péricles mais terá cado a <strong>de</strong>ver – pelo menos<br />

segundo <strong>Plutarco</strong> (e mesmo Platão 86 ) – <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> formação pessoal 87 . Dele<br />

83 Nesta época, começava a ganhar importância crescente o cuidado com o discurso e com a<br />

argumentação, que atinge o seu auge com sostas famosos como Protágoras ou Górgias.<br />

84 Cf. Per. 4. 5: <br />

<br />

[Zenão] <strong>de</strong>senvolveu uma habilida<strong>de</strong> especial<br />

para refutar o adversário e para o reduzir à perplexida<strong>de</strong> com argumentos contraditórios, como<br />

mencionou Tímon <strong>de</strong> Fliunte <strong>em</strong> qualquer parte com estas palavras: «Que gran<strong>de</strong> força t<strong>em</strong> a<br />

língua <strong>de</strong> dois gumes <strong>de</strong> Zenão, que não dá tréguas, s<strong>em</strong>pre a atacar tudo e to<strong>dos</strong>».”<br />

85 Alcibía<strong>de</strong>s possuía igualmente dotes retóricos, que po<strong>de</strong>m ser atribuí<strong>dos</strong> à sua condição <strong>de</strong><br />

<strong>ateniense</strong> e <strong>de</strong> alcmeónida e que começaram a revelar-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, como vimos anteriormente<br />

a propósito da anedota que se refere à sua recusa <strong>em</strong> tocar auta.<br />

86 Cf. Phrd. 270a. <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

“[Sócrates:] Todas as artes que são gran<strong>de</strong>s exig<strong>em</strong><br />

loquacida<strong>de</strong> e altas especulações sobre a natureza, pois é <strong>de</strong> algures daí que parece <strong>de</strong>rivar a<br />

sublimida<strong>de</strong> da conceção e a sua inteira realização. Foi isso que Péricles, além <strong>dos</strong> seus dotes<br />

naturais, soube adquirir. Tendo encontrado Anaxágoras, que é, segundo creio, um <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong>sse<br />

género, <strong>em</strong>bebeu-se <strong>de</strong> sublimes especulações e atingiu a natureza do espírito e da inteligência,<br />

assuntos <strong>de</strong> que Anaxágoras muito se ocupava, dali retirando para a arte da oratória tudo o que<br />

lhe fosse útil.” A tradução apresentada é da autoria <strong>de</strong> Ribeiro Ferreira (1997: 109).<br />

87 Só muito raramente <strong>Plutarco</strong> analisa com precisão o que alguém apren<strong>de</strong>u <strong>de</strong> especíco<br />

179

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!