O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />
povo lhe retire o seu apoio 75 : a afetação que lhe era própria e que acaba por ser<br />
consi<strong>de</strong>rada mais um traço <strong>de</strong> tendência tirânica 76 (cf. Alc. 16).<br />
Do período correspon<strong>de</strong>nte à formação básica <strong>de</strong> cada um <strong>dos</strong><br />
protagonistas, <strong>Plutarco</strong> (Alc. 2. 3 - 2. 4) evoca ainda uma anedota que está<br />
provavelmente associada ao contexto das lições do e que ilustra<br />
a <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s 77 . Todas as outras informações que avança sobre a<br />
educação <strong>dos</strong> protagonistas <strong>em</strong> causa diz<strong>em</strong> respeito à fase seguinte, durante<br />
a qual os jovens podiam (e <strong>de</strong>viam) aproximar-se <strong>de</strong> indivíduos que lhes<br />
pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> ensinar outros assuntos mais eleva<strong>dos</strong> 78 .<br />
No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles, <strong>de</strong>staca o convívio com dois outros mestres, ambos<br />
lósofos 79 : Zenão <strong>de</strong> Eleia 80 (Per. 4. 4) e Anaxágoras <strong>de</strong> Clazómenas 81 (Per. 4.<br />
5 - 6. 5). No que respeita a Alcibía<strong>de</strong>s, só a inuência <strong>de</strong> Sócrates é referida<br />
(Alc. 4. 1-4, 6. 1-5) 82 .<br />
75 Em Alc. 2.7, o recurso à forma verbal , aqui aplicada ao , sugere os exílios que<br />
experimentará, pois é um verbo normalmente <strong>em</strong>pregue nesse contexto.<br />
76 Vi<strong>de</strong> supra p. 212 sqq.<br />
77 Sobre esta anedota, vi<strong>de</strong> supra p. 178.<br />
78 Cf. supra p. 174.<br />
79 Um bom e verda<strong>de</strong>iro político <strong>de</strong>ve, na visão platónica (como se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
<strong>de</strong> Pl. Alc. 118b-c, R. 376 passim), fazer acima <strong>de</strong> tudo um estudo rigorosíssimo sobre a virtu<strong>de</strong><br />
(i. e. o B<strong>em</strong>) – logo, <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>dicar-se à losoa – pois o seu objetivo é fazer <strong>dos</strong> concidadãos<br />
pessoas melhores, que respeit<strong>em</strong> a lei. Em Moralia 776F-777A, <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> igualmente o<br />
convívio <strong>dos</strong> lósofos com os políticos, como sendo a forma mais fácil <strong>de</strong> diss<strong>em</strong>inar a virtu<strong>de</strong><br />
e a nobreza pelo povo. Como ex<strong>em</strong>plos <strong>dos</strong> bons frutos que tal relação po<strong>de</strong> dar, apresenta os<br />
<strong>caso</strong>s paradigmáticos <strong>de</strong> Anaxágoras e Péricles (cf. infra p. 247, nota 177), b<strong>em</strong> como o <strong>de</strong> Platão<br />
e Díon e o <strong>de</strong> Pitágoras com os mandatários itálicos.<br />
80 Zenão (ca. 490 – 445 a.C.), lho <strong>de</strong> Teleutágoras, foi discípulo e amigo <strong>de</strong> Parméni<strong>de</strong>s.<br />
Ficou conhecido pela sua argumentação <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa das teorias do mestre, que negam a existência<br />
<strong>de</strong> movimento e <strong>de</strong> multiplicida<strong>de</strong>. Por isso, o Estagirita consi<strong>de</strong>rou-o o inventor da dialética.<br />
Interessou-se ainda particularmente pelas ciências naturais, t<strong>em</strong>a que naquela época alcançou<br />
um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e que se tornou indispensável na formação geral do indivíduo. Até<br />
Sócrates as conhecia... Apenas <strong>Plutarco</strong> apresenta Péricles como discípulo <strong>de</strong>le. Platão, por sua<br />
vez, <strong>em</strong> Alc. 1. 119a, diz que, <strong>em</strong> Atenas, Pitodoro e Cálias se contam entre os que o ouviram.<br />
Vi<strong>de</strong> Guthrie (1969: II, 80 sq).<br />
81 Anaxágoras <strong>de</strong> Clazómenas, que era oriundo <strong>de</strong> família rica e inuente, viveu no século V<br />
a.C. e terá chegado a Atenas <strong>em</strong> 480. Abdicou da sua herança e das facilida<strong>de</strong>s e sucesso político,<br />
que po<strong>de</strong>ria alcançar se <strong>de</strong>la dispusesse, para se entregar à ciência e à losoa (cf. Pl. Hp. Ma. 281c,<br />
283a; D. L. 2. 6-7). Acreditava que a vida só tinha valor se servisse para uma melhor compreensão<br />
do cosmos a que se pertence; tudo o resto era supéruo: o apego aos bens materiais e à felicida<strong>de</strong><br />
terrena não vale a pena, pois todo o <strong>hom<strong>em</strong></strong> é mortal e, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>, to<strong>dos</strong> têm o<br />
mesmo <strong>de</strong>stino (vi<strong>de</strong> Guthrie: 1969: II, 266 sq.). Destacou-se pelo seu interesse pelas ciências<br />
naturais, nomeadamente pela orig<strong>em</strong> do cosmos e ainda pela negação da religião politeísta e<br />
antropomórca que então vigorava. A perspicácia que revelou no estudo da natureza fez com<br />
que os cont<strong>em</strong>porâneos o apelidass<strong>em</strong> <strong>de</strong> «própria Inteligência personicada». A escolha <strong>de</strong>ssa<br />
<strong>de</strong>signação <strong>de</strong>ve-se ao facto <strong>de</strong> ter introduzido o conceito <strong>de</strong> , Inteligência pura e simples.<br />
Segundo ele, é a força que rege o cosmos, responsável pela separação das substâncias com<br />
el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> comum da massa caótica <strong>dos</strong> restantes. Vi<strong>de</strong> Guthrie (1969: II, 266 sq).<br />
82 Vi<strong>de</strong> supra p. 175.<br />
178