17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

cultores <strong>de</strong>sta arte (muito admirado por Sócrates e Platão). Consta que<br />

procurava ocultar a sua inclinação para a tirania (mas terá acabado por ser<br />

vítima do ostracismo <strong>em</strong> consequência <strong>de</strong>sta sua propensão) – o que <strong>de</strong><br />

imediato nos faz reetir sobre os possíveis efeitos <strong>de</strong>ste convívio no governo<br />

do lho <strong>de</strong> Xantipo 67 , que é invocado por Tucídi<strong>de</strong>s como o «governo do<br />

primeiro <strong>dos</strong> cidadãos» (uc. 2. 65. 9) e comparado, pelos cómicos, a uma<br />

tirania 68 (Per. 16. 1).<br />

É neste contexto que <strong>Plutarco</strong> (Per. 4. 4) cita um passo <strong>de</strong> Platão Cómico<br />

(fr. 207 K.-A.) que sugere a inuência <strong>de</strong> Dámon na formação do estadista:<br />

176<br />

<br />

<br />

“antes <strong>de</strong> mais, diz-me cá uma coisa, por favor, porque tu, ao que se diz por aí,<br />

foste como um Quíron a educar Péricles.”<br />

Ora, ainda que o intuito da comédia seja ridicularizar, o facto é que a<br />

comparação entre Dámon e Quíron provoca o efeito contrário. De facto, quer<br />

Dámon quer Péricles acabam benecia<strong>dos</strong>: o primeiro, porque é elevado ao<br />

estatuto do maior pedagogo da mitologia; o segundo, porque se torna <strong>em</strong> um<br />

<strong>dos</strong> poucos discípulos, ao nível <strong>de</strong> um Aquiles 69 , que teve o privilégio <strong>de</strong> ser<br />

educado por tão ilustre mestre.<br />

Alcibía<strong>de</strong>s, por sua vez, teve uma relação mais conituosa com o estudo<br />

da música. Aliás, a anedota que <strong>Plutarco</strong> evoca t<strong>em</strong> um caráter etiológico, na<br />

medida <strong>em</strong> que foi utilizada para justicar a revolução operada no ensino da<br />

música a partir <strong>de</strong> nais do século V. Consta que Alcibía<strong>de</strong>s se recusava a<br />

tocar 70 , porque consi<strong>de</strong>rava esse instrumento indigno <strong>de</strong> um <strong>hom<strong>em</strong></strong><br />

com questões morais (R. 400b, 424c): os vários ritmos podiam provocar efeitos diferentes a<br />

nível ético. Foi vítima <strong>de</strong> ostracismo entre 450-440 a.C., mas pouco mais se sabe a seu respeito.<br />

Vi<strong>de</strong> Guthrie (1969: 3, 35, nota 1); Hammond – Scullard (1992: 311). O biógrafo apresenta<br />

outra versão, que atribui a Aristóteles (Fr. 401 Rose): <strong>de</strong> acordo com o Estagirita, o professor<br />

teria sido Pitocli<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Ceos, do qual apenas se sabe que foi pitagórico e músico. No entanto,<br />

esta informação baseia-se <strong>em</strong> Platão (Prt. 316e, S Alc. 118c) e não <strong>em</strong> Aristóteles, o que po<strong>de</strong><br />

signicar ou que <strong>Plutarco</strong> confundiu as fontes, ou que esta referência faz parte <strong>de</strong> uma das<br />

muitas obras perdidas.<br />

67 De acordo com as palavras <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> (Per. 4. 2), <br />

– ‘a Péricles, como a um atleta da política, foi ele que<br />

lhe serviu <strong>de</strong> treinador e mestre’.<br />

68 Sobre a tendência tirânica <strong>de</strong> que é acusado, vi<strong>de</strong> pp. 212 sqq.<br />

69 Esta nossa referência não é gratuita, já que, <strong>em</strong> Alc. 23. 6, <strong>Plutarco</strong> menciona um verso <strong>de</strong><br />

uma tragédia perdida para comparar Alcibía<strong>de</strong>s a Aquiles, por ambos partilhar<strong>em</strong> a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> adaptação às mais diversas circunstâncias. Vi<strong>de</strong> infra pp. 267-268.<br />

70 É provável que, além do test<strong>em</strong>unho da tradição oral, <strong>Plutarco</strong> tenha obtido esta<br />

informação <strong>em</strong> Pl. Alc. 106e, on<strong>de</strong> Sócrates arma que Alcibía<strong>de</strong>s teve uma educação<br />

tradicional, mas moldada ao seu próprio gosto:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!