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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

mais uma vez, evi<strong>de</strong>nte quão distintos são os dois Alcmeónidas: ao contrário<br />

<strong>de</strong> Péricles, Alcibía<strong>de</strong>s limita-se a cumprir o curriculum mínimo 62 , não t<strong>em</strong><br />

sensibilida<strong>de</strong> n<strong>em</strong> interesse pelo convívio com outros mestres que não Sócrates 63 ,<br />

convívio esse iniciado não por sua vonta<strong>de</strong>, mas por insistência do lósofo.<br />

Centr<strong>em</strong>o-nos, para já, no que <strong>Plutarco</strong> t<strong>em</strong> a dizer sobre a educação<br />

<strong>de</strong> cada um, tendo presente que, no âmbito geral das Vidas, a análise que se<br />

faz da educação n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre é muito profunda e que existe a tendência para<br />

se encarar a educação como algo que se teve ou não: se se teve, ca-se para<br />

s<strong>em</strong>pre imune a <strong>de</strong>termina<strong>dos</strong> males, já que esta é vista sobretudo como força<br />

civilizacional e restritiva 64 .<br />

Em páginas anteriores, z<strong>em</strong>os uma resenha do que caracterizava a<br />

educação no século V a.C. Curiosamente, daquilo que constituía o curriculum<br />

básico <strong>de</strong> estu<strong>dos</strong>, o Queroneu <strong>de</strong>staca, quer <strong>em</strong> Per. 4. 1-4, quer <strong>em</strong> Alc. 2.<br />

5-7, a aprendizag<strong>em</strong> da música 65 . Segundo no-lo relata <strong>Plutarco</strong>, Péricles<br />

teve como mestre nessa área Dámon 66 , um <strong>dos</strong> mais antigos e importantes<br />

sido conado por Péricles a um escravo velho, não procurou compl<strong>em</strong>entar a sua formação,<br />

limitando-se ao mínimo obrigatório, e ainda se recusou, como o próprio jov<strong>em</strong> confessa, a<br />

apren<strong>de</strong>r o que o tutor lhe tentava transmitir. Não surpreen<strong>de</strong>, por isso, como Platão arma,<br />

que, à s<strong>em</strong>elhança da gran<strong>de</strong> maioria <strong>dos</strong> políticos, não tenha uma formação <strong>de</strong> base que lhe<br />

permitiria servir convenient<strong>em</strong>ente a . Cf. Pl. Alc. 1. 106e, 1. 118e, 1. 119b, 1. 122b.<br />

62 Cf. Pl. Alc. 1. 106e (on<strong>de</strong> o Alcmeónida confessa apenas ter cumprido a «escolarida<strong>de</strong><br />

obrigatória», s<strong>em</strong> ter procurado aprofundar a sua formação) e 1. 113c (on<strong>de</strong> Sócrates o acusa <strong>de</strong><br />

ter negligenciado a aprendizag<strong>em</strong> –). O facto <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> armar (Moralia<br />

728A) que um , um ignorante s<strong>em</strong> a educação a<strong>de</strong>quada, jamais po<strong>de</strong>rá ser um<br />

governante digno <strong>de</strong>sse nome leva-nos a concluir que essa falha terá sido um <strong>dos</strong> fatores que<br />

mais contribuiu para que Alcibía<strong>de</strong>s, apesar das suas capacida<strong>de</strong>s inatas, não tivesse alcançado o<br />

estatuto <strong>de</strong> político <strong>de</strong> excelência.<br />

63 Note-se que Alcibía<strong>de</strong>s só começou a dar valor a Sócrates <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> conhecê-lo melhor,<br />

mas interessou-se mais pela pessoa do lósofo do que pelas teorias daquele.<br />

64 Cf., e. g., Mar. 2. 2-4, <strong>em</strong>. 2. 7, Comp. Num.-Lyc. 4. 10-12.<br />

65 Embora zesse parte do curriculum obrigatório, os Antigos <strong>de</strong>fendiam que nenhum<br />

<strong>hom<strong>em</strong></strong> livre <strong>de</strong>veria tocar instrumentos com a perfeição <strong>de</strong> um prossional, ou seja, por norma,<br />

a prática <strong>de</strong> instrumentos era vista, sobretudo a partir do século IV a.C., como uma ativida<strong>de</strong><br />

menos digna. Disso mesmo nos dá test<strong>em</strong>unho Plu. Per. 1. 5-6: <br />

<br />

<br />

<br />

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“Por isso, com razão, Antístenes ao ouvir que Isménias era um bom autista,<br />

comentou: mas como <strong>hom<strong>em</strong></strong> não presta, <strong>de</strong> outro modo não seria um bom autista. E Filipe<br />

observou ao lho, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma execução com melodia e com arte durante um banquete: «Não<br />

tens vergonha <strong>de</strong> tocar assim tão b<strong>em</strong>?» Pois é suciente que um príncipe dispense algum do seu<br />

t<strong>em</strong>po livre a ouvir os que tocam e já muito conce<strong>de</strong> às musas como simples espectador <strong>dos</strong> que<br />

compet<strong>em</strong> <strong>em</strong> tal matéria.” Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Wilson (1999: 58-95).<br />

66 Dámon era lho <strong>de</strong> Damóni<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Ea, foi discípulo <strong>de</strong> Pródico e amigo <strong>de</strong> Sócrates (Pl.<br />

La. 197d). Ficou conhecido pela sua teoria sobre a música (que não chegou até nós), matéria na<br />

qual se iniciou com Agátocles ou Lâmprocles. Segundo Platão, que também conrma a relação<br />

<strong>de</strong>ste com Péricles (Alc. 1. 118c), Dámon <strong>de</strong>fendia que a música estava intimamente relacionada<br />

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