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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O triunfo da sobre o <br />

É óbvio que a explicação das causas implica não só uma investigação<br />

cuidada e rigorosa, mas também – e inevitavelmente – a interpretação <strong>dos</strong><br />

da<strong>dos</strong> obti<strong>dos</strong>, já que estes não falam por si só, mas apenas quando estão<br />

relaciona<strong>dos</strong> entre si. E isso é tarefa do historiador... 19<br />

Nesse sentido, Heródoto preocupava-se, <strong>em</strong> primeiro lugar, com a<br />

distinção entre mito e acontecimentos reais – por ex<strong>em</strong>plo, as campanhas<br />

persas que invoca <strong>de</strong> facto ocorreram; já a Guerra <strong>de</strong> Troia e outros episódios,<br />

plenos <strong>de</strong> intervenções divinas, são meros 20 . É o <strong>caso</strong> <strong>dos</strong> raptos<br />

míticos <strong>de</strong> Io, Europa, Me<strong>de</strong>ia e Helena (cf. Hdt. 1. 1. 4 – 5. 1) que, segundo<br />

Persas e Fenícios, constituíam a causa r<strong>em</strong>ota das Guerras Pérsicas. Ainda que<br />

não <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> narrar a explicação <strong>de</strong>fendida por aqueles povos, Heródoto (Hdt.<br />

1. 5. 3) distancia-se <strong>de</strong>la, quando arma que não se posiciona relativamente à<br />

veracida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa versão e que, quanto a ele, o agente mais antigo da <strong>de</strong>savença<br />

entre Gregos e Persas terá sido Creso, o primeiro a investir contra os Helenos. O<br />

espírito crítico, <strong>de</strong> que já falámos, manifesta-se, pois, nesta divisão. A Heródoto,<br />

não lhe parec<strong>em</strong> normais ou plausíveis as intervenções diretas e miraculosas da<br />

divinda<strong>de</strong>, que não estão <strong>de</strong> acordo com a sua vivência do dia-a-dia. Só aquilo<br />

que a sua experiência comprova como verosímil o convence. Ainda assim, o<br />

nosso autor refere essa tradição ao longo da sua obra, salvaguardando s<strong>em</strong>pre o<br />

facto <strong>de</strong> que mencionar tais perspetivas não signica acreditar nelas 21 .<br />

No entanto, aceita a veracida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> oráculos e o papel pr<strong>em</strong>onitório <strong>dos</strong><br />

sonhos, dois el<strong>em</strong>entos da tradição literária partilha<strong>dos</strong> pela historiograa e pela<br />

tragédia. É, por ex<strong>em</strong>plo, com um sonho que Creso (Hdt. 1. 38. 1) justica ao<br />

lho Átis os cuida<strong>dos</strong> excessivos que lhe <strong>de</strong>dica. Todavia n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre oráculos<br />

e sonhos consegu<strong>em</strong> cumprir a sua missão. Não porque sejam enganadores, mas<br />

antes porque os que <strong>de</strong>les se serv<strong>em</strong> faz<strong>em</strong> uma leitura <strong>de</strong>turpada das mensagens,<br />

o que acaba por dar orig<strong>em</strong> a situações trágicas. Em Hdt. 1. 55, camos a saber<br />

que o excesso <strong>de</strong> conança <strong>de</strong> Creso para atacar os Me<strong>dos</strong> se <strong>de</strong>veu a uma<br />

consulta que fez à Pítia com o intuito <strong>de</strong> conhecer a duração do seu reinado.<br />

Perante a armação do oráculo <strong>de</strong> que aquele <strong>de</strong>veria fugir s<strong>em</strong> pejo quando<br />

um mulo fosse rei <strong>dos</strong> Me<strong>dos</strong>, Creso cou tranquilo, pois jamais os homens se<br />

sujeitariam a ser governa<strong>dos</strong> por outra espécie, logo, o po<strong>de</strong>r nunca sairia das<br />

mãos da sua família... E as consequências foram as que sab<strong>em</strong>os...<br />

Heródoto gostava <strong>de</strong> partir <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> test<strong>em</strong>unhos (<strong>de</strong> caráter oral ou<br />

arqueológico), <strong>de</strong> observar os locais que tinham sido o palco das ações que<br />

relatava, pois dava mais valor aos da<strong>dos</strong> obti<strong>dos</strong> <strong>em</strong> primeira mão do que a<br />

19 O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> um relato rigoroso, que exclua a interpretação e juízos <strong>de</strong> valor, é uma obsessão<br />

relativamente mo<strong>de</strong>rna. Mas, na verda<strong>de</strong>, qualquer trabalho no âmbito da história acaba por<br />

consistir numa interpretação, mais ou menos convincente. Cf. Morley (1999: 15).<br />

20 Tucídi<strong>de</strong>s (1. 20) também <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os conar <strong>em</strong> tudo aquilo que a tradição<br />

apresenta como verídico.<br />

21 Vi<strong>de</strong> infra p. 20.<br />

19

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