17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

que vai marcar toda a biograa (e.g. Alc. 16. 1, 23. 6) e acentua também a<br />

diculda<strong>de</strong> <strong>em</strong> se formar uma opinião concreta e <strong>de</strong>nitiva sobre a pessoa<br />

<strong>de</strong>ste <strong>ateniense</strong> 50 .<br />

Por outro lado, se pensarmos no contexto <strong>em</strong> que esta anedota <strong>de</strong>corre, não<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> associá-la ao gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> amantes <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s 51 : é<br />

que as palestras eram locais por excelência para relações <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>rastia 52 ; além<br />

disso, a linguag<strong>em</strong> da luta tinha conotações com o sexo 53 . D<strong>em</strong>ais, faz-nos <strong>de</strong><br />

imediato pensar <strong>em</strong> Pl. Symp. 217b-c, pois, nessa obra, Alcibía<strong>de</strong>s narra um<br />

combate entre Sócrates e ele próprio, do qual resultou a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

seduzir o lósofo 54 .<br />

A outra anedota que permite antever e/ou conrmar a sua obsessão pela<br />

vitória, pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser o primeiro e <strong>de</strong> levar s<strong>em</strong>pre a sua avante, b<strong>em</strong><br />

50 Não surpreen<strong>de</strong>, por isso, que <strong>em</strong> Alc. 16. 2-3, ou seja, no m da secção que concentra as anedotas,<br />

e como que a encerrá-la, Alcibía<strong>de</strong>s volte a ser comparado a um leão, o que sugere a impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aplicar a este indivíduo os critérios que por norma serv<strong>em</strong> para julgar o comportamento humano,<br />

já que os leões segu<strong>em</strong> padrões diferentes e são normalmente associa<strong>dos</strong> a monarquias e tiranias. É<br />

com base neste pressuposto que <strong>Plutarco</strong> evoca alguns versos <strong>de</strong> Aristófanes (Ra. 1425, 1432-3), que<br />

salientam o medo que o povo tinha da tirania, pela boca <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s e Ésquilo. O primeiro chama<br />

a atenção para a diculda<strong>de</strong> que o povo sentia <strong>em</strong> saber quais os seus verda<strong>de</strong>iros sentimentos para<br />

com Alcibía<strong>de</strong>s (– ‘[a cida<strong>de</strong>] <strong>de</strong>seja-o, mas o<strong>de</strong>ia-o e quer<br />

tê-lo’); o segundo, para os perigos <strong>de</strong>correntes da criação <strong>de</strong> um leão na cida<strong>de</strong>: é que qu<strong>em</strong> o faz<br />

acaba, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>, por ter <strong>de</strong> se submeter às suas exigências e extravagâncias. Em Alc. 16.<br />

7, como <strong>em</strong> Alc. 6. 3, <strong>Plutarco</strong> recorda uc. 6. 15. 3-4, que, apesar <strong>de</strong> fazer referência ao apreço que<br />

os Atenienses nutriam por este Alcmeónida ( – ‘tinha gran<strong>de</strong><br />

crédito junto <strong>dos</strong> compatriotas’), atribui o receio do povo () relativamente<br />

às ambições tirânicas () <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s ao seu comportamento pessoal<br />

pouco recomendável e que, por isso mesmo, fomentava tais suspeitas. Do confronto do texto <strong>de</strong><br />

Tucídi<strong>de</strong>s com o <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, salta à vista o facto <strong>de</strong> <strong>em</strong> Alc. 16. 7 o biógrafo especicar que os<br />

que receavam este alcmeónida eram os , as pessoas <strong>de</strong> mais ida<strong>de</strong>, o que se<br />

compreen<strong>de</strong> por ainda ter<strong>em</strong> viva na m<strong>em</strong>ória a experiência da tirania. Também Xenofonte (HG<br />

1. 4. 13-17) alu<strong>de</strong> à existência <strong>de</strong> duas fações: uma, pró Alcibía<strong>de</strong>s, que o consi<strong>de</strong>rava o melhor<br />

<strong>dos</strong> cidadãos (), injustamente banido por inimigos políticos, invejosos<br />

das suas capacida<strong>de</strong>s, que tentavam evitar que pugnasse pelo b<strong>em</strong>-estar do povo; outra, contrária,<br />

que o acusava <strong>de</strong> ser a causa <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os males <strong>de</strong> Atenas (<br />

). Sobre a sugestão que <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>ixa a propósito da inconsistência do caráter <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s e da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> chegar a um julgamento moral satisfatório a seu respeito, vi<strong>de</strong><br />

Pelling (1989: 257-274) e Piccirilli (1989: 5-21).<br />

51 Cf. Alc. 3-6. Fica, assim, evi<strong>de</strong>nte que <strong>Plutarco</strong> salienta, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da biograa, não<br />

só a beleza como a abundância <strong>de</strong> parceiros homossexuais <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, encoraja<strong>dos</strong> pela sua<br />

aparência, riqueza e estatuto social (cf. para a riqueza, Pl. Alc. 1. 104b-c; para a beleza, Pl. Alc.<br />

113b-c, Prt. 309 a-c, 316a, 336e).<br />

52 Cf. Pax 762-3, Ar. Ra. 1025; Pl. Phdr. 255d; Plu. Moralia 752B-C. Sobre este t<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong><br />

Dover (1978: 54-5); Percy (1996: 113-116).<br />

53 E.g. Ar. Pax 896-8, Ec 964-5. As palavras da família <strong>de</strong> mor<strong>de</strong>r (), por ex<strong>em</strong>plo, eram<br />

usadas como metáfora para sexo. Cf. Hen<strong>de</strong>rson (1975: 169-170); Poliako (1982: 101-136).<br />

54 Plu. Alc. 4. 4 parece aludir en passant a este episódio, ao armar que ambos lutavam <strong>em</strong><br />

conjunto. Nesse contexto, a luta passa a estar associada à inuência <strong>de</strong> Sócrates na educação <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s. Da comparação <strong>dos</strong> combates <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s com os do seu par (cf. Cor. 2), é possível<br />

concluir que o primeiro vencia <strong>de</strong>vido à sua habilida<strong>de</strong> e o segundo por causa da força física.<br />

171

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!