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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

<strong>dos</strong> seus concidadãos e <strong>dos</strong> colegas (<br />

). Já Alcibía<strong>de</strong>s, senhor <strong>de</strong> beleza e capacida<strong>de</strong>s invulgares, não foi<br />

tão b<strong>em</strong> sucedido, falha que po<strong>de</strong> ser atribuída à mutabilida<strong>de</strong> do caráter que<br />

possuía, cujos principais traços são as numerosas paixões, das quais se <strong>de</strong>stacam<br />

a e a 37 , como salienta <strong>Plutarco</strong> <strong>em</strong> Alc. 2. 1, único passo<br />

<strong>de</strong>sta biograa on<strong>de</strong> o autor faz uma armação explícita sobre a personalida<strong>de</strong> do<br />

protagonista:<br />

168<br />

<br />

38 <br />

<br />

<br />

“O seu caráter manifestou mais tar<strong>de</strong>, como era natural por causa <strong>dos</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

acontecimentos <strong>em</strong> que esteve envolvido e das vicissitu<strong>de</strong>s da fortuna, uma gran<strong>de</strong><br />

inconsistência e várias alterações. Mas as mais fortes das diversas e violentas<br />

paixões que a natureza lhe incutiu eram o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> vencer e <strong>de</strong> ser o primeiro...”<br />

O Queroneu <strong>de</strong>stinou algum espaço à infância 39 <strong>dos</strong> seus protagonistas,<br />

pois acreditava que os principais traços <strong>de</strong> uma personalida<strong>de</strong> começam a<br />

revelar-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais tenra ida<strong>de</strong>. No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles, tal acontece ainda n<strong>em</strong><br />

37 Debruçar-nos-<strong>em</strong>os adiante sobre as anedotas através das quais <strong>Plutarco</strong> ilustra estas<br />

características <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s. Em Moralia 788E, <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o político <strong>de</strong>ve evitar não<br />

só uma vida amorosa atribulada, mas sobretudo o gosto por disputas, pela glória e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

ser o primeiro e principal: é que estes <strong>de</strong>feitos geram invejas, ciúmes e discórdias. Não há como,<br />

diante <strong>de</strong> tal conselho, não recordar o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s…<br />

38 O adjetivo (que além <strong>de</strong>ste passo, ocorre igualmente <strong>em</strong> Alc. 24.5) é um<br />

<strong>dos</strong> epítetos <strong>de</strong> Ulisses (cf. Od. 1. 1, 10. 330; Pl. Hp. Mi. 364c-5b), que se tornou num herói<br />

paradigmático para os antigos por causa da adaptabilida<strong>de</strong> através da qual estruturou a sua vida<br />

itinerante. Mas o tratamento que a gura recebeu na tragédia (por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Filoctetes) fez<br />

com que o adjetivo assumisse conotação negativa, pois, nesses registos, Ulisses transforma-se<br />

no protótipo do sujeito s<strong>em</strong> escrúpulos e aldrabão. Tal como Ulisses, Alcibía<strong>de</strong>s sustentou a sua<br />

ação na astúcia e <strong>em</strong> logros pelos quais cou famoso. Sobre este t<strong>em</strong>a, consult<strong>em</strong>-se Stanford<br />

(1963); Walcot (1977: 1-19); Gribble (1999: 269-271). Essa característica <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s vai<br />

ser acionada sobretudo enquanto exilado. Qualquer <strong>de</strong>sterrado, excluído da vida política da<br />

sua cida<strong>de</strong>, é uma espécie <strong>de</strong> Ulisses que vai ativar toda a sua inteligência e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

para subsistir no mundo no qual é o el<strong>em</strong>ento mais fraco. Cf. Roisman (1984-6: 23<br />

sqq). Vi<strong>de</strong> infra p. 266 sqq.<br />

39 A importância dada a este período da vida <strong>dos</strong> indivíduos nas biograas é uma inuência<br />

do encomium. Nestes textos, a <strong>de</strong>scrição da infância e <strong>dos</strong> primeiros feitos <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> era alvo<br />

do elogio não tinha tanto por objetivo mostrar como se <strong>de</strong>senvolveu a sua personalida<strong>de</strong>, mas<br />

<strong>de</strong>monstrar que as virtu<strong>de</strong>s reveladas enquanto crianças se mantêm pela vida fora, ou seja, que<br />

se trata <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> pre<strong>de</strong>stinação ou dotes naturais. O interesse pela infância também<br />

se estendia à t<strong>em</strong>ática da educação: não admira, por isso, que, nas vidas <strong>dos</strong> indivíduos que<br />

se distinguiam por uma marca intelectual mais nítida, os relatos sobre essa fase sejam mais<br />

<strong>em</strong>beleza<strong>dos</strong>: é esse, por ex<strong>em</strong>plo, o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Per., <strong>em</strong>., Phil., Cic. e Luc. Sobre a infância na<br />

biograa, vi<strong>de</strong> Pelling (1990: 213-244).

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