17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

31 <br />

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

“Aí v<strong>em</strong> o Zeus-Péricles cabeça <strong>de</strong> cebola com o O<strong>de</strong>ão enterrado na tola agora<br />

que a história do caco foi à viola.”<br />

O facto <strong>de</strong> se dizer que Péricles traz o O<strong>de</strong>ão (que era, por assim dizer, a<br />

sua obra preferida) sobre a cabeça realça simultaneamente a dimensão <strong>de</strong>sta e<br />

o orgulho pela obra, pois sugere-se que está s<strong>em</strong>pre a procurar ostentá-la.<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po que abona a popularida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> dois biografa<strong>dos</strong>, a forma<br />

como <strong>Plutarco</strong> organiza a informação é sugestiva <strong>de</strong> uma conclusão que nos permite<br />

extrapolar para aquilo que foi a ação política <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>stes Alcmeónidas. O<br />

que tornava a aparência <strong>de</strong> Péricles menos perfeita (e que, por isso, os escultores<br />

procuravam disfarçar fazendo com que envergasse s<strong>em</strong>pre um elmo 32 ) tornou-se<br />

símbolo da sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção, da sua inteligência enquanto <strong>hom<strong>em</strong></strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Estado</strong> 33 . Já a cabeça <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, que constituía com os restantes m<strong>em</strong>bros<br />

do seu corpo o ex<strong>em</strong>plo máximo <strong>de</strong> beleza, <strong>em</strong>bora «abrigasse» inteligência e<br />

capacida<strong>de</strong>s admiráveis, foi incapaz <strong>de</strong> fazer tão bom uso <strong>dos</strong> seus dotes. Ou, se<br />

quisermos, por outras palavras, Péricles, <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> porte comum apesar da forma<br />

inusitada da cabeça, revelou-se mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong>, porque tinha (entre<br />

outras 34 ) qualida<strong>de</strong>s, que <strong>Plutarco</strong> evi<strong>de</strong>ncia logo no proémio da biograa <strong>em</strong> causa<br />

(Per. 2. 5), como 35 , 36 e o dom <strong>de</strong> controlar a impon<strong>de</strong>ração<br />

31 O era o caco on<strong>de</strong> se fazia a votação do ostracismo, medida instituída por<br />

Clístenes para punir aqueles que <strong>de</strong> algum modo agiss<strong>em</strong> contra a . To<strong>dos</strong> os anos, na<br />

reunião da Ass<strong>em</strong>bleia, cada m<strong>em</strong>bro escrevia num «caco» o nome do indivíduo que enten<strong>de</strong>sse<br />

<strong>de</strong>ver ser afastado. O nome que reunisse um mínimo <strong>de</strong> 6 000 votos era exilado por <strong>de</strong>z anos.<br />

Este era um meio a que frequent<strong>em</strong>ente se recorria para tentar afastar inimigos políticos. Ao que<br />

parece, Péricles terá recorrido a este estratag<strong>em</strong>a, nomeadamente para afastar Tucídi<strong>de</strong>s, lho <strong>de</strong><br />

Melésio (Per. 14. 3; infra p. 203).<br />

32 Cf. Plu. Per. 3. 4. Conservam-se bustos <strong>de</strong> mármore, cópias <strong>de</strong> uma estátua <strong>de</strong> bronze feita<br />

por Crésilas que era seu cont<strong>em</strong>porâneo. Parece que o alongamento da cabeça das estátuas <strong>de</strong><br />

bronze naquela época era prática corrente, pois facilitava a sustentação do elmo. Pelo menos é o<br />

que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Cohen (1991: 465-502).<br />

33 Como no-lo comprova a insistência <strong>dos</strong> cómicos na <strong>de</strong>selegância física <strong>de</strong> Péricles, que<br />

acaba por se tornar numa forma caricaturada <strong>de</strong> reconhecer a sua inteligência superior.<br />

34 Das outras qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Péricles ir<strong>em</strong>os falando «au fur et à mesure», s<strong>em</strong>pre que venham<br />

a propósito do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

35 Aristóteles (EN 1125b26) <strong>de</strong>ne como – ‘meio termo na ira’.<br />

36 Para Aristóteles (EN 1129a5), é este o conceito <strong>de</strong> :<br />

<br />

<br />

V<strong>em</strong>os que to<strong>dos</strong> estão <strong>de</strong> acordo <strong>em</strong> armar que a justiça<br />

é uma capacida<strong>de</strong> com base na qual os homens ag<strong>em</strong> com justiça e que os leva a praticar e a<br />

<strong>de</strong>sejar o que é justo; do mesmo modo no que respeita à injustiça, que os leva a ser injustos e a<br />

<strong>de</strong>sejar a injustiça.’<br />

167

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!