17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

do governo <strong>de</strong> Péricles por Tucídi<strong>de</strong>s 23 – sob a aparência <strong>de</strong> D<strong>em</strong>ocracia, apenas<br />

um <strong>hom<strong>em</strong></strong> (Péricles) <strong>de</strong>tinha verda<strong>de</strong>iramente o po<strong>de</strong>r – e a que os cómicos,<br />

exagerando a sua autorida<strong>de</strong> e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bater os rivais, chamam tirania.<br />

Ainda no mesmo parágrafo (Per. 3. 5) e a propósito do mesmo <strong>de</strong>feito,<br />

<strong>Plutarco</strong> volta a citar Cratino (N<strong>em</strong>esis 24 , fr. 118 K.-A.), que continua a<br />

estabelecer comparações entre Zeus e Péricles:<br />

<br />

“v<strong>em</strong>, ó Zeus. hospitaleiro e cabeçudo.”<br />

A comicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste fragmento resulta da justaposição <strong>dos</strong> planos mítico e<br />

histórico 25 . Sab<strong>em</strong>os que Zeus protegia as relações <strong>de</strong> hospitalida<strong>de</strong>, daí o seu<br />

epíteto . Péricles, por sua vez, tinha também alguns amigos estrangeiros,<br />

como por ex<strong>em</strong>plo Protágoras, Aspásia e Anaxágoras, tendo este último sido<br />

protegido pelo estadista aquando do julgamento a que foi sujeito, como relata<br />

<strong>Plutarco</strong> (Per. 32. 3-5). Além disso, t<strong>em</strong>os novamente presentes a noção <strong>de</strong><br />

tirania e a <strong>de</strong>formida<strong>de</strong> da cabeça <strong>de</strong> Péricles, cuja referência se baseia <strong>em</strong> um<br />

jogo <strong>de</strong> epítetos: o epíteto ‘senhor <strong>dos</strong> raios’ atribuído a Zeus 26 , que<br />

simboliza o seu po<strong>de</strong>r absoluto sobre todas as coisas e que também po<strong>de</strong>ria<br />

ser aplicado a Péricles 27 , sofre uma alteração para 28 – que signica<br />

23 Vi<strong>de</strong> infra p. 211.<br />

24 Em N<strong>em</strong>esis (430-429 a.C.), Cratino narra a união <strong>de</strong> Zeus (Péricles) e Némesis (Aspásia),<br />

da qual resulta Helena e responsabiliza Péricles pelo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar da Guerra do Peloponeso, já<br />

que este apareceria disfarçado <strong>de</strong> Zeus para levar a cabo os seus intentos.<br />

25 Estes dois ex<strong>em</strong>plos manifestam, como tantos outros, o efeito cómico <strong>de</strong> tom épico,<br />

cuja omnipresença se verica <strong>em</strong> toda a literatura grega. A referência a el<strong>em</strong>entos da tradição<br />

mitológica através <strong>de</strong> epítetos forja<strong>dos</strong> sobre outros oriun<strong>dos</strong> da épica e liga<strong>dos</strong>, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

a divinda<strong>de</strong>s é um estratag<strong>em</strong>a comum; tal adaptação ou «criação <strong>de</strong> mitos» (como os da<br />

ascendência <strong>de</strong> Péricles, lho <strong>de</strong> Crono e da Desor<strong>de</strong>m, ou <strong>de</strong> Aspásia, lha da Impudicícia e<br />

o aparecimento <strong>de</strong> um novo herói que não apresenta as qualida<strong>de</strong>s típicas), <strong>de</strong>monstra b<strong>em</strong> a<br />

criativida<strong>de</strong> da comédia. Por trás da referência mitológica, é possível adivinhar-se uma situação<br />

histórica. Mito e história un<strong>em</strong>-se, assim, para fazer crítica política. O efeito da comédia mítica<br />

torna-se mais evi<strong>de</strong>nte se o compararmos com o uso do mito na épica e na tragédia: os dois<br />

géneros nobres enfatizam sobretudo a do herói, o sofrimento que para ele resulta da<br />

consecução do i<strong>de</strong>al heroico, mas ten<strong>de</strong>m a reduzir as suas <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong>s e fraquezas (como é<br />

particularmente visível na obra <strong>de</strong> Eurípi<strong>de</strong>s). A comédia, por sua vez, explora precisamente<br />

o aspeto humano do herói, acentua-lhe a fragilida<strong>de</strong> e zomba do seu i<strong>de</strong>al, ou então apresenta<br />

como pano <strong>de</strong> fundo do mundo heroico, um ambiente mo<strong>de</strong>rno e quotidiano que <strong>de</strong>strói a<br />

gran<strong>de</strong>za mítica <strong>de</strong>vido ao anacronismo.<br />

26 E.g. Il. 21. 198.<br />

27 Em Per. 8. 4, diz-se que o estadista, quando abria a boca, soltava raios e coriscos (vi<strong>de</strong><br />

infra p. 213).<br />

28 era o epíteto que Zeus recebia na Beócia. Esta leitura, proposta por Meineke e<br />

aceite por Ziegler, recorda ainda a palavra ‘cabeça’ (vi<strong>de</strong> Re XA 1 [1972] 319 e supl. XV<br />

[1978] 1459). Flacelière e Crespo, por sua vez, prefer<strong>em</strong> a leitura proposta por Kock – <br />

165

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!