17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

No texto <strong>de</strong> Arquipo, Alcibía<strong>de</strong>s é visado <strong>de</strong> um modo indireto, pois o<br />

alvo da zombaria é o seu lho, que tudo fazia para imitar o estilo do pai, s<strong>em</strong><br />

sequer se esquecer <strong>de</strong> reproduzir o <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> pronúncia. Este cuidado do jov<strong>em</strong><br />

comprova, assim, quão ligada a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s estava a essa falha; é<br />

como se pensar nele levasse a que <strong>de</strong> imediato se ouvisse a troca do pelo .<br />

A dimensão da cabeça <strong>de</strong> Péricles tinha um efeito s<strong>em</strong>elhante, mas produziu<br />

(aparent<strong>em</strong>ente) mais comentários <strong>dos</strong> comediógrafos. Não surpreen<strong>de</strong>, por<br />

isso, que <strong>Plutarco</strong> comece por recordar o test<strong>em</strong>unho mais geral do grosso <strong>dos</strong><br />

comediógrafos áticos, que apelidaram Péricles <strong>de</strong> 20 ‘cabeça <strong>de</strong><br />

cebola’,<br />

164<br />

<br />

“os poetas áticos chamavam-lhe cabeça <strong>de</strong> cebola”<br />

e que, <strong>em</strong> seguida, invoque excertos concretos <strong>de</strong> autores <strong>de</strong> renome. O primeiro<br />

é um fragmento <strong>de</strong> Cratino (Quírones 21 , fr. 258 K.-A), on<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> realçar<br />

este pormenor da aparência física do futuro estadista, <strong>Plutarco</strong> aproveita para<br />

nos «apresentar» os «pais» da criança:<br />

<br />

<br />

“A Desor<strong>de</strong>m e o velho Crono uniram-se para gerar um tirano todo-po<strong>de</strong>roso,<br />

a qu<strong>em</strong> os <strong>de</strong>uses chamam «amontoador <strong>de</strong> cabeças».” 22<br />

Este passo <strong>de</strong> Cratino <strong>de</strong>monstra o potencial cómico da linguag<strong>em</strong> épica<br />

através da simples alteração do epíteto («que amontoa as nuvens»),<br />

distintivo <strong>de</strong> Zeus (cf. Il. 1. 511), para que se coadune com a caracterização <strong>de</strong><br />

Péricles, o Zeus mortal (): assim, tanto po<strong>de</strong>mos associá-lo às<br />

dimensões da cabeça do estadista e à sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reunir as massas, como a<br />

uma sobreposição da prepotência humana com a divina.<br />

O fragmento merece <strong>de</strong>staque também pela crítica política que faz: a<br />

referência ao «tirano» nascido <strong>de</strong> divinda<strong>de</strong>s relaciona-se com a caracterização<br />

20 Refere-se à urginea maritima, género <strong>de</strong> planta herbácea com um bolbo grosso, <strong>de</strong> forma<br />

oval, bastante largo (com cerca <strong>de</strong> 15 cm. <strong>de</strong> diâmetro) e que po<strong>de</strong> atingir o peso <strong>de</strong> 7 kg.<br />

21 Quírones (ca. 430 a.C.) é uma comédia cujo coro é constituído por Centauros que<br />

lamentam ter <strong>de</strong> viver num período on<strong>de</strong> a moral e os bons costumes já não exist<strong>em</strong>. Por isso,<br />

faz<strong>em</strong> regressar do Ha<strong>de</strong>s Sólon, político e moralista da Atenas do século VI a.C., para que<br />

retome as ré<strong>de</strong>as da polis.<br />

22 Sobre a alusão à tirania <strong>de</strong> Péricles neste passo, vi<strong>de</strong> infra p. 212.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!