17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

Se à <strong>de</strong>sconcertante beleza <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s() faz<strong>em</strong> alusão autores<br />

<strong>dos</strong> mais diversos registos – nomeadamente Pl. Alc. 1. 113b, Prt. 309a, 316a;<br />

D. S. 13. 68. 5 –, ao seu <strong>de</strong>feito <strong>de</strong> pronúncia e à disformida<strong>de</strong> da cabeça <strong>de</strong><br />

Péricles faz<strong>em</strong> menção os comediógrafos, já que o ataque baseado na caricatura<br />

<strong>de</strong> «<strong>de</strong>feitos» físicos (ainda que personalizado <strong>em</strong> cada <strong>caso</strong>) faz parte <strong>de</strong> uma<br />

velha tradição cómica 19 . Eram vítimas da mordacida<strong>de</strong> da comédia sobretudo<br />

aqueles que tinham mais inuência na vida da e que, por esse motivo, viam<br />

criticadas não só as opções políticas como aspetos da vida pessoal e privada.<br />

Assim, não surpreen<strong>de</strong> que Péricles seja o alvo por excelência <strong>de</strong>sses ataques<br />

(quer <strong>de</strong> forma direta, quer indireta – quando os visa<strong>dos</strong> são pessoas das suas<br />

relações): além <strong>de</strong> ter sido qu<strong>em</strong> por mais t<strong>em</strong>po esteve a comandar os <strong>de</strong>stinos<br />

<strong>de</strong> Atenas no século V, o período do seu governo coincidiu com o do apogeu da<br />

Comédia Grega, com poetas como Cratino, Telecli<strong>de</strong>s, Êupolis, Aristófanes e<br />

Platão Cómico.<br />

Por isso, <strong>Plutarco</strong> não pô<strong>de</strong> evitar a referência a tais test<strong>em</strong>unhos<br />

(respetivamente <strong>em</strong> Per. 3.4-7, Alc. 1.6-8) que abordam, s<strong>em</strong> pieda<strong>de</strong>, esses<br />

<strong>de</strong>slizes da natureza, o que revela b<strong>em</strong> a vulgarida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste género <strong>de</strong> comentários.<br />

Relativamente a Alcibía<strong>de</strong>s, começa por recordar Ar. V. 44-46:<br />

<br />

<br />

<br />

“Então Alcibía<strong>de</strong>s, bleso, disse-me:<br />

«Vês Teolo? T<strong>em</strong> cabeça <strong>de</strong> colvo».<br />

Nunca Alcibía<strong>de</strong>s foi bleso tão a propósito!”<br />

O efeito cómico conseguido no texto original <strong>de</strong> Aristófanes é impossível<br />

<strong>de</strong> reproduzir <strong>em</strong> português: é que, por causa do seu ceceio, ao trocar o <br />

<strong>de</strong> por , Alcibía<strong>de</strong>s qualica apropriadamente Teoro <strong>de</strong> adulador<br />

().<br />

Logo <strong>em</strong> seguida, o biógrafo invoca um passo <strong>de</strong> Arquipo (fr. 48 K.-A.).<br />

<br />

<br />

<br />

“E Arquipo, zombando do lho <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, diz: «caminha com afetação,<br />

arrastando o manto, e para se parecer o mais possível com o pai, inclina a cabeça<br />

e ceceia».”<br />

19 Disso nos dá test<strong>em</strong>unho Aristófanes, na parábase <strong>de</strong> Nuvens (540: <br />

– ‘n<strong>em</strong> goza com os carecas’), ao apresentar a crítica aos carecas como um lugar-comum.<br />

163

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!