17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles, <strong>Plutarco</strong> t<strong>em</strong> o cuidado <strong>de</strong> começar por referir a tribo 3<br />

e o <strong>de</strong>mo 4 a que aquele pertence, como um <strong>ateniense</strong> puro, e por acrescentar<br />

que, quer por parte <strong>de</strong> pai, quer por parte <strong>de</strong> mãe, tinha orig<strong>em</strong> nobre. No<br />

entanto, nunca diz abertamente (ainda que a restante informação o <strong>de</strong>ixe claro)<br />

que Péricles estava ligado à família <strong>dos</strong> Alcmeónidas 5 . Na Vida <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s,<br />

pelo contrário, utiliza o adjetivo 6 para i<strong>de</strong>nticar Mégacles 7 , o<br />

avô <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, mas omite alusões à tribo e ao <strong>de</strong>mo 8 .<br />

A consanguinida<strong>de</strong> existente entre estes dois ilustres m<strong>em</strong>bros da não<br />

menos ilustre família <strong>dos</strong> Alcmeónidas ca evi<strong>de</strong>nte aquando da apresentação<br />

das suas mães: Agariste (a <strong>de</strong> Péricles) é apresentada como neta <strong>de</strong> Clístenes 9<br />

Phoc., ou A<strong>em</strong>.). Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Pelling (1990: 213-244); Albini (1997); Du (1999:<br />

310-311).<br />

3 A tribo <strong>de</strong> Acamante tinha por epónimo Ácamas, lho <strong>de</strong> Teseu e Fedra. Embora<br />

não gure na epopeia homérica, lendas posteriores (e. g. E. Hec. 123-129) refer<strong>em</strong> o papel<br />

importante que este monarca teve, com o seu irmão D<strong>em</strong>ofonte, na tomada <strong>de</strong> Troia. Para<br />

conhecer melhor Ácamas, consulte-se Grimal ( 2 1992: s. v). É curioso notar que Péricles acaba,<br />

assim, por surgir indiretamente associado à gura do fundador mítico <strong>de</strong> Atenas como um seu<br />

r<strong>em</strong>oto <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte. O mesmo não se po<strong>de</strong> dizer <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, já que o biógrafo coloca ênfase<br />

na ascendência mítica da sua família paterna, associada a Eurísaces, lho <strong>de</strong> Ájax (cf. Pl. Alc. 1.<br />

121-2).<br />

4 O <strong>de</strong>mo <strong>de</strong> Colarges estava situado no extr<strong>em</strong>o norte da Ática, próximo da encosta<br />

nor<strong>de</strong>ste do monte Egáleo.<br />

5 Os Alcmeónidas eram uma família ilustre e po<strong>de</strong>rosa. Embora a sua orig<strong>em</strong> fosse<br />

normalmente associada à casa real <strong>de</strong> Pilos (Alcméon seria, segundo D. S. 12. 38. 7, um bisneto<br />

<strong>de</strong> Nestor refugiado <strong>em</strong> Atenas após a chegada <strong>dos</strong> Heraclidas), muitos <strong>dos</strong> seus m<strong>em</strong>bros<br />

associavam-na a um Alcméon que teria sido cont<strong>em</strong>porâneo <strong>de</strong> Teseu - (Graves: 2004: passim).<br />

Para informações mais <strong>de</strong>talhadas sobre esta família, consult<strong>em</strong>-se, e.g., Hdt. 5. 62-73, 6. 125-<br />

131; Davies (1971: 368 sqq.); Fornara – Samons (1991: 1-36) e a bibliograa citada pelos<br />

autores, nomeadamente Toeper (1889: 226-28).<br />

6 Em Pl. Alc. 1. 104a-b, Sócrates tece um gran<strong>de</strong> elogio à família no seio da qual Alcibía<strong>de</strong>s<br />

nasceu, ao apresentá-la como uma das mais importantes <strong>de</strong> toda a Grécia e não só <strong>de</strong> Atenas.<br />

Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser curioso notar que Sócrates não i<strong>de</strong>ntica a família do jov<strong>em</strong> pelo nome, o que<br />

certamente se justica por causa da cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong> que une os da<strong>dos</strong> e o texto. Se pensarmos<br />

que <strong>Plutarco</strong> também não revela gran<strong>de</strong> preocupação <strong>em</strong> mencionar o nome da família <strong>em</strong><br />

causa (sobretudo na Vida <strong>de</strong> Péricles), concluímos que, apesar <strong>dos</strong> séculos entretanto volvi<strong>dos</strong>, o<br />

renome <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s atingira uma proporção tal que a m<strong>em</strong>ória popular continuava a<br />

relacioná-los com a família <strong>dos</strong> Alcmeónidas. A propósito <strong>de</strong>ste test<strong>em</strong>unho platónico, importa<br />

ainda salientar que, segundo Sócrates, a pertença a este era para Alcibía<strong>de</strong>s um argumento<br />

justicativo da sua maneira <strong>de</strong> ser e ambições.<br />

7 Filho <strong>de</strong> Hipócrates <strong>de</strong> Alópece, foi vítima <strong>de</strong> ostracismo <strong>em</strong> 487/6 a.C.<br />

8 O <strong>de</strong>mo Escamboni<strong>de</strong>, a que Alcibía<strong>de</strong>s pertence, é referido <strong>em</strong> Alc. 22. 4, on<strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong><br />

reproduz o texto da ata <strong>de</strong> acusação contra o lho <strong>de</strong> Clínias no âmbito do processo relativo à<br />

mutilação <strong>dos</strong> Hermes.<br />

9 Clístenes era um <strong>dos</strong> Alcmeónidas aos quais se atribui a expulsão do tirano Hípias <strong>em</strong><br />

510 a.C. Durante a tirania, chegou a ser arconte <strong>em</strong> 525/524 a.C., mas quando se <strong>de</strong>senten<strong>de</strong>u<br />

com os tiranos, toda a sua família foi forçada ao exílio. Após 510 a.C., travou um duro combate<br />

com Iságoras (apoiado pelo rei Cleómenes <strong>de</strong> Esparta) para impedir a instauração <strong>de</strong> uma<br />

oligarquia e foi responsável por importantes reformas na senda da <strong>de</strong>mocracia (cf. Boardman:<br />

2 1988, 305 sq.). Talvez o breve elogio <strong>de</strong> Clístenes, enquanto opositor da tirania e impulsionador<br />

160

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!