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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V – O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

permissivo ou protetor, porque assim se impe<strong>de</strong> o correto <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

criança: «amar <strong>de</strong>masiado é não amar».<br />

O biógrafo dá particular relevo a ação <strong>dos</strong> pais durante a adolescência <strong>dos</strong><br />

lhos, porque, talvez, <strong>de</strong>vido à sua própria experiência enquanto pai, tinha a<br />

noção <strong>de</strong> que era mais difícil educar e manter no bom caminho os adolescentes<br />

do que as crianças. Na sua perspetiva, qualquer pai sensato <strong>de</strong>ve redobrar os<br />

cuida<strong>dos</strong> com lhos que atravessam essa fase: é que, nessa ida<strong>de</strong>, os jovens<br />

possu<strong>em</strong> uma gran<strong>de</strong> energia que os leva a cometer excessos – na comida, nos<br />

jogos, nos amores... Torna-se, por isso, forçoso não <strong>de</strong>ixá-los s<strong>em</strong> orientação<br />

e vigilância, sob pena <strong>de</strong> se lhes dar involuntariamente licença para a prática<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>litos, pois a força <strong>dos</strong> prazeres é incontrolável e precisa <strong>de</strong> travão. Para<br />

não vir a ter dissabores, os pais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> vigiar, corrigir com prudência, ensinar,<br />

ameaçar, pedir, selecionar as companhias – <strong>de</strong> modo a afastá-los <strong>de</strong> pessoas<br />

perversas e <strong>de</strong> aduladores 86 – e mostrar ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> pessoas que caíram <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>sgraça por amor <strong>dos</strong> prazeres e <strong>de</strong> outras que foram louvadas e ganharam<br />

boa fama pela sua t<strong>em</strong>perança. De facto, o é, na perspetiva do<br />

nosso autor, o instrumento mais ecaz para a formação <strong>dos</strong> jovens, quer se trate<br />

<strong>de</strong> um ex<strong>em</strong>plo atual, quer <strong>de</strong> um ex<strong>em</strong>plo histórico ou lendário. Aliás, é nesse<br />

pressuposto que assenta a redação das Vitae. Qualquer pessoa – e sobretudo<br />

os jovens – prefere ouvir histórias agradáveis (como as que <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> feitos<br />

excecionais) a sermões. Não admira, por isso, que, ao ouvir<strong>em</strong> (ou ler<strong>em</strong>) essas<br />

narrativas, os jovens se <strong>de</strong>ix<strong>em</strong> persuadir com mais facilida<strong>de</strong> e acab<strong>em</strong> por<br />

<strong>de</strong>sejar imitar essas ações nobres.<br />

O Queroneu enten<strong>de</strong> igualmente perigoso que se exija <strong>de</strong>masiado aos lhos,<br />

isto é, que se queira que sejam os primeiros <strong>em</strong> tudo e que trabalh<strong>em</strong> <strong>em</strong> excesso 87 .<br />

Este é, portanto, mais um <strong>dos</strong> <strong>caso</strong>s <strong>em</strong> que a se revela indispensável.<br />

<strong>Plutarco</strong> ilustra-o com novo recurso a uma metáfora agrícola (Moralia 9B):<br />

156<br />

<br />

<br />

<br />

“assim como as plantas cresc<strong>em</strong> se regadas mo<strong>de</strong>radamente, mas se afogam<br />

com muita água, do mesmo modo a alma crescerá com trabalhos mo<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong> e<br />

com excessivos afogar-se-á.”<br />

<strong>Plutarco</strong> é apologista <strong>de</strong> um ensino diversicado e abrangente (<br />

), <strong>em</strong>bora reconheça que é impossível ser-se perfeito <strong>em</strong> todas as<br />

lhos, suportando as suas faltas e não se conservando ira<strong>dos</strong> por muito t<strong>em</strong>po.<br />

86 Sobre os efeitos da inuência <strong>dos</strong> aduladores, vi<strong>de</strong> Plu. Moralia 13A-C.<br />

87 Na verda<strong>de</strong>, como já vimos antes (supra p. 150), quando se está excessivamente cansado, o<br />

estudo não dá frutos. O <strong>de</strong>scanso é o condimento do trabalho.

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