17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Do nascimento ao ingresso na vida ativa: a educação do político <strong>em</strong> Atenas<br />

reino animal), por oposição ao das amas, que, <strong>de</strong> algum modo, são pagas para<br />

cuidar <strong>de</strong> lhos que não os seus.<br />

À s<strong>em</strong>elhança <strong>de</strong> Platão e Aristóteles 82 , chama a atenção para o facto <strong>de</strong><br />

a formação do caráter seguir pari passu o crescimento do corpo, logo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

o nascimento. Por isso, é preciso ter cuidado com a atmosfera moral que<br />

ro<strong>de</strong>ia os que estão <strong>em</strong> formação: as amas, escravos e pedagogos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

criteriosamente seleciona<strong>dos</strong> 83 . É que o ex<strong>em</strong>plo é, para <strong>Plutarco</strong>, o instrumento<br />

educativo por excelência. Pela mesma razão, torna-se imperioso selecionar as<br />

lendas contadas às crianças, para que não sejam inuenciadas pela corrupção e<br />

insensatez, e cuidar para que os seus ouvi<strong>dos</strong> 84 não tenham acesso à linguag<strong>em</strong><br />

obscena.<br />

<strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>marca-se pela posição que assume relativamente ao papel <strong>dos</strong><br />

pais (ou se quisermos, <strong>dos</strong> s<strong>em</strong>eadores) na educação <strong>dos</strong> lhos (<strong>em</strong>bora o que<br />

arma seja extensível aos mestres) e que se baseia na sua experiência pessoal.<br />

Ele crê que os progenitores são o melhor ex<strong>em</strong>plo que os lhos po<strong>de</strong>m ter<br />

e que, se tal não acontece, os jovens tornam-se maus. Defen<strong>de</strong>, por isso, que<br />

os jovens <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser educa<strong>dos</strong> com bons mo<strong>dos</strong>, e que os pais não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

muito ru<strong>de</strong>s ou cruéis, mas antes perdoar as faltas menos graves e recordar que<br />

também eles, um dia, tiveram aquelas ida<strong>de</strong>s.<br />

Segundo o Queroneu, o i<strong>de</strong>al é conseguir atingir o meio termo entre o<br />

elogio e a censura 85 . Além disso, é da opinião <strong>de</strong> que não se <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>masiado<br />

Segundo o Estagirita, as mães sent<strong>em</strong> alegria <strong>em</strong> amar os lhos; basta-lhes amá-los e saber estão<br />

b<strong>em</strong> para se sentir<strong>em</strong> recompensadas por toda essa <strong>de</strong>dicação. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> ainda<br />

Moralia 496C (on<strong>de</strong> justica a posição superior <strong>dos</strong> seios humanos – por comparação com os<br />

<strong>dos</strong> animais – com o facto <strong>de</strong> a mãe dar alimento mas sobretudo amor).<br />

82 Vi<strong>de</strong> supra pp. 150-151.<br />

83 Cf. Moralia 439F-440A. Amas, pedagogos e escravos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser preferencialmente gregos<br />

(por ter<strong>em</strong> caráter superior ao <strong>dos</strong> bárbaros e falar<strong>em</strong> uma língua comum), ter experiência e<br />

bons costumes, pois acompanham as crianças <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais tenra ida<strong>de</strong>. É essa a razão pela<br />

qual <strong>Plutarco</strong> (Moralia 4A-5A) aproveita para criticar to<strong>dos</strong> aqueles que se diz<strong>em</strong> preocupa<strong>dos</strong><br />

com a educação <strong>dos</strong> lhos, mas reservam os melhores escravos (isto é, os mais virtuosos)<br />

para os negócios, e também to<strong>dos</strong> aqueles que contratam pedagogos que sab<strong>em</strong> ser maus só<br />

porque ce<strong>de</strong>ram a adulações ou quiseram agradar a amigos. O Queroneu, citando um protesto<br />

<strong>de</strong> Sócrates (Pl. Clit. 407a), con<strong>de</strong>na ainda os que se preocupam mais com a acumulação <strong>de</strong><br />

riqueza do que com a educação <strong>dos</strong> lhos, acrescentando que se ass<strong>em</strong>elham a alguém que<br />

se preocupa com os sapatos mas não cuida <strong>dos</strong> pés. E não poupa os que, por ser<strong>em</strong> avarentos,<br />

contratam mestres mais baratos. Em Moralia 9D, <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> ainda que os pais <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

mostrar interesse por aquilo que os lhos apren<strong>de</strong>m, como forma <strong>de</strong> estímulo aos professores:<br />

um assalariado, se não tiver <strong>de</strong> prestar contas, t<strong>em</strong> tendência a <strong>de</strong>scurar o seu trabalho.<br />

84 Em Moralia 38A, D-E, o sentido da audição é apresentado como o mais sensível, na medida<br />

<strong>em</strong> que é o único que permite, além do contacto com o Mal (como os <strong>de</strong>mais), o acesso à virtu<strong>de</strong>.<br />

85 Como arma <strong>em</strong> Moralia 12C-D, quando reete sobre a orientação <strong>dos</strong> adolescentes,<br />

a prática da virtu<strong>de</strong> é estimulada pela esperança da honra (que predispõe às boas ações)<br />

e pelo t<strong>em</strong>or do castigo (que nos torna mais lentos para a prática das más). Os pais <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

comportar-se como médicos, que misturam r<strong>em</strong>édios amargos com os doces, fazendo do prazer<br />

um caminho para o proveito, combinando rigor com doçura, ce<strong>de</strong>ndo por vezes aos <strong>de</strong>sejos <strong>dos</strong><br />

155

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!