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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Do nascimento ao ingresso na vida ativa: a educação do político <strong>em</strong> Atenas<br />

<strong>de</strong>fendido, também <strong>Plutarco</strong> chama a atenção para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

se fazer uma seleção criteriosa <strong>dos</strong> progenitores 72 : qu<strong>em</strong> quer ter lhos<br />

legítimos ilustres, não po<strong>de</strong> dar-lhes mães cortesãs ou concubinas, visto<br />

que tais senhoras seriam uma mancha na vida futura <strong>dos</strong> lhos. De facto,<br />

qu<strong>em</strong> po<strong>de</strong>ria agir livr<strong>em</strong>ente (<strong>em</strong> um mundo <strong>em</strong> que os preconceitos não<br />

eram camua<strong>dos</strong>) sob a ameaça <strong>de</strong> que lhe fosse apontada uma ascendência<br />

ignóbil? Até o mito veiculava essa preocupação, sentida por aqueles que<br />

<strong>de</strong>sconheciam as suas origens. Pens<strong>em</strong>os, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Édipo (S. OT<br />

1062-1063), que, quando <strong>de</strong>scobre não ser lho <strong>dos</strong> reis <strong>de</strong> Corinto e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />

averiguar qu<strong>em</strong> são os seus pais, diz a Jocasta (que se opõe à investigação)<br />

que não t<strong>em</strong>a vir a ser consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> condição inferior no <strong>caso</strong> <strong>de</strong> ele ser<br />

lho <strong>de</strong> escravos. Ou Hércules (E. HF 1261-1262), que arma que um<br />

nascimento mal preparado, isto é, assente <strong>em</strong> fundações más, dá orig<strong>em</strong><br />

a uma raça amaldiçoada por infortúnios. Ou Íon (E. Ion, passim), que,<br />

<strong>de</strong>sconhecendo a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> seus pais até ao encontro com Xuto e<br />

Creúsa, refere por diversas vezes a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter uma orig<strong>em</strong> ignóbil,<br />

<strong>de</strong> ser um lho bastardo, ilegítimo ou <strong>de</strong> uma mulher enganada. Ou ainda<br />

Fedra (E. Hipp. 424), que diz à sua ama que o conhecimento das culpas<br />

<strong>dos</strong> pais escraviza até o <strong>hom<strong>em</strong></strong> corajoso 73 .<br />

O Queroneu chama também a atenção para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os<br />

progenitores se encontrar<strong>em</strong> sóbrios aquando da relação sexual 74 : assim como<br />

pais pouco saudáveis geram lhos pouco sãos, pais cujo procedimento não é<br />

irrepreensível darão orig<strong>em</strong> a lhos <strong>de</strong> comportamento indigno 75 .<br />

Uma vez foca<strong>dos</strong> estes dois pressupostos relativos à conceção (<strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

diretamente a natureza <strong>de</strong> cada um, já que <strong>dos</strong> pais tanto se herdam virtu<strong>de</strong>s como<br />

<strong>de</strong>feitos), <strong>Plutarco</strong> volta-se para a educação que se <strong>de</strong>ve fornecer às crianças,<br />

começando por realçar que o seu resultado (o <strong>hom<strong>em</strong></strong> perfeito, virtuoso) está<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da conjugação <strong>de</strong> três el<strong>em</strong>entos essenciais 76 : a natureza, a razão (que<br />

72 <strong>Plutarco</strong> (Moralia 1C-D) conta duas anedotas que ilustram os prós e contras <strong>de</strong> uma<br />

tal escolha. A primeira relaciona-se com o gran<strong>de</strong> estadista grego T<strong>em</strong>ístocles, cujo lho se<br />

orgulhava <strong>de</strong> dizer que as suas <strong>de</strong>cisões eram sancionadas pelo povo <strong>ateniense</strong>, na medida <strong>em</strong><br />

que os seus pais concordavam com elas e que os Atenienses queriam s<strong>em</strong>pre o que T<strong>em</strong>ístocles<br />

preferia. A segunda t<strong>em</strong> Arquidamo por protagonista: consta que terá sido multado pelos<br />

Lace<strong>de</strong>mónios por se ter casado com uma mulher baixa, da qual nasceriam reizinhos e não reis.<br />

Sobre este t<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong> etiam Moralia 563A.<br />

73 Dos ex<strong>em</strong>plos cita<strong>dos</strong>, este é o único mencionado por <strong>Plutarco</strong> (Moralia 1C).<br />

74 Em Lyc. 15. 6, arma que os noivos espartanos não se apresentavam diante das noivas n<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong>briaga<strong>dos</strong> n<strong>em</strong> cansa<strong>dos</strong>. Parece acreditar que isso tinha inuência na soli<strong>de</strong>z <strong>de</strong> caráter que<br />

geralmente caracteriza os Lace<strong>de</strong>mónios.<br />

75 Para ilustrá-lo, recorre a uma anedota protagonizada por Diógenes (Moralia 2A). Este, ao<br />

<strong>de</strong>parar-se com um jov<strong>em</strong> fora <strong>de</strong> si, dirige-se-lhe dizendo que o seu pai estava bêbado quando<br />

o gerou.<br />

76 Esta teoria não é original <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, na medida <strong>em</strong> que já fora apresentada <strong>em</strong> Arist. Pol.<br />

1334b6-7, EN 1103a16, segundo o qual a educação está intimamente ligada à natureza (),<br />

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