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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O triunfo da sobre o <br />

aplicação à cultura e à tradição é que os episódios maravilhosos da epopeia<br />

começaram a ser postos <strong>em</strong> causa. Todavia não se evoluiu logo para a história,<br />

pois a primeira tendência foi ignorar e <strong>de</strong>sculpabilizar as incongruências <strong>de</strong><br />

Homero:<br />

quandoque bonus dormitat Homerus 15 .<br />

Por essa razão, só se chegou à história quando se sentiu a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> comprovar aquilo que se dizia através <strong>de</strong> test<strong>em</strong>unhos <strong>dos</strong> que haviam<br />

presenciado os feitos. Mas era impossível aplicar tal método aos Po<strong>em</strong>as<br />

Homéricos, pelo que os estudiosos se <strong>de</strong>bruçam, ainda hoje, sobre a<br />

historicida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> mesmos.<br />

Não admira, pois, que, ti<strong>dos</strong> durante largo período como verosímeis<br />

e verídicos, tenham inuenciado o relato histórico. Uma das marcas mais<br />

evi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> tal ascendência é o t<strong>em</strong>a: a guerra. De facto, aquelas que são<br />

conhecidas como as duas primeiras e mais importantes obras <strong>de</strong> historiograa<br />

grega centram-se, como a Ilíada, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s episódios bélicos: Heródoto<br />

<strong>de</strong>dicou-se às Guerras Médicas e Tucídi<strong>de</strong>s, à do Peloponeso. Ambos os<br />

autores consi<strong>de</strong>ram as «suas» guerras as maiores, logo, superiores à <strong>de</strong> Troia.<br />

Também a Odisseia <strong>de</strong>ixou o seu cunho sobretudo <strong>em</strong> Heródoto, que, por<br />

vezes, parece per<strong>de</strong>r-se por entre digressões baseadas <strong>em</strong> relatos etnográcos<br />

e geográcos, também muito frequentes no po<strong>em</strong>a que relata os errores <strong>de</strong><br />

Ulisses.<br />

A<strong>de</strong>mais do gosto pela genealogia, igualmente incutido pelos Po<strong>em</strong>as<br />

Homéricos (cf. e. g. Il. 6. 123-8 – quando Diome<strong>de</strong>s pe<strong>de</strong> a Glauco que se<br />

i<strong>de</strong>ntique), encontramos <strong>em</strong> diversos passos <strong>de</strong>stes po<strong>em</strong>as indícios da<br />

preocupação, que já então existia, <strong>em</strong> cometer feitos gloriosos que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong><br />

ser recorda<strong>dos</strong> pelas gerações vindouras, tal como naquele t<strong>em</strong>po já se<br />

recordavam os feitos <strong>dos</strong> antepassa<strong>dos</strong>. Neste sentido, Hornblower (1994: 7)<br />

chama a nossa atenção para trechos como Il. 3. 125-8 (passo no qual Helena<br />

surge como a primeira pessoa a, <strong>de</strong> algum modo, tentar conservar os principais<br />

acontecimentos da guerra para a posterida<strong>de</strong>, uma vez que os retrata nas suas<br />

tapeçarias) e Il. 9. 189-194 (on<strong>de</strong> Heitor, às portas da morte, suplica por um<br />

m glorioso que possa mais tar<strong>de</strong> ser recordado).<br />

A inuência <strong>dos</strong> Po<strong>em</strong>as Homéricos sobre a exerceu-se também<br />

<strong>em</strong> termos formais, já que os historiadores 16 se serviram <strong>de</strong> recursos tipicamente<br />

épicos para a captatio beneuolentiae do leitor/ouvinte, tornando, assim, mais viva<br />

15 Hor. Ars 359.<br />

16 Não nos ir<strong>em</strong>os alargar <strong>em</strong> ex<strong>em</strong>plos n<strong>em</strong> <strong>em</strong> referências a historiadores que não Heródoto<br />

e Tucídi<strong>de</strong>s para não nos alongarmos <strong>de</strong>masiado, visto não ser este o objetivo principal do nosso<br />

estudo. Sobre este t<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong> e. g. Bury (1958) e Hornblower (1994).<br />

17

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