O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Parte V – O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />
uma súmula <strong>de</strong> muito do que os lósofos anteriores disseram, mas também<br />
para termos el<strong>em</strong>entos que nos permitam vericar até que ponto os políticos<br />
cujas biograas estamos a analisar tiveram ou não uma educação que se<br />
coaduna com aquilo que <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>al. O seu pensamento sobre<br />
a formação <strong>dos</strong> cidadãos encontra-se sist<strong>em</strong>atizado no opúsculo De liberis<br />
educandis (daí que nos vamos centrar nele), <strong>em</strong>bora o t<strong>em</strong>a seja recorrente ao<br />
longo quer <strong>dos</strong> Moralia quer das Vitae 69 .<br />
O nosso autor (Moralia 5A-F) consi<strong>de</strong>ra a boa educação o melhor<br />
investimento, porque conduz à felicida<strong>de</strong> e à virtu<strong>de</strong> 70 . Todo aquele que não<br />
recebe uma formação apropriada transforma-se <strong>em</strong> um adulto que rejeita<br />
a vida regrada e entrega-se a prazeres próprios <strong>de</strong> escravos: uns tornam-se<br />
aduladores e parasitas, outros compram a liberda<strong>de</strong> a cortesãs e prostitutas<br />
(que, como ver<strong>em</strong>os, não serv<strong>em</strong> para constituir família), outros passam a vida<br />
<strong>em</strong> banquetes, ro<strong>de</strong>a<strong>dos</strong> <strong>de</strong> más companhias. Consequent<strong>em</strong>ente, a instrução<br />
agura-se como único b<strong>em</strong> imortal e divino, que n<strong>em</strong> a guerra – que tudo<br />
<strong>de</strong>strói – consegue abalar. D<strong>em</strong>ais, por ironia do <strong>de</strong>stino, a instrução (e a<br />
sabedoria que <strong>de</strong>la <strong>de</strong>corre) é o único b<strong>em</strong> que realmente importa e o único<br />
que se enriquece, que não se <strong>de</strong>grada, com o correr <strong>dos</strong> anos, daí que seja tão<br />
importante investir nele.<br />
No De liberis educandis, o Queroneu propõe-se, por isso, tecer<br />
consi<strong>de</strong>rações sobre a educação <strong>dos</strong> lhos legítimos livres (;<br />
), que se preten<strong>de</strong> que venham a ser ilustres (<br />
) 71 . Para que o processo possa ser b<strong>em</strong> sucedido, é preciso ter <strong>em</strong> conta<br />
três momentos fundamentais, para os quais a ação <strong>dos</strong> pais t<strong>em</strong> importância<br />
crucial: a conceção (que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> exclusivamente <strong>dos</strong> progenitores), a infância<br />
e a adolescência (durante as quais se conjugam as inuências da natureza<br />
individual <strong>de</strong> cada jov<strong>em</strong> e da ação <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> aqueles que assum<strong>em</strong> o papel <strong>de</strong><br />
seus educadores).<br />
À s<strong>em</strong>elhança do que séculos antes Platão e Aristóteles haviam<br />
Roskam (2002: 175-189).<br />
69 De facto, a preocupação e o interesse pela formação <strong>dos</strong> jovens jamais o abandona, já<br />
que <strong>de</strong>la resultam quer a perfeição pessoal quer o b<strong>em</strong> da socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> geral. Ainda que este<br />
opúsculo seja consi<strong>de</strong>rado espúrio por muitos, partilhamos da opinião daqueles que o aceitam<br />
como autêntico. Sobre esta probl<strong>em</strong>ática, vi<strong>de</strong> Ziegler, (1951); Faure (1960: 18-22); Eyben<br />
(1996: 80) e Albini (1997: n. 2).<br />
70 De acordo com <strong>Plutarco</strong> (Moralia 439F, 452C-D), o objetivo primeiro da educação é<br />
incutir nos indivíduos sentimentos <strong>de</strong> prazer por uma boa ação e <strong>de</strong> vergonha por uma má; ou,<br />
se quisermos, assegurar a primazia da razão sobre as paixões.<br />
71 No entanto, para que o seu projeto educativo pu<strong>de</strong>sse ser impl<strong>em</strong>entado, era necessário que<br />
os encarrega<strong>dos</strong> <strong>de</strong> educação investiss<strong>em</strong> uma quantia <strong>em</strong> nada <strong>de</strong>spicienda, o que, certamente,<br />
excluía muitos jovens livres <strong>dos</strong> benefícios que adviriam <strong>de</strong> uma tal formação (Moralia 8D-E).<br />
Sobre o papel da riqueza enquanto condicionante da educação, vi<strong>de</strong> supra p. 137, nota 11 e p.<br />
138 nota 16.<br />
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