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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Do nascimento ao ingresso na vida ativa: a educação do político <strong>em</strong> Atenas<br />

Entre os trinta e os trinta e cinco, o estudo concentrar-se-ia na dialética, única<br />

disciplina que habilita o lósofo a ter a noção da essência <strong>de</strong> cada coisa, a alcançar<br />

o B<strong>em</strong> com os olhos da alma. É por sua inuência que o ca imune<br />

às seduções do po<strong>de</strong>r e honrarias políticas, às tentações do dinheiro e do prazer<br />

carnal. A dialética ensina, portanto, a abstração do mundo físico, que impe<strong>de</strong> os<br />

homens <strong>de</strong> alcançar o verda<strong>de</strong>iro conhecimento. No entanto, segundo Platão, esta é<br />

a fase mais perigosa, porque as pessoas que experimentam a dialética s<strong>em</strong> reunir<strong>em</strong><br />

as condições necessárias (a saber, mo<strong>de</strong>ração, rmeza e ida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada, R. 539b)<br />

acabam por fazer mau uso <strong>de</strong>la, uso esse que, <strong>em</strong>bora não se diga claramente,<br />

recorda o comportamento criticado aos sostas e seus discípulos:<br />

<br />

<br />

<br />

66 <br />

“Calculo que não passa <strong>de</strong>spercebido que os rapazes novos, quando pela<br />

primeira vez provam a dialética, se serv<strong>em</strong> <strong>de</strong>la como <strong>de</strong> um brinquedo,<br />

usando-a constant<strong>em</strong>ente para contradizer, e, imitando os que os refutam, vão<br />

eles mesmos refutar outros, e sent<strong>em</strong>-se felizes como cachorrinhos, <strong>em</strong> <strong>de</strong>rriçar<br />

e dilacerar a toda a hora com argumentos qu<strong>em</strong> estiver perto <strong>de</strong>les.”<br />

Uma vez concluído o estudo da dialética, os que prossegu<strong>em</strong> os estu<strong>dos</strong><br />

superiores <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser inseri<strong>dos</strong> no seio da comunida<strong>de</strong>, nomeadamente nos<br />

coman<strong>dos</strong> militares, durante cerca <strong>de</strong> quinze anos (ou seja, entre os trinta e<br />

cinco e os cinquenta anos), <strong>de</strong> modo a dar<strong>em</strong> prova das suas capacida<strong>de</strong>s e a<br />

adquirir<strong>em</strong> experiência prática (R. 539e-540a).<br />

Só terminada esta fase experimental, e já com cinquenta anos, to<strong>dos</strong> os<br />

que tiver<strong>em</strong> conseguido ultrapassar dignamente tão longo e árduo período <strong>de</strong><br />

formação, serão coloca<strong>dos</strong> nos lugares <strong>de</strong> chefe e guardião da cida<strong>de</strong>, e passarão<br />

a dividir o seu t<strong>em</strong>po entre o estudo e as obrigações cívicas. É que nessa altura<br />

já estarão aptos a usar o B<strong>em</strong> como paradigma para orientar o funcionamento<br />

da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os que nela habitam (cf. Pl. R. 413e-414a, 540b). Ou<br />

seja, só qu<strong>em</strong> consegue alcançar a sabedoria e a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um lósofo é<br />

verda<strong>de</strong>iramente «educado» e capaz <strong>de</strong> governar <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong>sinteressado e<br />

imparcial, tendo <strong>em</strong> vista o b<strong>em</strong> da cida<strong>de</strong> e <strong>dos</strong> cidadãos 67 .<br />

Importa-nos, por m e <strong>em</strong> jeito <strong>de</strong> conclusão, recordar o pensamento <strong>de</strong><br />

<strong>Plutarco</strong> acerca da educação 68 , na medida <strong>em</strong> que a sua «teoria» acaba por ser<br />

66 R. 539b; tradução <strong>de</strong> Rocha Pereira (2001).<br />

67 Também <strong>Plutarco</strong> (Moralia 7F-8A) consi<strong>de</strong>ra que atingiram a perfeição os homens<br />

capazes <strong>de</strong> unir e alternar a ativida<strong>de</strong> política com a losoa. Péricles enquadra-se nesse mo<strong>de</strong>lo.<br />

68 A propósito <strong>de</strong>sta t<strong>em</strong>ática, leia-se, por ex<strong>em</strong>plo, Faure (1960); Teixeira (1991: 223-236);<br />

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